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O mistério das meninas gigantes

Os membros da família Gehrmann, em Castro, não se vêem como "gente alta". Jéssica, com 16 anos e 1,66 m, afirma ter um altura "normal" . O irmão Conrado, de 14 anos e 1,86 m, diz que tem vários colegas da mesma altura, apesar de ser ele o pivô do time de basquete da cidade. A única a reconhecer a avantajada altura é a caçula Kelly, de 10 anos de idade e 1,64 m.

"Sou a mais alta da minha sala, mas acho ruim. Fico muito em destaque."

Os irmãos Gehrmann são a síntese da pesquisa Antropometria e Análise do estado nutricional de crianças e adolescentes no Brasil, divulgada pelo IBGE há duas semanas.

A pesquisa mostra que as crianças e jovens brasileiros estão ficando mais altos em todo o país, mas é na Região Sul que estão os meninos e meninas mais altos do Brasil.

As alturas médias mais altas estão no Rio Grande do Sul. Em segundo lugar aparece o Paraná. As crianças mais baixas do país estão no Amazonas.

As regiões Sul e Sudeste trazem ainda outra peculiaridade. Ao contrário do que ocorre nas demais regiões do país e ao contrário do que acontece com os meninos dos três estados do Sul, as meninas que moram na chamada zona rural tem, porcentualmente, um déficit de altura menor do que as que moram nas áreas urbanas (veja quadro ao lado). Ou seja, as meninas de Castro (como as irmãs Gehrmann) são mais altas que as meninas de Curitiba, por exemplo.

Explicações definitivas para o fato não existem, mas há hipóteses que, combinadas, podem desvendar os segredos das meninas gigantes que vêm dos campos do Sul.

O primeiro fator é o socioeconômico. Segundo os especialistas, uma má alimentação pode sim provocar danos ao crescimento. "Refeições completas e balanceadas garantem um crescimento natural e compatível com a idade", explica a professora de Educação Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Maria Gisele dos Santos.

A segunda explicação refere-se à carga genética. A Região Sul e mesmo a Sudeste contam com uma forte presença de descendentes de europeus, como holandeses e alemães no caso dos Gehrmann. "São etnias que têm um biótipo mais alto", lembra Maria Gisele.

A combinação das duas respostas pode explicar por que, afinal de contas, as meninas das áreas rurais da Região Sul são mais altas que as zona urbana.

Para a pediatra e endocrinologista do Hospital Pequeno Príncipe, Juliene de Carvalho, a resposta tem a ver com o processo histórico e social vivido pelos estados do Sul.

"Paraná e Rio Grande do Sul sofreram uma grande onda de migração de parte da população rural rumo às periferias das grandes cidades. Esse pessoal passou a viver em condições piores do aquelas vividas em suas cidades de origem. Essas condições econômicas podem desacelerar o crescimento das crianças e levar a média de altura da cidade para baixo", diz.

Mas, por que as garotas do campo são mais altas que o garotos do campo? A explicação pode estar no próprio ciclo de crescimento diferente entre meninos e meninas. "O ciclo ósseo das meninas se completa por volta dos 15 anos. O dos meninos, cerca de um ano depois", diz Juliene. O IBGE trabalha com jovens até 19 anos, mas de acordo com a pediatra, a idade cronológica, necessariamente não coincide com a óssea. "Um menino de 21 anos ainda pode estar em fase de crescimento."

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