Quando o bandeirante Baltazar Carrasco dos Reis morreu, poucos poderiam imaginar que o inventário dos bens de um dos fundadores de Curitiba estaria preservado quatro séculos depois. Pois o documento original de 1697 está cuidadosamente guardado em uma das incontáveis prateleiras do Arquivo Público do Paraná. E ele é só um dos 28 milhões de documentos que fazem parte da história do estado mantido no espaço.
São muitos mesmo: se fossem colocados em linha reta, os documentos formariam uma fila de mais de 4 mil metros. Mas um passeio de duas horas é capaz de esboçar uma trajetória histórica do Paraná. No período imperial do Brasil, podem ser observados e lidos documentos que davam a posse de escravos aos fazendeiros e até processos judiciais de escravos rebeldes que assassinaram seus senhores.
Do século 19, há o mais importante registro. Datado de 1853, está guardado no Arquivo Público o documento da criação da Província do Paraná. Até então, éramos uma das comarcas de São Paulo. A partir daív, o espaço abriga todos os documentos oficiais da então província. A papelada anterior refere-se à história das pessoas que habitaram e povoaram a região.
Inúmeros livros do final do século 19 e início do século 20 mostram a entrada dos imigrantes europeus em solo paranaense com nome, sobrenome, local de origem e ocupação de cada um. Também há registros do aldeamento indígena no estado entre os anos 1853 e 1892.
Pulando para o século 20, as 47,5 mil fichas da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) estão arquivadas no espaço. "A maioria é de relatos de pessoas que, entre as décadas de 20 e 80, foram acusadas de participar de grupos políticos contrários ao governo", conta a historiadora do Arquivo, Solange Rocha. Estão arquivados ainda relatos históricos de documentos ligados ao nazismo. "Aqui é onde são guardados e geridos todos os documentos que fazem parte do estado", ressalta Solange. O material possui cópias e também é digitalizado.
Memória viva
Outro ponto que leva o visitante a um passeio por relíquias documentais é a Casa da Memória, também em Curitiba. Ali está o manuscrito que criou a atual capital do estado, em 1693. Mapas que mostram como era o estado e a cidade no século a partir de 1748 demonstram a evolução territorial sofrida no decorrer dos séculos.
Sem falar de jornais e revistas que começaram a circular no final do século 19. Há ainda manuscritos da Câmara Municipal de Curitiba, detalhando as sugestões dos moradores ao Poder Legislativo a partir de 1847. O arquivo também conta com projetos arquitetônicos de antigas residências e fotos de shows históricos registrados no Teatro Paiol nos anos 70.
Biblioteca Pública e Museu Paranaense
Dois outros espaços abrigam arquivos que levam o visitante a uma viagem pela história. Na Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba, o acervo é extenso. São 854 títulos de jornais e 2.349 de revistas arquivados na Divisão de Documentação Paranaense. Lá está o primeiro periódico a circular no estado em abril de 1854 o 19 de Dezembro.
A chefe do setor, Josefina Palazzo Ayres, ainda ressalta que todo o material é microfilmado para garantir sua preservação. Na Biblioteca, há todas as edições de uma das mais importantes revistas que circulou por aqui: a Ilustração Paranaense (1927-1933). Livros de autores locais que tratam da história, cultura e geografia do estado também estão disponíveis nas prateleiras.
"Temos o primeiro Diário Oficial do Estado, de março de 1912. Antes eles usavam o jornal 19 de Dezembro para publicação oficial", ressalta Josefina.
No Museu Paranaense também é possível acompanhar a saga das publicações do estado, como jornais, revistas e almanaques. Há também mapas do Paraná desde 1876. Segundo a historiadora da instituição, Tatiana Takatuzi, existem objetos, como roupas e móveis do final do século 19 e início do século 20. "Também temos muitos documentos do século 18 que falam sobre a ocupação do Paraná. Além disso, temos um acervo de obras raras. Aos poucos estamos digitalizando o material", conta.