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Conflito

O Paraná na 2.ª Guerra Mundial

Imigrantes alemães, italianos e japoneses foram perseguidos e até enviados para pequenos “campos de concentração” no estado

Avião usado pelo Brasil durante a 2ª Guerra Mundial: saldo de 443 brasileiros mortos | Wikicommons/ U.S. Air Force
Avião usado pelo Brasil durante a 2ª Guerra Mundial: saldo de 443 brasileiros mortos (Foto: Wikicommons/ U.S. Air Force)
Clube Concórdia teve seu prédio entregue à Cruz Vermelha |

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Clube Concórdia teve seu prédio entregue à Cruz Vermelha

Perseguições, invasões, depredações, prisões e uma vida completamente vigiada. Enquanto a 2.ª Guerra Mundial (1939-1945) deixava um saldo de 55 milhões de mortos no mundo, os imigrantes estrangeiros habitavam seus próprios bunkers em solo paranaense. Alguns passaram meses ou até anos sem falar uma palavra sequer para não serem reconhecidos pelo sotaque. Outros não tiveram tanta sorte e foram parar atrás das grades ou mantidos em pequenos "campos de concentração" improvisados.

Antes mesmo do governo de Getúlio Vargas ceder às pressões dos Estados Unidos e declarar guerra à Alemanha nazista em agosto de 1942 – e, consequentemente, às nações que formaram o chamado Eixo, como Japão e Itália – o clima até então tranquilo mudara no Paraná. Curitiba, nessa época, estava tomada de imigrantes europeus que chegaram desde o final do século 19.

Mas um torpedeamento de navios brasileiros por tropas alemães provocou revolta na população contra os países do Eixo e consequentemente contra quem havia nascido por lá. Em março de 1942, 10 mil pessoas se reuniram na Praça General Osório reverberando palavras contra o nazismo e, em seguida, saíram pelas ruas depredando estabelecimentos que pertenciam aos alemães, italianos ou japoneses. Foi o que bastou para que as relações entre vizinhos deixassem de ser cordiais.

O governo determinou que todo comércio de imigrantes dessas etnias fossem fiscalizados. Os rádios chegaram a ser lacrados para não sintonizarem emissoras estrangeiras. A liberdade tinha cedido espaço para uma guerra até então invisível aos brasileiros.

Com a declaração oficial de guerra, a situação só caminhou para o pior. A historiadora Solange de Lima afirma que além das sanções oficiais do Estado, parte da população aderiu à causa da "defesa nacional" movida por ressentimentos e intolerância étnica. "Essas ações foram legitimadas pelo Estado, que confiscava os bens de imigrantes e os intimando a comparecer a uma das Delegacias de Ordem Política e Social (DOPS)", explica.

Só português

Deste modo, eram detidos todos os estrangeiros que falassem sua língua materna e que tivessem rádios, armas, revistas e livros em outro idioma que não o português. Na capital do estado, a polícia chegou ao cúmulo de apreender até almofadas por terem sido bordadas com as cores da bandeira germânica. Os idiomas estrangeiros foram banidos das ruas paranaenses. Aqueles que os utilizassem eram denunciados e presos. "Imigrantes e descendentes passaram a ser vistos como inimigos nacionais, chamados pejorativamente de ‘eixistas’ e ‘quinta-colunas’. O controle de suas vidas tornou-se uma questão de segurança nacional", avalia Solange.

Clubes foram depredados e imigrantes, ameaçados

Em Curitiba, alguns clubes pertencentes aos estrangeiros foram ocupados, como é o caso do Clube Concórdia, que teve seu prédio entregue à Cruz Vermelha e seus móveis, ao Clube Atlético Paranaense. O Clube Rio Branco, por sua vez, foi entregue ao Tiro de Guerra n.19. Diversas associações de etnias que "formavam" o Eixo foram ocupadas. Antes dessa intervenção, porém, muitos clubes já haviam sido alvo de ataques populares, como o Clube Italiano Garibaldi. O consulado do Japão em Curitiba, inaugurado em 1938, foi fechado em 1942 por determinação do Estado.

Escolas de origem estrangeira foram fechadas e o ensino em idiomas que não o português foi proibido. O cônsul alemão em Curitiba, Walter Zimmermann, e os funcionários do Consulado foram deportados para a Alemanha.

As famílias japonesas que moravam no litoral tiveram suas casas saqueadas e até incendiadas. A acusação era de que faziam sinais com lampiões para submarinos japoneses. Os bens deixados em Paranaguá, Antonina e Morretes jamais foram devolvidos aos imigrantes orientais.

"Concentração"

A delegacia de Antonina, em 25 de setembro de 1942, retirou 85 migrantes da cidade, sendo 53 japoneses, 10 alemães e 22 italianos. Do litoral, o "trem dos evacuados" partiu para Curitiba. Na maior parte, os japoneses que não encontraram lugar para morar foram levados para a Granja Canguiri. As famílias que foram para lá viviam em galpões rurais, que já haviam sido ocupados por cavalos e bois anteriormente. Foi ali que esses japoneses viveram a partir de 1942 até o fim da guerra, em 1945. Não há, ainda, informações de tortura física, entretanto permaneceram confinados nesse local que ficou conhecido como "campo de concentração". Os adultos foram obrigados a trabalhar na produção agrícola e as crianças foram separadas de seus pais e levadas para a Escola Agrícola Militar de Castro.

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