Às 19 horas do dia 29 de outubro de 1960, uma câmera de vídeo posicionada no pequeno estúdio do Edifício Tijucas, no Centro de Curitiba, marca o momento histórico da televisão no Paraná: foi ao ar o primeiro programa televisivo feito no estado. As pessoas deveriam sintonizar o canal 12, na TV Paranaense, atualmente chamada de RPCTV. Eram cerca de 300 aparelhos em toda a cidade, mas logo depois da transmissão inicial a população correu nas lojas para ter o seu televisor.
O Paraná foi o quarto estado do Brasil depois de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais a fazer a transmissão. Os experimentos começaram por volta de 1954, mas todos em circuito fechado. Somente em 1960, o empresário Nagibe Chede conseguiu a concessão do canal 12. A partir daí, a população do Paraná passou a se entreter na frente da telinha.
O arcebispo de Curitiba abençoou a primeira transmissão e, depois, o proprietário e as autoridades locais fizeram seus discursos. A imagem em preto e branco não atrapalhava em nada a curiosidade dos paranaenses em saber como funcionava o tal aparelho que já estava em diversos lugares do mundo. A programação começava às 18 horas e terminava às 23 horas. "O seriado que passou no dia da inauguração se chamava Susie, Minha Secretária Favorita. O acontecimento monopolizou a atenção dos curitibanos que acompanharam na casa de amigos, nas vitrines das lojas e nos clubes", afirma o comunicador Renato Mazânek, um dos primeiros funcionários da televisão e autor do livro Ao Vivo e Sem Cores.
Um dos primeiros cinegrafistas da antiga TV Paranaense, Claiton Pedro Foggiatto, lembra que a televisão mexia com a fantasia das pessoas, mesmo que, na época, estivesse apenas nascendo e apresentasse diversas programações de improviso. "Comecei a trabalhar lá com cerca de 13 anos. Fazíamos de tudo, era uma boa escola", conta.
Além de ser a pioneira no Paraná, a RPCTV foi a que começou a trabalhar inicialmente com o videoteipe, o que fez com que os programas pudessem ser gravados. Atualmente, continua sendo precursora: no ano passado, apresentou à população paranaense as primeiras transmissões digitais. "Também somos os primeiros a ter um sistema interno totalmente digitalizado, em que as imagens passam a ser dados e não fitas", explica o diretor de jornalismo, Wilson Serra. Para comemorar os 49 anos de existência, na próxima quinta-feira a RPCTV dá cara nova para a torre de transmissão, com uma iluminação especial (veja mais nesta página).
Curiosidades
Quando o advogado Francisco Cunha Pereira Filho comprou a televisão, por volta de 1970, Vandelino Gonçalves foi contratado para trabalhar no local. Hoje ele é um dos funcionários mais antigos tem 38 anos de casa e já fez de tudo e mais um pouco. Foi operador de microfone, câmera, produtor, coordenador e hoje é diretor de programação e produção. "Até pintar a torre eu já pintei. Brinco com o pessoal que aqui não deveria haver salário, porque é mais diversão do que trabalho. Sempre digo às pessoas que elas precisam fazer o que gostam", afirma.
Para Vandelino, um dos programas antigos que mais fizeram sucesso foi o de luta livre, que tinha nomes engraçados de lutadores como Bala de Prata, Joia Psicodélica e Mr. Argentina. "Eles lutavam de verdade no estúdio. Jogavam, um no outro, qualquer objeto que vinha pela frente. Uma vez, a água usada na luta foi parar na lâmpada que estava quente. Foi um estouro só", conta.
A programação, apesar de demorar para se tornar 24 horas, era bastante variada para a época: tinha telenovela, teleteatro, shows musicais e noticiário. Até artistas conhecidos na esfera nacional vinham a Curitiba para aparecer na antiga TV Paranaense: eles literalmente sentavam à mesa e jantavam enquanto uma câmera registrava tudo no pequeno estúdio do Edifício Tijucas.