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Entrevista

“O PCC faz guerrilha urbana”

Curitiba – O pesquisador norte-americano Norman Gall, diretor-executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, é um estudioso sobre o Brasil e suas distorções sociais. Com mais de 40 anos de experiência em pesquisa de campo e reportagens na América Latina, Gall conviveu com comunidades das periferias de cidades como Buenos Aires (Argentina), Santiago (Chile), Cidade do México e São Paulo.

Gall nasceu em Nova Iorque (Estados Unidos) em 1933 e está no Brasil desde 1977. Gostou tanto de como foi acolhido no país que decidiu se naturalizar brasileiro.

Como editor correspondente da revista Forbes, em São Paulo, escreveu sobre o desenvolvimento da economia mundial no Brasil, Japão, Europa, Estados Unidos, México, Venezuela, Peru, Argentina e Chile. Foi consultor do Banco Mundial e das Nações Unidas.

O Instituto Fernnand Braudel, que Gall criou em São Paulo, reúne pesquisadores em economia, política, educação, energia e segurança pública.

Na última sexta-feira, Gall conversou com a reportagem da Gazeta do Povo sobre os recentes ataques organizados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), em várias cidades do estado de São Paulo.

Gazeta do Povo – Com os novos ataques do PCC, podemos considerar que foi uma falha do estado em prevenir as ações ou que faz parte de uma tática coordenada da facção?Norman Gall – O PCC faz guerrilha urbana. E pelo que podemos ver será uma luta muito longa que vamos ter que enfrentar. A sociedade precisa se organizar para enfrentar o problema.

Como a sociedade pode se organizar para enfrentar a falta de segurança? Quando isso vai acabar? Acho que novos ataques vão voltar a acontecer. E acho que existem medidas para serem tomadas. O governo federal precisa assumir um papel importante à frente da questão de segurança, como criar o Ministério da Segurança Pública. O (presidente) Lula dobrou o número de ministérios no Brasil quando assumiu. Eram 18 na gestão de Fernando Henrique Cardoso e agora são 36. Tem ministério da Mulher, Cultura, Pesca. Segurança pública é mais importante que todas estas. A questão da segurança pública está presa ao Ministério da Justiça. O ministro é um advogado criminalista que tem muita coisa para cuidar. Inclusive quebrar galhos para os problemas jurídicos de Lula e dos escândalos do governo. Isso é incompatível com uma política séria de segurança. Por isso, proponho a criação de um ministério para segurança, com profissionais competentes e recursos para lidar com o problema. O país precisa de mais presídios federais, por exemplo. Não se pode cometer erros nesta área.

Quais erros?Você não tem que transferir 40, 50, 80 presos num lote. Transfere discretamente três, cinco, de surpresa, sem anunciar. Teremos menos motins. O preso ficará preocupado se o próximo a mudar será ele. Não se pode cometer erros táticos de se liberar visitas em presídios quando a polícia tinha informações que detentos estavam planejando rebeliões. As rebeliões deste ano foram as maiores da história de presídios no mundo. Precisa ter mais esquemas de inteligência.

Na sexta-feira passada, foi oficializada a ajuda do governo federal para combater as ações terroristas em São Paulo. O senhor acha que o governo paulista demorou em aceitar a oferta de ajuda da União? O governo federal tem muito pouco para oferecer. A guarda nacional é composta por policiais de vários estados. Não é bem coordenada. O governo federal está pouco aparelhado em inteligência. A polícia de São Paulo, com todos os defeitos, é a melhor do país. Estão fazendo política com o problema da segurança.

Na semana passada, quando os ataques do PCC reiniciaram, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, o candidato a governador de São Paulo José Serra e outros políticos do PSDB deram entrevistas denunciando uma possível ligação entre o PCC e o PT. Que os ataques seriam para abalar a candidatura de Geraldo Alckmin, que cresceu nas últimas pesquisas. O senhor acha isso possível?Não é uma questão de acreditar ou não. É preciso investigar. Bornhausen e Serra são homens sérios. É preciso investigar.

Em 2000, o senhor escreveu uma carta ao então presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a violência e a segurança pública no Brasil. O senhor acha que está na hora de enviar uma nova carta ao presidente?Acho que sim.

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