João Martins dos Santos e João Araújo: produtores da região da Lapa participam de projeto| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Genética

Desafiadora, clonagem de espécies pode melhorar produtividade

Os avanços obtidos na genética também podem ser aplicados às araucárias, em uma das linhas de pesquisas mais desafiadoras para os cientistas. Se, em outras espécies, de um galho é possível obter uma nova árvore, com a araucária não é tão simples. Desvendar esses mistérios pode contribuir muito para a formação de uma nova geração de árvores, mais fortes e produtivas.

O professor Flávio Zanette, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), dedicou anos de pesquisa para entender como poderia fazer a enxertia de araucária, produzindo mudas melhores. Demorou um pouco, mas a observação do professor ajudou a determinar o melhor andamento do projeto. Ao pegar um galho para mesclar em uma nova muda, Zanette percebeu que a planta não crescia para cima, mas para os lados. Isso porque um galho de araucária não se transforma em tronco. Para obter melhores resultados, ele descobriu que só poderia usar pedaços de ramo até uma determinada fase do desenvolvimento.

Com isso, a expectativa é produzir plantas que deem frutos mais precocemente e também poder determinar o gênero da árvore para a distribuição de mudas para plantio em linha.

Já o melhoramento genético, por meio de técnicas de seleção, é uma das pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Florestas. Segundo a pesquisadora Valderês Aparecida de Sousa, o estudo, que começou no ano passado e vai até 2016, deve encontrar indivíduos geneticamente superiores em relação a produtividade, qualidade da madeira e resistência a pragas e doenças.

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Sustância

O pinhão é muito consumido na Região Sul do país. Foi a partir de um estudo realizado em 2010, com consumidores do fruto, que a pesquisadora Rossana Catiê Bueno de Godoy, da Embrapa Florestas, decidiu analisar o potencial nutritivo do pinhão e seu uso na elaboração de novos produtos processados. A nova pesquisa começou neste ano, vai se desenrolar até 2015 e envolve cerca de 60 pessoas e 14 instituições parceiras.

Tão procurado nesta época do ano, o pinhão pode deixar de ser uma simples semente que vai bem na chapa. Isso porque a araucária, árvore-símbolo do Paraná, é destaque em alguns laboratórios. As florestas desse tipo de árvore já cobriram 40% da área do estado. Hoje, só resta 0,8% da cobertura original. Para recuperar esse bioma, e ajudar na conservação e exploração da espécie, institutos investem em estudos diversos, que vão desde a avaliação nutricional do pinhão até o seu melhoramento genético.

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Mas não é só de alta tecnologia que se fazem as pesquisas com araucária. Algumas iniciativas mais simples prometem dar bons resultados, como é o caso do projeto Estradas com Araucárias, parceria do governo do estado com empresas e instituições de ensino. A ideia é simples: empresas compram mudas e distribuem para produtores, que cuidam das árvores. Estes ganham a propriedade sobre o plantio, e as empresas têm a chance de compensar as emissões de carbono.

Enquanto em laboratórios avançam os estudos de clonagem e enxertia das árvores e as araucárias se multiplicam nas estradas rurais, do outro lado se discute como expandir a área de cobertura de florestas e mostrar que é viável – ambiental e economicamente – explorar a espécie. O engenheiro agrônomo e professor da UFPR Flávio Zanette estuda a araucária há 27 anos. Ele lembra que essas pesquisas são fundamentais para o futuro da espécie, aliado a uma revisão da legislação específica.

Nesse caso, a intenção não é tornar as áreas remanescentes desprotegidas, mas regulamentar o plantio e exploração comercial da árvore como forma de fomentar a produção de pinhão e até de madeira. O secretário estadual de Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida, reforça a necessidade de ampliar as pesquisas em araucária e fazer ajustes no marco legal. "A araucária é um ser vivo, não uma peça de museu", afirma.

Revisão da lei

Para mudar essa realidade, a secretaria já prepara uma revisão da legislação em vigor, atuando em duas frentes: a definição do momento em que o pinhão pode ser extraído e o corte da árvore. "A extração do pinhão a partir de um determinado momento deixa o pior acontecer, que é o cidadão subir e apanhar a pinha ainda verde. O pinhão tem que ser apanhado quando ele cai", afirma Cheida.

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Já em relação ao corte de araucária, o secretario defende a total preservação daquelas árvores nativas, mas admite que é preciso avançar no que diz respeito ao plantio. "O que foi plantado pelo agricultor ter de ser tratado assim, permitindo até o corte daqui a 20, 30 anos, se a família quiser usar o terreno. Se não fizermos isso, estamos decretando o fim da araucária", resume.

Oportunidade chamada araucária

Há pouco mais de um ano, João Martins dos Santos, de 50 anos, plantou 200 mudas de araucária em um pedaço de terra que mantém em Faxinal do Paiol, na Lapa, Região Metropolitana de Curitiba. O espaço em que ele já havia cultivado pequenas lavouras está arrendado, e Santos largou o campo pela construção civil, mais rentável.

No entanto, viu no projeto Estradas com Araucárias uma boa oportunidade. Para ele, a possibilidade de poder explorar a plantação, com a venda de pinhão e de madeira, foi um incentivo. "Já tinha interesse em plantar, mas como fazer isso se depois não poderia mais mexer?", conta.

O projeto, avalizado pelo governo do estado, serve para que grandes empresas patrocinem o plantio de araucária como forma de compensarem a emissão de carbono. Por enquanto, apenas a Loga Logística está participando. A empresa já financiou o plantio de 14 mil mudas na Lapa, Irati e em Caçador, em Santa Catarina. No total, 62 agricultores toparam iniciar o plantio de araucária.

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A empresa compra as mudas do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e repassa para os produtores, que plantam as árvores em linha na beira de estradas rurais. Durante 21 anos, a empresa vai pagar um valor equivalente a quantidade de mudas plantado para os produtores: R$ 5 por árvore, não podendo ultrapassar o volume de 200 pinheiros.