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Profissão perigo

O pior inimigo dos carteiros, dos lixeiros ...

Dulcinéia Silva já perdeu a conta das vezes em que foi atacada por cães: "O pior, entretanto, é o descaso dos donos." | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Dulcinéia Silva já perdeu a conta das vezes em que foi atacada por cães: "O pior, entretanto, é o descaso dos donos." (Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo)

Os funcionários dos Correios em Curitiba sofreram 119 ataques de cães no primeiro semestre de 2008. Segundo a chefe de segurança do trabalho dos Correios, Rose Maria Manosso, a freqüência tem aumentado ano a ano: "Em 2005 foram 163 casos; em 2006, 193 e, no ano passado, 217". Além dos Correios, outras empresas como Copel, Sanepar e Cavo (concessionária do serviço de limpeza pública) também registraram crescimento no total de ocorrências.

Segundo Gerson Luiz Gorski, técnico em segurança do trabalho da Copel, em 2006 foram dois os acidentes e no ano passado o número de ataques a leituristas saltou para nove. Na Sanepar, somente neste ano, foram registrados 28 casos. De acordo com a Cavo, nos últimos anos o número de ataques de cães a garis também aumentou: em 2006 foram registrados 16 casos, em 2007 foram 30 e desde o início deste ano 19 coletores de lixo já sofreram com os ataques.

Franklin Glaudistony da Silva, 23 anos, trabalha como gari há três anos e conta que, por duas vezes, ficou cinco dias afastado do trabalho por ter sofrido ataques de cães. "Na primeira vez, o portão da casa estava aberto e o cachorro solto. Assim que pulei do caminhão ele apareceu do nada e me mordeu na mão. Na segunda vez, foi só eu pegar o lixo e um pastor alemão pulou nas minhas costas", afirma. Ele conta que os dois ataques aconteceram no bairro Uberaba, durante o dia.

Dulcinéia Maria Aparecida da Silva tem 33 anos e faz a entrega de cartas há quatro. Ela diz que já perdeu a conta de quantas vezes foi atacada por cães que estavam soltos nas ruas ou que escaparam, mas o caso mais grave aconteceu quando foi atacada por um cão de uma casa que atende com freqüência. "Um rotweiller escapou e, sem latir, atravessou a rua e me atacou. Eu caí e acabei quebrando a mão." Após quatro meses de afastamento, Dulcinéia conta que precisou receber acompanhamento psicológico para continuar trabalhando. "Essa situação foi traumatizante, tive muita dificuldade para cuidar dos meus filhos pequenos, com a mão quebrada não podia dar banho ou penteá-los. Não quero passar por isso de novo." Entretanto, a pior memória que tem é do descaso dos moradores: "Alguns são irresponsáveis, não aceitam que o cão seja uma ameaça e não fazem nada para evitar esse tipo de problema."

Código

Com o objetivo de diminuir os ataques, a Sanepar criou um código que informa o funcionário, pelo próprio equipamento de leitura, quando há cães agressivos nas casas visitadas. O artifício é utilizado diariamente pela leiturista Patrícia Gonçalves Silva, 25 anos. Mas ela conta que o aviso do equipamento não foi suficiente para livrá-la de ataques. Patrícia, que já foi mordida por dois cães em ocasiões diferentes, diz que costuma avisar os donos dos cães quando não consegue realizar a leitura dos hidrômetros, mas que o alerta nunca é bem-vindo. "Quando admitem que são donas dos cães, as pessoas chegam a dizer que o cão tem é que proteger mesmo a casa e que errado é quem se aproxima."

Controle da população canina é deficiente

Para tentar controlar a população de cães, a prefeitura utilizou o método da carrocinha até 2005. Hoje, por causa da Lei de Crimes Amientais, a carrocinha só recolhe cães que apresentem perigo à sociedade. Mesmo assim, parte da população ainda vê o antigo método como solução, o que é um equívoco, segundo Carla Molento, médica veterinária e professora de Bem-Estar Animal da Universidade Federal do Paraná.

Ela lembra que, por mais de três décadas, a prefeitura tentou controlar a população canina com a carrocinha, que exterminava os cães capturados na rua se não aparecesse um dono para buscá-los, mas não houve sucesso. "É uma questão muito clara: a presença de cães nas ruas só deixa de acontecer quando o cidadão entende o que é guarda responsável", diz.

A assessoria de comunicação da prefeitura informa que combate o aumento desordenado de cães e gatos com ações de esterilização em locais que apresentem uma grande concentração de animais nas ruas. Além disso, realiza um trabalho educativo que, segundo o diretor do Centro de Saúde Ambiental da Secretaria de Saúde de Curitiba, Moacir Gerolomo, deve ser intensificado. "O cão mais perigoso é aquele que tem casa e acesso à rua. Fizemos uma pesquisa e descobrimos que 97% dos cães que estão nas ruas têm dono", afirma.

Mas a responsabilidade não é somente dos proprietários. Segundo a psicóloga Rosana Vicente Gnipper, presidente do Movimento SOS Bicho, o poder público precisa fazer mais. "O que a prefeitura tem feito são só campanhas focadas, isoladas. É preciso implantar um Plano de Proteção aos Animais, com medidas mais abrangentes."

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