A educadora Eliane Regina Titon Hotz – que acaba de assumir a coordenação do Projeto Equidade – tem 27 anos de rede municipal de ensino e é oriunda da educação especial. Com larga experiência na gestão de projetos educacionais, ele tem no currículo a implantação de programas para alunos de alta dotação, na prefeitura, hoje uma referência. Confira trechos da entrevista à Gazeta do Povo.
Falava-se que o Projeto Equidade daria resultados a médio e longo prazo. Vocês erraram?
Os resultados foram de fato muito satisfatórios. Havia a compreensão de que os êxitos viriam da ação dos professores e dos atores da comunidade. A escola que traçou uma meta e atividades para atingi-las, avançou. Quanto maior a adesão do colegiado, quanto mais aproximação com as comunidades, melhores os índices.
Vocês tinham um projeto e o risco de que, com o tempo, a rotina das escolas vencesse a proposta. Como conseguir que os professores não repetissem as táticas de sempre?
Acredito que conseguimos bons resultados porque houve coragem de mudança, além de um potencial inovador das escolas. Elas pararam e analisaram a sua situação. Vejo uma contrapartida, a contrapartida do esforço para entender o funcionamento de cada escola, o que tinha de bom, o que poderia melhorar e a disponibilidade para isso acontecesse. A tudo se some a criatividade e o potencial dos estudantes em responder ao estímulo que receberam.
Mas em algumas escolas vocês precisaram plantar esse desejo de mudança...
Isso ocorreu com a sensibilização, para plantar o entendimento do princípio de equidade. Aconteceu algo interessante: alguns professores viram sua própria trajetória de vida ao pensar nessa palavra. Se tudo começa com desejo de mudança, se você passa isso para o teu estudante, se acredita que ele tem esse potencial e pode usar para o bem comum e pode usar essa identidade, a gente tem esse sujeito como componente de uma sociedade que pode mudar.
Como vencer a resistência?
Construindo junto. A escola não vai sozinha. Há parcerias com outros setores, o apoio dos núcleos de educação. É um projeto, mas para não ser passageiro, temos de entender que é de todos.
Parte do segredo do “Equidade” está em terem trabalhado a palavra até a exaustão, como fazem as ONGs internacionais, que batem na tecla, até todos os envolvidos serem donos do conceito?
A apropriação do sentido de equidade foi fundamental. Havia um consenso de que na medida em que damos condições iguais, qualquer um pode chegar onde quiser. Mas tivemos de refletir sobre o fato de que mesmo com essas condições, muitas pessoas não têm condições de seguir. Entendido isso, o projeto passou a ser incorporado na rotina da escola. Sabemos como nunca que as condições são diferentes, mas que todos podem atingir o que lhe é de direito.
As estatísticas sobre cada colégio e seu entorno ajudaram a fazer uma antropologia do ambiente escolar?
Os dados técnicos vieram como ponto de partida para uma reflexão, para nos levar a uma condição de mudança. Digo que o dado técnico serviu para recolher cada comunidade esquecida. Em alguns casos, sim, os dados ajudaram a enxergar as comunidades. Havia sintomas já instalados, como a baixa frequência, mas ninguém tinha parado para entender porque isso acontecia. Quando fazemos o estudo da construção histórica da escola, percebemos que isso pode mudar. Que a história que temos não é determinante.
Pode-se dizer que o grande aprendizado do Projeto Equidade é lidar com o pai ausente?
Pelo relato que vem das escolas, a nova relação com os pais dos alunos surge muito forte. São relatos de parceria. De tão boas, as escolas querem validar um número maior de participações.
E de agora em diante...
Queremos recolher experiências que são boas e fazer um intercâmbio dessas histórias, num grande seminário. Temos de manter vivo o princípio de “cuidado” na escola.