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Árvore da discórdia

O problema que vem do céu

Pinus ocupa hoje 10% da porção paranaense do vale do ribeira. Ambientalistas vêem desconfiguração da paisagem

O pinus tornou-se problema para todo o Sul do Brasil, dizem ambientalistas. Espécie invasora que exige cuidados por se propagar à revelia. Aos dez anos de idade ela já produz sementes que podem se deslocar com o vento num raio de 100 quilômetros, provocando a "contaminação biológica". Laura Jesus de Moura e Costa nasceu na cidade de Doutor Ulysses, cresceu em Cerro Azul e desde cedo acompanhou a desconfiguração do verde nativo do Vale do Ribeira, causado pela ação do vento ou do homem. Indignada, ela criou uma organização não-governamental, o Centro de Estudos, Defesa e Educação Ambiental (Cedea).

Na mocidade, Laura veria os anos de 1970 chegarem como um trator sobre as matas do Rio Ribeira, o último grande manancial a meio caminho das metrópoles de São Paulo e Curitiba. A devastação refreou na década seguinte graças às ações dos ambientalistas. Veio então a Rio-92 (o encontro mundial sobre meio ambiente realizado na capital fluminense em 1992). Mas em vez de se estancar a sangria verde, o que se viu foi exatamente o contrário. O pinus avançou ainda mais e hoje ocupa 10% da porção paranaense do Vale do Ribeira. "As empresas destróem para obter mais lucro, o que é uma burrice, pois estão destruindo a si mesmas", diz Laura.

Estrago

Não há pesquisas sobre a real dimensão do estrago que o pinus pode estar causando no Ribeira, mas estudos feitos com esta espécie em outras regiões permitem uma analogia. Diretora executiva do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, a engenheira florestal Sílvia Ziller fez tese de doutorado sobre a invasão de pinus nos Campos Gerais do Paraná, entre 1997 e 2000. Sílvia aponta quatro grupos principais de impactos. O mais aparente é a desconfiguração da paisagem, dada a intromissão de espécies exóticas. Deste impacto decorre outro, de caráter cultural, já que por falta de conhecimento há quem pense que o pinus é planta nativa.

Contudo, os efeitos mais graves são de caráter prático. A conversão de ambientes naturais em monocultura de pinus sufoca as plantas nativas e afeta a biodiversidade. A perda de flora leva à perda de fauna pelas mudanças do habitat natural, já que os animais perdem as plantas que servem de alimento. O reflexo mais crítico recai sobre a água, fonte primeira de toda a biodiversidade. O pinus cresce muito rápido e por isso consome mais água, levando à perda de nascentes em função de plantios próximos de riachos e olhos d'água. A ocupação de pinus em encostas de cursos de água provoca erosão e assoreamento dos rios, com conseqüências negativas à qualidade da água e ao habitat de espécies aquáticas nativas.

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