Curitiba – O deputado federal Fernando Gabeira (PV- RJ) é um dos parlamentares que mais se destacaram durante a crise política no Congresso Nacional, no último ano. O parlamentar discutiu abertamente com o então presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, atacou membros do seu ex-partido (PT) envolvidos no escândalo do mensalão e abriu seu voto nos processos de cassações promovidos pela Câmara. Se não bastasse, bateu de frente com a chamada direita brasileira e com antigos companheiros da esquerda.

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Todo esse processo fez de Gabeira um dos nomes cotados para disputar a Presidência da República. A candidatura própria do PV, porém, inviabilizaria as coligações estaduais e ameaçaria o partido de não atingir um porcentual mínimo de votos exigido pela cláusula de barreira. Candidato à reeleição para a Câmara, Gabeira afirma que o PV não tem um presidenciável, mas tem, sim, um projeto nacional.

Gazeta do Povo – O Partido Verde terá candidato à Presidência da República?Fernando Gabeira – Não. Nossa opção é dar liberdade aos estados para formarem suas coligações.

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E nos estados, com quais legendas o PV deve se aliar?Estamos atuando muito com o PPS, PDT e PSol, procurando evitar um pouco essa dicotomia PSDB e PT. Nossas coligações mais importantes estão sendo feitas com o PPS.

O senhor é candidato à reeleição?Sim. Ainda tenho alguns projetos inacabados que eu pretendo acabar nessa legislatura. Deixei algumas coisas pendentes porque essa legislatura acabou ficando marcada pelas investigações, pelo combate à corrupção.

Que projetos são esses?Eu defendi a quebra do monopólio das telecomunicações. O objetivo era colocar os telefones nas mãos de todo mundo. Agora o objetivo é colocar o computador nas mãos de todo mundo. Isso pode acontecer incentivando e facilitando as importações, ampliando a redução dos impostos. Tivemos aquela MP do Bem. Podemos ampliá-la. Acredito que esse é um caminho muito importante para garantir esse acesso aos computadores.

O PV é apontado como um partido de esquerda, mas é uma legenda que lida com alguns temas bastante caros à esquerda tradicional como a redução de impostos e a opção por um estado menor, mais enxuto. Como o deputado se coloca em relação a isso?Quando o PV surgiu na Alemanha e começou a se desenvolver na Europa, o slogan era o seguinte: não estamos nem na direita nem na esquerda, estamos na frente. A idéia era exatamente mostrar novos caminhos que a bipolaridade ideológica não permitia.

E o PV no Brasil tem mostrado esses caminhos?Tem. Mas precisa fazer mais. Precisamos desmontar alguns mitos da esquerda. Como por exemplo o mito de que o problema da violência se resolve com justiça social. Isso é um mito porque leva muito tempo. A violência se resolve com uma série de medidas técnicas e profissionais no campo da segurança. O combate à pobreza vem, mas vem depois. Outra coisa é o papel do estado. Quando nós brigamos com a esquerda mais tradicional na quebra do monopólio da telefonia, das telecomunicações, fomos acusados de sermos neoliberais. Estávamos entregando o patrimônio público à iniciativa privada. Mas eu repeti uma coisa naquele momento que é clássica no marxismo chinês. Não importa se o gato é preto ou branco, importa que ele pegue o rato. Não importa se a telefonia é pública ou privada, importa que ela funcione.

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São vários as disputas que temos com a esquerda brasileira. Mas é evidente que temos várias divergências com a direita também.

O candidato a governador do Paraná pelo PV, Melo Viana, tinha como bandeira quando concorreu à prefeitura de Curitiba a redução das secretarias e dos cargos públicos. Essa é uma linha do senhor também e do partido de modo geral?Racionalizar os gastos públicos é fundamental. Grande parte dos problemas nacionais ocorrem devido à má-utilização dos recursos públicos. A Câmara dos Deputados e o Senado servem de exemplo. Cada casa tem uma grande estrutura de televisão. É importante ter uma televisão legislativa. Mas uma só para as duas casas estava de bom tamanho. No caso da saúde, por exemplo, eu trabalhei com os índios guarani-caiuá. Eu percebi que ali naquele caso, 90% dos recursos paravam em atividades meio e só 10% eram para atividade fim. Você não pode esperar que o Brasil se mova para sustentar uma base estatal pouco eficiente, ao custo de uma carga tributária brutal. Precisamos de uma reforma tributária.

Qual é a relação do PV com os movimentos sociais, com o Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST)?Eu condenei, estava lá, falei com as lideranças e condenei. Eles quebraram todos os mecanismos do jogo democrático e nós não podemos aceitar. Reconheço entretanto que a imagem do Congresso está muito debilitada. É necessário mudar o processo. Eles invadiram achando que iam ganhar apoio popular, mas isso não aconteceu.

Mudar a imagem do Congresso seria possível com a Reforma Política?Sim. Mas a reforma foi mínima. Precisamos começar com uma discussão interna: acabar com o voto secreto no Congresso e reexaminar a relação dos parlamentares com o Orçamento, que acaba virando uma fonte permanente de corrupção.