O jeito de lidar com o impacto causado por um empreendimento bilionário mudou muito no lapso de tempo que separa os dois megaprojetos industriais da Klabin no Paraná: entre 2006 e 2008 ocorreu a expansão da fábrica de papel em Telêmaco Borba, e em 2012 começou a obra de uma nova planta fabril de celulose em Ortigueira, distantes 15 quilômetros uma da outra. Enquanto na década passada eram visíveis os efeitos no aumento da criminalidade e na especulação imobiliária desenfreada, algumas medidas tomadas recentemente foram capazes de minimizar os aspectos negativos no entorno do Projeto Puma – que ganhou esse nome por causa dos filhotes do felino encontrados em áreas de reflorestamento da Klabin em 2004 e 2005, mas também poderia fazer referência à velocidade em que a obra, com 12,5 mil funcionários, se desenvolve.
Uma das primeiras ações em Ortigueira foi priorizar o emprego para paranaenses, tentando evitar a vinda de muitas pessoas de partes distantes do Brasil. Sem vínculos locais, muitos trabalhadores da obra anterior acabaram se envolvendo em brigas ou outros tipos de violência. Na época da expansão da fábrica, Telêmaco Borba chegou a ser anunciada como a cidade com mais emprego disponível no Brasil, atraindo desempregados do país todo. Já Ortigueira praticamente só recebe funcionários com vaga garantida. No período de terraplanagem, 85% dos empregados eram paranaenses. Agora que a obra atingiu 75% de execução, 53% dos trabalhadores são do estado – sendo metade deles das três cidades de abrangência da fábrica (Imbaú, Ortigueira e Telêmaco Borba).
Até o formato dos alojamentos dos funcionários mudou. Antes cada quarto tinha cerca de oito trabalhadores – agora são três. Para não sobrecarregar o sistema público de saúde, a Klabin só contratou empresas que oferecem plano de saúde para os empregados. Ortigueira tem 23 mil habitantes e um dos piores índices de desenvolvimento humano do Paraná – situação que pode ser agravada se não houver preocupação com impactos sociais.
Um dos efeitos mais difíceis de conter é o aumento dos aluguéis. A cidade não tem imóveis para atender a demanda. O secretário municipal de Administração, Altair Campos de Sousa, alugava um imóvel por R$ 300 e o repassou para uma empresa envolvida na obra da fábrica por R$ 1,5 mil. Para tentar diminuir a pressão sobre o mercado imobiliário local, a Klabin está construindo 92 apartamentos para funcionários que vão trabalhar na operação da indústria.
Efeitos
A família Santos sente os prós e contras da instalação da Klabin. Verônica aumentou a renda lavando roupas para os operários e o marido, Maicon, deixou o emprego em uma mecânica para trabalhar como autônomo, consertando carros nos arredores do alojamento. Contudo, o casal e os quatro filhos moram numa área de ocupação porque não conseguem mais pagar aluguel.
Para tentar monitorar os efeitos da obra, reuniões mensais são realizadas com autoridades da área de saúde, educação e policial, e são acompanhados cerca de dez indicadores. A Klabin informa que quando foi percebido um aumento nos casos de furtos em Ortigueira e de roubos em Telêmaco Borba, ações foram tomadas, como intensificação de rondas policiais, para conter a situação. A reportagem pediu acesso aos números e indicadores, mas não recebeu as informações.
Ao conceder um empréstimo bilionário para a obra, o BNDES exigiu uma parte do recurso fosse aplicada em projetos sociais. Devem ser destinados R$ 21 milhões para ações que visem melhorar a qualidade de vida no entorno da indústria. O investimento na fábrica de celulose de Ortigueira é de R$ 5,8 bilhões e a projeção é de que comece a operar em março de 2016.
Confira no infográfico imagens e dados que explicam o contexto de Ortigueira: AQUI