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Quase toda semana, uma família miserável perde o pouco que tem. Incêndios, enchentes, deslizamentos ou vendavais com freqüência desabrigam moradores de favelas e áreas de invasão no Brasil inteiro. Nessa hora, poder público e sociedade costumam se eximir da responsabilidade com o argumento da "tragédia anunciada". Afinal, ninguém mandou essa gente construir seus barracos em terrenos invadidos, usá-los como depósito de papel e papelão e usar "gatos" para puxar energia elétrica.

Na sexta-feira, a Gazeta do Povo mostrou o incêndio que destruiu o barraco de uma família na Vila Guarituba, em Piraquara. A diferença é que resolvemos voltar lá no dia seguinte, para mostrar as vidas por trás do drama corriqueiro – ao menos dessa vez.

No início da tarde de quinta, o fogo destruiu o casebre de madeira onde viviam o catador de papel Juliano Rodrigues França, a esposa, Meri Beatriz Dias Ribeiro – grávida de 9 meses – e os três filhos, de 5, 6 e 9 anos. Os cinco passaram a noite de quinta para sexta espalhados pelo chão dos diminutos cômodos da casa do pai de Juliano, Ivan Carlos Godói de França, que fica na frente do barraco que pegou fogo. Detalhe: na pequena e casa de tijolos contruída por Ivan já moram ele, a mulher, um tio dela de 75 anos e cinco filhos.

Ivan e a família se mudaram da Vila Zumbi, em Colombo, para a Vila Guarituba há sete anos. Na época, o barraco de dois cômodos destruído na quinta já existia. Aos poucos, graças às habilidades de pedreiro, Ivan foi construindo a frente da casa. "Fiz como o joão-de-barro, aos pouquinhos: pegando um pouco de tijolo aqui, um saco de cimento ali...", relembra.

Na sexta-feira ele não apareceu na obra em que está trabalhando, na Rua Pedro Ivo, para ajudar a arrumar as coisas na parte que restou da casa. "Eu não contava com mais essa tragédia", conta ele, que há menos de quatro meses perdeu um filho de 19 anos, atropelado. "O jeito é ver se alguém se sensibiliza, para ajudar a gente a reconstruir o que perdeu."

A família, que sobrevive com uma renda conjunta de aproximadamente R$ 700, precisa de material de construção, roupas e até comida. "Tudo o que a gente tinha estava lá", conta Meri, cujo filho deve nascer até o fim do mês. Eles não são contemplados por nenhum programa social, seja da prefeitura, governo estadual ou federal. Perguntamos que futuro Ivan vê para aquelas oito crianças à sua volta. "O futuro só a Deus pertence", resigna-se, como se elas não dependessem dele.

* Doações à família França podem ser entregues na Rua Anália Martins da Silva, 14, em Guarituba, Piraquara. Contatos pelo telefone (41) 3653-4462.

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