Trecho da Avenida Anita Garibaldi com a faixa central raspada: binário com a Washington Mansur, no bairro Ahú, começa a funcionar hoje. Segundo a prefeitura, sistema melhora fluidez do tráfego| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

"Os dois lados têm razão"

Moradores, comerciantes e parte dos especialistas têm o pé atrás com os chamados sistemas binários e seus tão anunciados benefícios. Para o coordenador do curso de arquitetura e urbanismo da Pon­ti­fícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Carlos Hardt, os moradores têm razão em reclamar da eliminação dos estacionamentos em sua rua e do aumento do número de veículos transitando.

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Veja qual o objetivo do sistema que utiliza duas ruas paralelas
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A partir de hoje mais um novo binário (ruas paralelas, com sentidos opostos) começa a funcionar em Curitiba. Trata-se do sistema implantado na Avenida Anita Garibaldi e Rua Washing­ton Mansur, no bairro Ahú. A nova intervenção faz parte de uma política sistemática da Diretoria de Trânsito de Curitiba (Diretran) e do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (Ippuc). A despeito das reclamações de moradores – que veem sua rua antes calma ser invadida pelo tráfego intenso de carros – e dos comerciantes das ruas principais – que perdem um dos sentidos passando em frente ao seu estabelecimento –, os binários vieram para ficar. De acordo com a prefeitura, eles fazem parte do planejamento da cidade. De 2004 para cá, foram implantados nada menos que 35 binários em Curitiba.

Na última semana, outro importante binário começou a ser construído: Agamenon Magalhães/ Roberto Cichon. A obra, que faz parte da implantação da Linha Verde Norte, vai interligar os bairros Cristo Rei, Tarumã e Capão da Imbuia. Depois de recuperar a Avenida Afonso Camargo, oito quilômetros de pistas, nos dois sentidos das avenidas Nossa Senhora da Luz e Humberto Castelo Branco, estão sendo revitalizados. O investimento é de R$ 1,5 milhão. Além dos outros binários da Linha Verde Norte, outros sistemas deste tipo estão previstos na cidade.

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Críticas

Enquanto a "binarização" da cidade continua a todo vapor, cresce proporcionalmente a crítica a esse tipo de política de trânsito. "Nós fomos pegos de surpresa. Não fomos avisados de nada. Quando vimos, estavam raspando a sinalização que tinha. Tira­ram os estacionamentos de um dos lados da via. O sentido agora da Anita Ga­­ribaldi será só centro-bairro. Vamos perder os clientes que estão saindo de carro para ir para o Centro", reclama Ângela Suave Oliveira, proprietária da Papelaria Garatuja, localizada na Anita Garibaldi.

Perto dali, na Washington Mansur, rua que passará a funcionar em binário com a Anita Garibaldi, a aposentada Au­­gusta Camargo Trevisani, 70 anos, está preocupada com a travessia de sua rua e com volta do supermercado: como as vagas de estacionamento na frente de sua residência foram suprimidas, ela terá dificuldades para descarregar as compras do táxi. "Vai virar uma rápida", reclama. "Dizem que vai valorizar a minha propriedade, mas o que vale mais: minha saúde e a segurança de atravessar ou o dinheiro?", questiona.

Defesa

De acordo com o engenheiro do Ippuc José Álvaro Twardowski, os binários melhoram a fluidez do trânsito, a segurança, estruturam o sistema viário da região, eliminam conversões conflitantes à esquerda e facilitam a travessia de pedestres. "Os binários vêm desde a época do Plano Diretor", diz. Segundo ele, o planejamento de Curitiba está fundamentado em trinários (vias rápidas em sentidos opostos a uma quadra de distância de uma via exclusiva ao transporte coletivo, ladeada por duas vias locais em sentidos opostos).

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Desde então, para fazer a ligação entre os importantes trinários da cidade (eixos estruturais), passou-se a implantar binários. "Foi-se repetindo para vias de menor porte em toda a cidade. Até hoje aplicamos para facilitar a mobilidade. Hoje, os binários são feitos para diminuir o tempo de viagem dos deslocamentos", avalia.

Curitiba não está sozinha na aplicação deste tipo de sistema, segundo Twardowski, mas a capital paranaense o faz de forma diferente. "Outras cidades também fazem, mas não no contexto no Plano Diretor, normalmente", afirma. Segundo ele, a despeito das críticas, em Curitiba os binários beneficiam, além do motorista do transporte individual, os usuários de transporte coletivo, os ciclistas e os pedestres. "Todo projeto que nós fazemos é pensando neste conjunto. Ao fazermos o projeto, fazemos um check-up da via como um todo: calçadas, buracos, rampas", diz.

A gerente operacional da Diretoria de Trânsito de Curitiba (Diretran), Guacira Civolani, confessa que na área técnica não há consenso sobre os benefícios dos binários. "Mas o órgão público tem que dar uma solução ao trânsito. Os binários são inevitáveis. São fruto do crescimento da cidade."