Superstição
Histórias de assombrações se espalharam pela região
Um vulto de mulher vestida de branco acena para as embarcações. Gemidos são ouvidos na velha delegacia. Na igreja, o pela vila. Crianças enterradas no cemitério vagam pela região. Histórias de assombrações não faltam na "Vila Fantasma", como se convencionou chamar Ararapira.
"É um desrespeito total aos nossos antepassados e a nós", diz Hamilton Xavier, presidente da Associação dos Moradores do Marujá, comunidade da Ilha do Cardoso em São Paulo, e ex-morador de Ararapira.
Para ele, as histórias são todas inventadas. "O pessoal que mora aqui sempre está por lá para visitar a igreja ou o cemitério e nunca viu nada disso. É uma exploração da boa fé das pessoas e não contribui em nada para a preservação do lugar", diz Xavier.
R$ 140 é o valor
cobrado por donos de lanchas e voadeiras para levar visitantes à Vila de Arapirara (ida e volta). A exigência é que o passeio seja realizado no mínimo por quatro passageiros. Apesar de ser uma área de preservação permanente, não há qualquer restrição para chegar até o local.
O desmoronamento silencioso da encosta avança, levando ao fundo do canal lagunar as antigas construções em ruínas. Diariamente, uma parte importante da história do Paraná e do Brasil é arrastada pelas águas, sem qualquer ação emergencial para conter a devastação persistente. Considerada pela Unesco Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera, e Patrimônio Natural e Histórico do Paraná desde 1970, a Vila de Ararapira, pertencente ao município de Guaraqueçaba, está hoje abandonada e totalmente desprotegida.
Ameaçada por uma persistente erosão, influenciada pelo movimento das marés e pela abertura do canal artificial, a vila também está exposta a ação de vândalos. São "aventureiros" atraídos por histórias de assombrações na "Vila Fantasma", localizada no Parque Nacional de Superagüi.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão responsável pelo parque nacional, cita o local em sua página na internet, referenciando-o "como comunidade fantasma". Porém, o ICMBio reforça que o passeio não é incentivado "pela falta de segurança e por não contar com infraestrutura para visitantes".
Com a entrada permitida, qualquer pessoa com acesso a uma embarcação pode chegar à vila. Não há qualquer critério de controle, em contraste com a publicidade oficial que apregoa a preservação permanente da área.
O acesso pode ser feito a partir de Paranaguá, em uma viagem de duas horas em uma voadeira, canoa de alumínio com motor de popa. O roteiro mais procurado, no entanto, é a partir da cidade paulista de Cananéia em um trajeto que avança pela Baía de Trapandé.
Erosão
A primeira visão de vila é de uma encosta coberta de tijolos desmoronados. Ezequiel Oliveira, dono de uma pausada em Marujá, no território paulista, e ex-morador de Ararapira, conta que a erosão já levou mais de 70 metros da planície costeira. "A água levou mais de vinte construções que havia ali", diz ele, lembrando que no meio dos desmoronamentos desapareceram prédios históricos da vila. "Os armazéns que abasteciam a região sumiram do dia para noite", conta Oliveira.
Na vila, a velha igreja construída no século 18 permanece com as portas abertas. Um dos sinos de bronze ainda pode ser badalado. O outro desapareceu. Uma pequena capela de madeira abriga a imagem de São José, colocada lá recentemente. A imagem original, que datava da época da fundação da igreja, foi roubada no inicio do ano 2000, segundo ex-moradores.
Povoado viveu ápice entre 1940 e 1950
São José da Marinha de Ararapira, primeiro nome da vila, foi o mais importante entreposto comercial entre São Paulo e Curitiba na rota marítima entre as duas capitais, no início do século 20. Após uma disputa entre os dois estados pela vila, em 1922 a área foi considerada território paranaense.
Ponto estratégico de abastecimento, em 1930, o povoado já contava com energia elétrica fornecida por um motor a diesel, coisa rara até em áreas dos grandes centros urbanos, e sediava um cartório e uma delegacia, além da velha igreja construída no final do século 19.
Segundo relatos de historiadores, a vila teve seu ápice de desenvolvimento entre as décadas de 40 e 50. Armazéns comercializavam desde farinha, arroz e café, produzidos na vila, até tecidos importados da Inglaterra.
Nos anos 70 e 80, o governo federal estimulou a criação de búfalos na região. Os animais pisoteavam as plantações dos moradores da vila, motivo pelo qual muitos se mudaram. Neste período quase 500 pessoas deixaram a vila.
Na década de 90, com a criação do Parque Nacional do Superagüi, a região foi transformada em área de proteção ambiental, proibindo plantações e inviabilizando a presença de quem ainda resistia em morar na vila. Em 2000, a última moradora do local morreu durante uma viagem de barco com destino a Paranaguá. O local ficou completamente desabitado.
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