Memória
Além de obras, atelier também recebe parentes de escultor
Além de encontrar em Almirante Tamandaré o vasto acervo deixado por João Turin (1878 1949), não é raro encontrar parentes do escultor visitando o local. Há duas semanas, a sobrinha-neta do escultor, Miriam Bonie Turin, 62 anos, esteve no atelier para reviver as histórias de sua família. "Vim a Curitiba e aproveitei a viagem para conhecer o atelier. Nasci um ano depois da morte do meu tio e as histórias dele permeiam nossa família", disse.
João Turin é considerado o precursor da escultura no Paraná e é considerado um artista animalista, sendo inclusive premiado no Salão Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro em 1944 e 1947. Em suas obras é comum encontrar representações indígenas e de onças. "Ele [Turin] achava que tínhamos de falar sobre a nossa Terra e, para entendê-lo, é preciso visitar Porto de Cima [em Morretes], onde nasceu", diz Maurício Appel.
Desde o último mês de julho, um vazio toma conta de quem passa pela Praça Tiradentes, em Curitiba. Essa sensação, porém, está com os dias contatos. Até novembro, o Atelier João Turin devolverá ao local a estátua removida para ser restaurada após décadas sob sol e chuva. O trabalho, porém, vai muito além da reconstrução da peça que homenageia o líder da Inconfidência Mineira. Em um galpão de Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba, centenas de obras do artista passam por cuidadosa restauração por meio da técnica conhecida como cera perdida. Depois do processo, o legado do pai da escultura paranaense será exposto em, pelo menos, seis capitais brasileiras e algumas cidades mundiais, como Bruxelas, Nova York e Paris.
O processo começou com a identificação das obras do escultor espalhadas pelo país. Após um longo período e com o apoio da Família Lagos, o Atelier João Turin colocou em seu radar 343 peças. "A cada quinze dias, descobrimos uma peça nova. Estamos catalogando todas e negociando aquelas que podem ser restauradas", diz Maurício Appel, gestor do acervo.
Além da estátua de Tiradentes, outras duas importantes peças que pertencem ao espaço público curitibano estão no atelier: a Águia de Haia que acompanha o estátua de Rui Barbosa na praça Santos Andrade, e a Luar do Sertão, instalada na rotatória ao lado do Palácio 29 de Março, sede da prefeitura. Todas elas serão restauradas por meio do processo "cera perdida", técnica criada há três mil anos e que permite recuperar e esculpir as obras em seus pequenos detalhes.
Cada peça exige um procedimento específico, mas, em linhas gerais, a restauração começa com jatos de polímeros de vidros, técnica utilizada para limpar a peça. Em seguida, as fissuras e buracos abertos pelo tempo são soldados com bronze cuja liga tem de se aproximar o máximo possível daquele utilizado originalmente na peça.
Algumas obras exigiram trabalho redobrado seja por conta da severa ação do tempo ou mesmo pelo falta de informação de quem as guardava. Segundo Appel, a representação de Turin da Santa Ceia, por exemplo, recebeu indevidamente cinco camadas de tinta. "Nessas situações temos de tirar com cuidado camada por camada para não estragar a obra", explica.
Além da restauração, as obras também ganham um molde com camadas de silicone, resina e tecido para, em seguida, serem recriadas em um forno elétrico de cera. O equipamento instalado em Almirante Tamandaré, segundo Appel, é ecologicamente correto e raro no país existiriam apenas outros cinco em território nacional.
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