Meio século de exercício rotineiro
Os mais de 50 anos dedicados à prática de atividades físicas renderam bons frutos ao casal Eneyda e Ezequiel Pereira (foto). Hoje, podem dizer que a "fatura" cobrada pelo tempo não foi tão alta: uma ou outra dor de coluna, aliada a uma indisposição passageira, típica da idade ele está com 83, e ela, com 88 anos. "Quase nada", como dizem, para quem caminha todos os dias, religiosamente, pelo Barque Barigui; viaja pelo mundo em cruzeiros; recebe amigos para jantares; e vive com a agenda cheia de compromissos.
No caso do engenheiro químico, o hábito remonta à juventude: quando criança, não perdia uma pelada com os amigos em frente do local onde hoje é o Shopping Curitiba, no Centro. Na adolescência, trabalhava de bicicleta fazendo cobranças. Ao se casar com Eneyda, encontrou uma companheira para o "vício bom" de nunca parar quieto.
Enquanto moraram em Santos (SP), o hábito de caminhar na praia era sagrado todos os dias, por 13 anos. Em Divinópolis (MG), onde viveram 12 anos, o hábito não foi abandonado: às seis da manhã Pereira iniciava uma hora de ginástica por dia. "Fazia muito exercício de alta performance, até me machucava." Depois, era a hora de jogar futebol com o time de barbeiros da cidade. Ainda duas vezes por semana, à noite, também jogava com amigos.
A esposa, por sua vez, caminhava todos os dias e ainda acompanhava o marido em corridas de dois quilômetros, diariamente. Há 20 anos, após a aposentadoria do engenheiro, voltaram para Curitiba e escolheram o Barigui para continuar com os exercícios.
Saiba mais
De que forma os exercícios físicos beneficiam o organismo
Ao ser exigido, o corpo "entende" que é preciso se preparar para futuras exigências que podem surgir nos dias seguintes e cria uma série de adaptações para aguentar o "tranco".
Mais músculos passam a trabalhar e a ganhar força. Isso vale para qualquer musculatura do corpo, desde a da perna e do abdômen até o próprio coração.
Tendões e cartilagens engrossam para oferecer proteção ao arcabouço muscular e ósseo, resultando em maior resistência.
Com o impacto, o organismo retém melhor o cálcio, essencial para evitar perda de massa óssea.
Com o coração batendo mais forte, aumenta-se a vazão do sangue, e, com isso, os vasos sanguíneos se dilatam para evitar o aumento da pressão. Há maior fluxo de oxigênio para as células, que se renovam constantemente.
Há gasto de energia, que queima o açúcar, assim como o colesterol ruim, que entope vasos e artérias.
Há a liberação de neurotransmissores como a endorfina e adrenalina, que aumentam, respectivamente, a sensação de bem-estar e de autoestima, prevenindo quadros depressivos;
Sem preguiça
Dicas para começar a se exercitar
Invista em atividades aeróbicas (caminhadas, dança, ginástica) e também na musculação, para evitar a perda de massa muscular.
Mesmo quem pratica exercícios físicos num horário específico pode ser considerado sedentário quando, no dia a dia, é uma pessoa inativa. Evite o elevador e prefira as escadas. Tente não ficar sentado por mais de meia hora no trabalho e ande por pelo menos um minuto.
Evite usar o carro para ir a lugares perto de casa, e não pare o carro próximo dos locais de entrada e de elevadores, para andar um pouco até o local.
Alimentação
Prefira legumes e verduras crus, para evitar a perda de nutrientes durante o cozimento.
Tome leite e faça a ingestão de derivados lácteos, que ajudam na absorção de cálcio.
Coma peixes de água fria como cavala, atum e salmão, além de sementes como chia, nozes e linhaça, ricos em ômega 3, lipídio que evita a oxidação das células, em especial as do coração e do cérebro.
Evite alimentos ricos em sal, que aumentam a pressão e causam retensão de líquidos e açúcar, que pode levar à diabete.
Não coma frituras e não reaproveite óleo, pois o já usado é rico em acroleína, um aldeído rico em susbtâncias cancerígenas.
Fontes: Helena Maria Loureiro (nutricionista); Rogério Fermino (educador físico) e Paulo Zogaib (médico fisiologista)
Se o sedentarismo fosse eliminado da rotina de adolescentes e adultos em todo o mundo, a expectativa de vida dessas pessoas poderia aumentar em até quatro anos. E caso isso fosse associado a uma alimentação balanceada e ao banimento do cigarro, elas viveriam até nove anos a mais (8,8 para ser mais exato). Essa é a conclusão de um estudo feito pelas universidades de Harvard e da Carolina do Sul (EUA) e publicado em julho pela revista científica The Lancet, que pela primeira vez quantificou de forma expressiva e com populações de todos os continentes os benefícios de uma vida mais ativa.
A pesquisa revela que 30 minutos de exercícios moderados praticados cinco vezes por semana, ou 20 minutos de exercícios intensos, feitos três vezes na semana, seriam capazes de evitar 9% de todas as mortes prematuras ocorridas no mundo, cujas principais causas são enfarte, diabete tipo 2, câncer de mama e de colo do útero, e acidente vascular cerebral (AVC).
INFOGRÁFICO: Diminuição das doenças quando se larga o sedentarismo
O grupo mais beneficiado é o dos que estão na casa dos 30 anos. Caso a pessoa passe do grupo dos inativos para o dos ativos nessa faixa etária, o ganho varia entre 2,6 e 4,2 anos a mais. Já quem está na faixa dos 50 e muda de comportamento nessa fase da vida pode ganhar de 1,3 a 3,7 anos, o que demonstra que o quanto antes se iniciar uma atividade física, maiores as chances de se prolongar a vida e com qualidade, o que é essencial, já que os avanços da Medicina não chegam a impactar tão positivamente se a pessoa não levar uma rotina saudável e regrada.
De acordo com o pesquisador da Universidade Federal de São Paulo e fisiologista do esporte Paulo Zogaib, a explicação para tais benefícios é simples: "O corpo foi concebido para o movimento tal qual uma máquina." Ou seja, ao praticar atividades físicas, o organismo está cumprindo a função para o qual foi desenhado. Neste caso, o sedentarismo vai contra a própria natureza um hábito que atrofia os músculos do corpo, contribui para a depressão, gera uma série de doenças e vai minando o organismo célula por célula, em um verdadeiro processo suicida.
Vida saudável
A alimentação também tem um papel fundamental, assim como manter hábitos saudáveis não fumar e não beber álcool em excesso, por exemplo , de acordo com o estudo. Não fumantes acima dos 50 anos têm em média uma expectativa de vida entre 2,3 e 2,5 anos a mais, chegando a um nível entre 4,2 e 8,8 anos a mais em alguns grupos. No caso dos que deixaram de ser obesos e adquiriram peso normal para seu tipo físico, o ganho variou entre 0,7 e 1,1 ano a mais, indo de 0,5 a 0,7 ano para aqueles acima dos 55 anos.
"Já se conhece uma série de alimentos que podem tanto aumentar a expectativa de vida, ao retardar o processo de morte das células por oxidação, até aqueles que contribuem para doenças, que vão do câncer hepático e de mama até o enfarte e o AVC", diz a professora de Nutrição da UFPR e de Tecnologia em Gastronomia da PUCPR Helena Maria Loureiro. Entre os que fazem mal, acúcar, sal e fritura se sobressaem, enquanto peixes, sementes, frutas e verduras têm o efeito contrário: contribuem para a renovação celular como os grandes aliados dos exercícios físicos.
Com exercícios, organismo evita a morte das células
Ao movimentar-se, o organismo humano coloca em ação um exército minúsculo e invisível responsável por injetar combustível em todos os órgãos e tecidos e prolongar a nossa existência: o das mitocôndrias, presentes no interior das células. Por meio dos exercícios, que instigam o corpo a trabalhar, as mitocôndrias crescem de tamanho, algumas se remodelam e novas são criadas por meio da renovação causada pelo movimento. Se ocorre o contrário quando o corpo não trabalha e ainda é bombardeado por substâncias tóxicas e gordurosas, provenientes do cigarro, alimentação e álcool , as células entendem que sua vida útil acabou e programam a própria morte, chamada de apoptose celular. Com a perda das células, ocorre também uma perda de função dos tecidos, o que explica as doenças e a falência dos órgãos.
Nunca é cedo ou tarde demais
O processo de envelhecimento do corpo ainda começa a ser desvendado pela ciência, mas é certo que ele ocorre quase que simultaneamente ao nascimento. Todos os dias, perdemos milhões de células e, com isso, um pouco da funcionalidade dos órgãos, embora até os 25 anos isso seja imperceptível e não cause problemas. A partir dessa idade, o indivíduo começa a perder mais células do que ganha. Aos 30, inicia-se o processo de perda de massa muscular, e aos 50, o corpo começa a mandar a conta de tudo o que foi feito com ele até então.
Por isso, nunca é cedo demais para começar a se exercitar, diz o fisiologista Paulo Zogaib. "As crianças estão cada vez mais sedentárias. Passam horas na frente da tevê, comem alimentos muito gordurosos, não brincam na rua", exemplifica. O estudo da revista Lancet apontou, inclusive, que quatro em cada cinco adolescentes entre 13 e 15 anos são inativos. "É importante ter contato com o esporte o mais precocemente possível, por menor que a criança seja. Será o esporte que se adaptará à idade dela, e não ela ao esporte", explica.
O mesmo vale para quem chegou à meia idade ou ultrapassou a barreira dos 60 anos. O estudo mostra que é possível sentir a diferença proporcionada pela mudança de comportamento em qualquer fase da vida, inclusive na velhice. Nessa época, o corpo sofre um processo acentuado de perda da massa muscular, chamado sarcopenia. As quedas se tornam frequentes e a recuperação é mais lenta. Por isso, os especialistas sugerem caminhadas, para melhorar a oxigenação, aliadas à musculação, para dar força aos músculos.
Segundo o professor Rogério Fermino, do Grupo de Pesquisa em Atividade Física e Qualidade de Vida da PUCPR, a prática de esportes diminui a incidência de depressão nessa fase da vida e faz com que o idoso tenha autonomia por mais tempo.
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