Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Saúde

O segredo da longevidade

Estudo comprova: praticar atividade física, comer bem e parar de fumar aumentam em quase nove anos a expectativa de vida

Marcão vibra após marcar diante do Ceará | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Marcão vibra após marcar diante do Ceará (Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo)

Se o sedentarismo fosse eliminado da rotina de adolescentes e adultos em todo o mundo, a expectativa de vida dessas pessoas poderia aumentar em até quatro anos. E caso isso fosse associado a uma alimentação balanceada e ao banimento do cigarro, elas viveriam até nove anos a mais (8,8 para ser mais exato). Essa é a conclusão de um estudo feito pelas universidades de Harvard e da Carolina do Sul (EUA) e publicado em julho pela revista científica The Lancet, que pela primeira vez quantificou de forma expressiva e com populações de todos os continentes os benefícios de uma vida mais ativa.

A pesquisa revela que 30 minutos de exercícios moderados praticados cinco vezes por semana, ou 20 minutos de exercícios intensos, feitos três vezes na semana, seriam capazes de evitar 9% de todas as mortes prematuras ocorridas no mundo, cujas principais causas são enfarte, diabete tipo 2, câncer de mama e de colo do útero, e acidente vascular cerebral (AVC).

INFOGRÁFICO: Diminuição das doenças quando se larga o sedentarismo

O grupo mais beneficiado é o dos que estão na casa dos 30 anos. Caso a pessoa passe do grupo dos inativos para o dos ativos nessa faixa etária, o ganho varia entre 2,6 e 4,2 anos a mais. Já quem está na faixa dos 50 e muda de comportamento nessa fase da vida pode ganhar de 1,3 a 3,7 anos, o que demonstra que o quanto antes se iniciar uma atividade física, maiores as chances de se prolongar a vida – e com qualidade, o que é essencial, já que os avanços da Medicina não chegam a impactar tão positivamente se a pessoa não levar uma rotina saudável e regrada.

De acordo com o pesquisador da Universidade Federal de São Paulo e fisiologista do esporte Paulo Zogaib, a explicação para tais benefícios é simples: "O corpo foi concebido para o movimento tal qual uma máquina." Ou seja, ao praticar atividades físicas, o organismo está cumprindo a função para o qual foi desenhado. Neste caso, o sedentarismo vai contra a própria natureza – um hábito que atrofia os músculos do corpo, contribui para a depressão, gera uma série de doenças e vai minando o organismo célula por célula, em um verdadeiro processo suicida.

Vida saudável

A alimentação também tem um papel fundamental, assim como manter hábitos saudáveis – não fumar e não beber álcool em excesso, por exemplo –, de acordo com o estudo. Não fumantes acima dos 50 anos têm em média uma expectativa de vida entre 2,3 e 2,5 anos a mais, chegando a um nível entre 4,2 e 8,8 anos a mais em alguns grupos. No caso dos que deixaram de ser obesos e adquiriram peso normal para seu tipo físico, o ganho variou entre 0,7 e 1,1 ano a mais, indo de 0,5 a 0,7 ano para aqueles acima dos 55 anos.

"Já se conhece uma série de alimentos que podem tanto aumentar a expectativa de vida, ao retardar o processo de morte das células por oxidação, até aqueles que contribuem para doenças, que vão do câncer hepático e de mama até o enfarte e o AVC", diz a professora de Nutrição da UFPR e de Tecnologia em Gastronomia da PUCPR Helena Maria Loureiro. Entre os que fazem mal, acúcar, sal e fritura se sobressaem, enquanto peixes, sementes, frutas e verduras têm o efeito contrário: contribuem para a renovação celular como os grandes aliados dos exercícios físicos.

Com exercícios, organismo evita a morte das células

Ao movimentar-se, o organismo humano coloca em ação um exército minúsculo e invisível responsável por injetar combustível em todos os órgãos e tecidos e prolongar a nossa existência: o das mitocôndrias, presentes no interior das células. Por meio dos exercícios, que instigam o corpo a trabalhar, as mitocôndrias crescem de tamanho, algumas se remodelam e novas são criadas por meio da renovação causada pelo movimento. Se ocorre o contrário – quando o corpo não trabalha e ainda é bombardeado por substâncias tóxicas e gordurosas, provenientes do cigarro, alimentação e álcool –, as células entendem que sua vida útil acabou e programam a própria morte, chamada de apoptose celular. Com a perda das células, ocorre também uma perda de função dos tecidos, o que explica as doenças e a falência dos órgãos.

Nunca é cedo ou tarde demais

O processo de envelhecimento do corpo ainda começa a ser desvendado pela ciência, mas é certo que ele ocorre quase que simultaneamente ao nascimento. Todos os dias, perdemos milhões de células e, com isso, um pouco da funcionalidade dos órgãos, embora até os 25 anos isso seja imperceptível e não cause problemas. A partir dessa idade, o indivíduo começa a perder mais células do que ganha. Aos 30, inicia-se o processo de perda de massa muscular, e aos 50, o corpo começa a mandar a conta de tudo o que foi feito com ele até então.

Por isso, nunca é cedo demais para começar a se exercitar, diz o fisiologista Paulo Zogaib. "As crianças estão cada vez mais sedentárias. Passam horas na frente da tevê, comem alimentos muito gordurosos, não brincam na rua", exemplifica. O estudo da revista Lancet apontou, inclusive, que quatro em cada cinco adolescentes entre 13 e 15 anos são inativos. "É importante ter contato com o esporte o mais precocemente possível, por menor que a criança seja. Será o esporte que se adaptará à idade dela, e não ela ao esporte", explica.

O mesmo vale para quem chegou à meia idade ou ultrapassou a barreira dos 60 anos. O estudo mostra que é possível sentir a diferença proporcionada pela mudança de comportamento em qualquer fase da vida, inclusive na velhice. Nessa época, o corpo sofre um processo acentuado de perda da massa muscular, chamado sarcopenia. As quedas se tornam frequentes e a recuperação é mais lenta. Por isso, os especialistas sugerem caminhadas, para melhorar a oxigenação, aliadas à musculação, para dar força aos músculos.

Segundo o professor Rogé­­rio Fermino, do Grupo de Pes­quisa em Atividade Física e Qualidade de Vida da PUCPR, a prática de esportes diminui a incidência de depressão nessa fase da vida e faz com que o idoso tenha autonomia por mais tempo.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.