Arquiteto, urbanista e ex-governador, Jaime Lerner falou de mobilidade no Smart City Business América, congresso que acontece em Curitiba. Nesta entrevista, ele fala do sistema de BRT, do metrô e soluções para a capital.
O sistema de BRT de Curitiba vive em meio a críticas de usuários. A atual gestão defende o metrô dizendo que no eixo norte-sul ele está esgotado. O senhor concorda?
O sistema não está esgotado. Ele está sendo muito mal operado. Foi pensando para operar numa frequência a cada um minuto. Mas hoje para em cada esquina. Com isso, os tubos vão enchendo e colocam a culpa no custo. Daí a população começa a desistir de usar.
Hoje, temos estações-tubo superlotadas em horários de pico. Como o senhor avalia isso?
Tivemos uma queda na qualidade na última década. Mas não consigo ver um biarticulado parando de esquina em esquina. Daí o tubo vai enchendo. Tentaram transformar o tubo numa biblioteca. É bom, importante. Mas ali não é para isso. É para ficar no máximo um ou dois minutos e embarcar.
Mas é possível que esse sistema volte a ser elogiado como antes?
É uma qualidade que pode ser facilmente retomada, mas temos de continuar avançando. O que era vanguarda tem de continuar sendo vanguarda. Hoje, temos a possibilidade de avanço muito grande na eletrificação do sistema e no desenho do veículo. O BRT não pode ter operação mal feita, porque se não a população não vai mudar. Ninguém muda para algo que não é melhor. Não é só implantar corredores prioritários, mas uma rede bem detalhada e operada.
O nome do senhor é muito associado ao BRT. Imagina que quem tirar a obra do metrô do papel se tornará o pai do metrô em Curitiba?
O sistema de transporte não pode ser político, tem de ter qualidade. Querer transformar o metrô num agente político é infantilidade. Tem de ver se o custo é viável, quanto tempo vai demorar. Vamos sacrificar gerações e gerações para fazer meia linha e a cidade pagar cada vez mais, subsidiando operação? Não é insistir em ser pai, tem de melhorar a vida das pessoas. Também não dá para falar em criar algo que já existe há 150 anos. Todo mundo pensa que o metrô vai passar na frente da casa, que será uma rede completa. Usam o imaginário de cidades como Londres, Paris. Mas não é o caso. É meia linha. Querem vender a Angelina Jolie e vão entregar uma velha de 150 anos atrás.
E qual o futuro do transporte público então?
Estamos indo para sistemas híbridos e elétricos que vão levar uma qualidade muito grande para a população. São sistemas mais sustentáveis. Mas precisamos desenvolver supercapacitadores. A bateria de um ônibus não pode ser como a de barbeador. A essência é dar ao BRT a mesma eficiência do metrô. É ‘metronizar’ o ônibus. Mas com a vantagem de implantá-lo em três anos, com menores custos. Temos uma proposta de veículo guiado sobre pneus para Curitiba que custaria um quinto do valor da linha do metrô.