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Compare as apreensões da PF em 2006 e 2008 |
Compare as apreensões da PF em 2006 e 2008| Foto:

Cidade começa a ser lembrada

É de forma lenta e tímida. Mas o poder público começa a virar os olhos para Guaíra e região. "Depois da chacina, as coisas começaram a acontecer por aqui", diz o delegado da Polícia Federal na cidade, Érico Saconato. A chacina a qual Saconato se refere é a do dia 22 de setembro, quando 15 pessoas foram assassinadas em uma chácara do município. No episódio estavam todos os ingredientes da nova rota da criminalidade: dívidas por drogas, vingança e um homicídio não-esclarecido pela polícia devido à falta de tempo e estrutura.

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O contrabando subiu o rio

Toda a região que vai de Santa Helena, no Oeste do Paraná, até Icaraíma, no Noroeste do estado, forma a nova rota de entrada de produtos contrabandeados, drogas e armas no Brasil. E essa terra da contravenção já tem sua capital. É Guaíra, cidade de pouco mais de 28 mil habitantes, colada nas co-irmãs Mundo Novo, no Mato Grosso do Sul, e Salto Del Guairá, no Paraguai.

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A estrutura criminosa existente em Guaíra age em mais de uma frente. Em volume e em pessoal, a maior delas é a do cigarro. Informações da Delegacia da Receita Federal de Foz do Iguaçu dão conta de que o total de cigarros contrabandeados pela região de Guaíra supera o que passa por Foz. "Essa região é, possivelmente, a maior porta de entrada de cigarros contrabandeados não do Brasil, mas do mundo", diz Saconato. Juntas as delegacias da PF em Guaíra e Foz apreenderam cerca de 1,6 milhão de pacotes de cigarro em 2008.

A passagem de cigarros de Salto para Guaíra acontece de dia, de noite, do lado da balsa, ou em dezenas de portos clandestinos localizados às margens do Rio Paraná. Em Guaíra, do dono do restaurante ao dono do barco que faz passeios turísticos pelo Lago de Itaipu, existe um certo consenso sobre a "importância" do cigarro. "Desde que passem só cigarros, não fazem mal a ninguém." A frase é quase um mantra nas ruas da cidade e indica um certo distanciamento do contrabandista de cigarro de quem trafica drogas ou armas. O raciocínio é o seguinte: quem não estiver puxando cigarro vai acabar traficando drogas ou sair assaltando.

Tal constatação leva, mais uma vez, ao Rio de Janeiro, onde já funciona uma lógica perversa em que a diminuição no consumo de drogas, seja pela baixa procura ou como reflexo das ações policiais, gera uma escalada de assaltos e arrastões no centro. Em Guaíra já funciona assim. "Quando há operações articuladas da Polícia Federal ou mesmo do Exército que impedem o contrabando, registramos um aumento no número de assaltos", explica o delegado da Polícia Civil em Guaíra, Pedro Lucena.

"O problema é que o contrabando de cigarro é crime. Do Paraguai até os grandes centros urbanos, onde são consumidos, há uma estrutura criminosa atuando. Esses grupos estão armados e podem disputar território na força. São a base de toda criminalidade", diz Luiz Antônio Sibin, procurador da República em Dourados (MS), cuja jurisdição inclui Mundo Novo.

Maconha e cocaína

A segunda força do crime está na maconha. Juntas, as delegacias de Guaíra e Cascavel apreenderam 38,5 toneladas de maconha neste ano. "Se a gente sair todo dia para estrada, todo o dia vai apreender maconha. Lutamos contra algo muito grande, mas é exatamente no golpe financeiro que podemos enfraquecer os traficantes", diz o delegado da Polícia Federal em Cascavel, Algacir Mikalowski. Embora utilizem rotas parecidas e até os mesmos atravessadores, são grupos distintos que negociam maconha e cigarro. O traficante da maconha costuma usar mais da violência para intimidar seus subordinados e para livrar-se de grupos rivais. Foi numa disputa dessas que se originou a maior chacina da história do Paraná, com 15 mortos em Guaíra, no dia 22 de setembro deste ano.

O terceiro grupo atuante na região de Guaíra é o que trabalha com a cocaína, seja no crack, seja na pasta-base – a fórmula bruta que ainda precisa de refino –, ou na cocaína pura, que tem o maior valor comercial. Essas quadrilhas, na maioria das vezes, também têm ligações com o tráfico de armas e atuam em parceria com grandes grupos criminosos como o PCC e o Comando Vermelho. "Eu venho batendo nessa tecla repetidamente. As grandes organizações criminosas têm suas ramificações nessa região. Elas estão atuando firme e temos exemplos disso. Na chacina, uma das vítimas era da Favela da Rocinha e tinha ligações com o ADA (Amigos dos Amigos). Em março desse ano, o pagodeiro Walter Tomas Ignácio um dos cabeças do PCC, foi preso em Salto del Guairá. Isso não vem do nada. Isso acontece porque é aqui que eles se abastecem de drogas e armas", afirma o promotor Marcos Andrade.

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