Sem previsão
Para quem ainda sonha em ver o bonde voltar às ruas de Curitiba, a resposta não é nada estimulante. Ainda não há planos para revitalização desse exemplar, o que poderia custar cerca de R$ 300 mil, segundo Jorge Eustáquio da Costa, coordenador da manutenção predial da Urbs. "Precisaria de um bom marceneiro para a restauração necessária", diz ele. Segundo a assessoria da companhia, motivada pela reportagem e pelo aniversário de meio século da Urbs, a ideia é realizar em breve um projeto que viabilize uma parceria pela restauração.
Maria-fumaça
Em setembro deste ano, uma relíquia de 1884, a maria-fumaça tipo Baldwin, fabricada nos Estados Unidos, volta aos trilhos pelas mãos do grupo da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária do Paraná. O trajeto inicial, em Curitiba, será de cerca de três quilômetros, com duração de meia hora. A pré-reserva custa R$ 5 e está aberta no site http://abpf-pr.blogspot.com.br/, no ícone Trem Cultural.
Bondinho "de mentira"
Quem fotografa o bonde vermelhinho da Rua XV de Novembro achando que está registrando um marco histórico da cidade está redondamente enganado. Aquele bonde jamais circulou pelas ruas de Curitiba, foi trazido da cidade de Santos e está exposto na rua desde 27 de outubro de 1973.
Nos jornais
Trecho da matéria da Gazeta do Povo de 10 de julho de 1952 sobre a viagem de bonde Portão-Centro:
O sofrimento que se renova quatro vezes por dia
Aventuras, venturas e desventuras de um passageiro e desventuras de um passageiro dos bondes do Portão O leitor colabora com o repórter Começa o drama A longa viagem de volta "Até quando?..." Devagar e sempre...
Velhos, vagarosos, mal lavados e mal cheirosos, mas sempre super-lotados, os poucos bondes que servem o curitibano nos dias que passam se constituem num martírio indispensável, no dizer de um passageiro- filósofo que fez a viagem o lado do repórter. Lá fomos nós, esmagados, pisados, amarfanhados como os demais no rumo do Portão. Fizemos a longa viagem do Portão, num dos poucos "vermelhões" da CCTC que estão ainda a serviço dos curitibanos. E esta, note-se, é também uma das poucas linhas em que circulam tais veículos, que, na atualidade, já se vão tornando raros. Por essa razão, podemos escrever algo sobre as venturas, aventuras e desventuras de um passageiro de bonde em Curitiba, sobre esse legítimo drama que vivem, diariamente, centenas de pessoas que se servem desse meio de transporte para fazer o trajeto que se renova quatro vezes por dia, dos seus lares ao local em que trabalham e vice-versa.
Nesta reportagem, o leitor vai colaborar com o jornalista. A parte que lhe caberá será a seguinte o leitor vai ficar morando no Portão, vai ficar conosco na fila, ao sol ou chuva, em frio ou calor, de manhã, antes do almoço, depois do almoço e à tardinha, na hora da volta. Vai viver todas as preocupações do homem que faz esse trajeto quatro vezes por dia, mora numa zona distante, tem problemas sem conta a solver, ganha relativamente pouco, pertence, enfim, a essa classe média na sua primeira escala: não é totalmente pobre e nem remediado. Está, assim, num meio termo, numa posição esquisita...
Começa o drama
Sem os recursos que a dita vida moderna proporciona aos mais bem aquinhoados pela sorte aquele homem passa a noite "assim, assim", e acaba adormecido pelo cansaço. Tem que estar no local onde trabalha exatamente às 8 horas sob pena de perder meio dia de serviço. Muito bem, então ele precisa estar na "fila" às 6 da manhã, ou, o mais tardar, às 6h30.
Sabe lá o que é dormir mais ou menos mal, e levantar de madrugada com esse frio que anda fazendo nas madrugadas curitibanas? Sabe lá o que é se plantar numa fila de bonde, numa zona ode não há sequer um abrigo? Sabe lá o que é esperar pelo "Vermelhão"?
Bom. Se você não sabe nada disso, leitor, então venha conosco, e continue desempenhando o seu papel na história.
Agora deixe o escritório ou oficina às 11 horas e vá para a fila outra vez, pensando que às 13 horas você tem que estar de volta. Nesse horário, fazendo um verdadeiro milagre, você já se encontra outra vez no sue trabalho. Deixe as horas correrem... São 18 horas! Vamos voltar?..."
O último bonde elétrico de Curitiba ainda existe. Um exemplar do Birney norte-americano, trazido para Curitiba na década de 30, resiste teimosamente sob uma velha cobertura de ponto de ônibus utilizada para evitar danos causados pelo clima. Ele está na garagem da Urbs, responsável pela guarda do vagão, na oficina para manutenção de estações tubos, no bairro Tingui.
VÍDEO: conheça o interior do bonde elétrico
Esse bonde, que um dia levou gente de um lado para outro da cidade entre as décadas de 30 e 50, foi restaurado e ficou exposto na Praça Tiradentes até fins de 2002, quando foi retirado da vista do público por, segundo a prefeitura da época, ter se tornado alvo de vandalismo. Desde então, os apaixonados por trilhos se perguntavam onde ele estaria.
Ao entrar no veículo, compreende-se a dimensão da cidade à época. Eram apenas 14 bancos de dois lugares, e mais espaço para algumas pessoas se acomodarem em pé. Hoje, um ônibus biarticulado como os que rodam a cidade pode transportar cerca de 300 pessoas.
A data exata da última viagem de bonde é incerta, mas foi no mês de julho de 1952, com trajeto entre o Centro e o Portão. Esses veículos serviam trabalhadores que seguiam de onde hoje se encontra o Shopping Palladium até as Casas Pernambucanas, na Praça Zacarias, parando em diversos pontos da cidade.
Por um cruzeiro
Paulo Osni Wendt, 72 anos, que já foi diretor do Colégio Estadual do Paraná, garante que os bondes foram tirados de circulação no dia 1.º de julho. "Eu utilizei o bonde no último dia, pois pegava ele para ir à escola, saía do ponto da Maternidade Victor Ferreira do Amaral rumo ao Colégio Iguaçu, na Praça Rui Barbosa", diz ele. "A gurizada gostava de ir atrás, pisando naquele sinal de freio do bonde, para fazer barulho. Como ele não fazia volta, o motorneiro trocava de lugar no ponto final e virava os bancos para o outro lado", lembra Wendt, que cita outra curiosidade sobre os bondes: eles foram vendidos depois por apenas um cruzeiro preço simbólico a Aurélio Fressato, responsável por colocar os ônibus nas ruas na sequência.
Apesar de Wendt sustentar que o último dia da viagem foi 1.º de julho, uma matéria da Gazeta do Povo do dia 10 daquele mês relatava uma viagem do bonde e detonava: "Velhos, vagarosos, mal lavados e mal cheirosos, mas sempre superlotados, [os bondes] são um martírio indispensável", diz o texto, citando um usuário do transporte coletivo acompanhado pela reportagem. Os elétricos, que haviam substituído os bondes de mula em novembro de 1912, foram então destronados pelas autolotações, que, logo depois, foram deixadas de lado ao ser instituído o sistema baseado nos ônibus que vemos hoje.
Nos trilhos
Viagem do Portão ao Centro durava uma hora e muitos "toc-toc"
O trajeto do Portão ao Centro levava uma hora, e era para lá que seguia alguns dias por semana Carmem Bonat Schier, hoje com 88 anos, que fazia aulas de costura na escola da Dona Nadir Marachi. "Quando o vagão descarrilava ficávamos preocupados porque demorava muito para colocá-lo nos trilhos e corríamos o risco de chegar de noite em casa", diz ela.
Segundo outro integrante da família Schier, seu Hipólito Ary, da mesma idade, conforme o bonde avançava do bairro ao Centro, embarcavam profissionais de diversas áreas. Primeiro subiam os operários, depois os vendedores, militares, funcionários públicos e até médicos. "Havia paradas na Escola Municipal Presidente Pedrosa [mais conhecido hoje pelo Colégio Estadual Pedro Macedo, no começo da Rua Morretes com a Av. República Argentina]; na Capelinha dos Fruet, na volta da República Argentina com a Av. Iguaçu [na frente da Sociedade Água Verde] e na Maternidade Victor Ferreira do Amaral, onde ainda há um trilho."
Dentro dos bondes, além de muita conversa entre os usuários eles lembram que havia a companhia inabalável dos "toc-toc", o barulho que o bonde fazia ao passar nas emendas dos trilhos. Os motorneiros de quepe caqui, impecavelmente vestidos, levavam charme à viagem.
Vida e Cidadania | 2:26
Um exemplar do Birney norte-americano trazido para Curitiba na década de 30 e que foi o transporte público da cidade até julho de 1952 quando a linha Portão-Centro foi desativada -- resiste teimosamente em uma oficina da Urbs, no Bairro Tingui.
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