Muzeka, 68 anos, ainda não pensa na aposentadoria: “Gostaria de continuar na polícia. Ela ainda precisa muito de mim”| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

Livro conta história da profissão

A carreira de comissário de polícia existe desde 1910. Segundo o historiador Ernani Costa Straube, perito criminal aposentado e ex-diretor da Escola da Polícia Civil, a profissão foi regulamentada em 1958, com 20 cargos.

Straube é autor do livro Polícia Civil 150 anos. Segundo a obra, Curitiba era dividida em dois comissariados (Norte e Sul) no século 19 (em 1896), espécies de delegacias.

Outra informação importante no livro são as primeiras estatísticas de violência no Paraná. No ano de 1867 foram cometidos 34 crimes na província: oito homicídios, uma tentativa de homicídio, seis ferimentos graves, oito ferimentos leves, quatro resistências, três tiradas de presos da escolta, dois estupros, um roubo e um crime contra o gozo e exercício dos direitos políticos.

Naquele ano o Paraná tinha oito delegacias, 24 subdelegacias e 192 suplentes de delegados, num total de 224 cargos. Já "a situação das cadeias continuava a mesma: casebres nojosos, acanhados e mal construídos, servem só para matar pouco a pouco os infelizes que a sorte adversa atira para esses vis lugares", conta o livro. (JNB)

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Tarefas

As principais atribuições do comissário de polícia, segundo o decreto 16846/58:

- Substituir o delegado ou atuar como seu adjunto nas delegacias especializadas ou regionais.

- Instaurar inquéritos policiais.

- Dirigir e orientar investigações.

- Promover a reconstituição de crimes.

Basílio Muzeka, 68 anos, é um mito dentro da Polícia Civil do Paraná. Ele é o último comissário de polícia em atividade no estado. A sua aposentaria – aos 70 anos – vai fechar o ciclo de uma carreira em extinção. Será o fim de uma geração que projetou grandes nomes para o serviço público e que foi uma alternativa à falta de delegados nas cidades do interior, principalmente na década de 70.

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Naquela época, o charme do comissário era substituir o delegado de polícia na capital e no interior, além de acumular as tarefas de escrivão, detetive, investigador e carcereiro. O requisito essencial para o cargo era ser estudante de Direito.

Dos colegas de Muzeka, muitos estão aposentados, outros se tornaram delegados ou seguiram novos rumos. Poucas pessoas sabem, mas o procurador de Justiça Saint-Clair Honorato Santos, especialista em meio ambiente, entrou assim no serviço público, com 20 anos de idade. Ele foi delegado nas cidades de Ivaiporã e Bocaiúva do Sul. Hoje é o coordenador das promotorias de Meio Ambiente do Ministério Público.

O delegado Paulo Ernesto Araújo Cunha, ex-delegado-geral, também virou policial desta forma. "Tomei gosto assim pela profissão. Por isso, sou favorável a volta dos comissários. Seria uma forma de aproveitar o investigador que deseja se tornar delegado no interior", diz. Hoje, as pequenas cidades só contam com policiais militares.

Dos velhos tempos de comissário, Cunha guarda na lembraça uma façanha vivida em Palmeira. "Recordo que um menino de 10 anos foi mordido por um cachorro louco. Ele não queria tomar as injeções – exigia para tanto um passeio no carro da polícia. Era uma Rural branca e preta. A única forma de convencê-lo a fazer o tratamento foi dar a carona", conta.

Outro comissário que virou delegado é José Sudário da Silva. Hoje ele é o "xerife" de São Mateus do Sul. Tão logo passou no concurso para comissário, foi designado para atuar em Ponta Grossa, depois foi para Palmas, Pitanga e Curitiba, quando foi aprovado no concurso para delegado. "Estou há 40 anos na polícia. Sinto saudade da profissão. Fui o primeiro colocado na prova escrita", afirma, orgulhoso.

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Persistente

A persistência de Basílio Museka supera a história de todos os colegas que foram ficando no caminho. O homem que vai encerrar as atividades da carreira já foi delegado nas cidades de Coronel Vivida, Astorga, Mangueirinha e Curitiba. Ele vai se aposentar no 1º Distrito Policial de Curitiba, seu local de trabalho há 23 anos.

Museka diz que seu grande caso aconteceu na cidade de Mangueirinha. "Tive de enfrentar pistoleiros em situações de roubo e grilagem de madeira, negociar com o chefe da gangue. Havia apreensão de madeira, como ocorre hoje na Amazônia. Mas eles me respeitavam: graças a Deus nunca houve tiroteio ou uma morte. Eu sempre levei pelo lado bom", recorda.

No momento, a única coisa que o perturba é ter de pensar na aposentadoria compulsória (vale para o servidor público a partir dos 70 anos). "Gostaria de continuar na polícia. Ela ainda precisa muito de mim", diz.

Atualmente, Museka é responsável pelo setor de cartas precatórias (ouvir pessoas citadas em investigações em outras cidades e estados). Ele entrou na polícia como escrivão, no ano de 1970. Dois anos depois passou no concurso para comissário. O seu salário é de delegado de 4ª classe (início de carreira) por causa de uma decisão judicial.

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Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública, algumas carreiras policiais foram extintas – como comissário de polícia, detetive e motorista – para modernizar o serviço oferecido à população.