A atendente de telemarketing Francielle Lopes, 20 anos, vai fazer vestibular para o curso de Psicologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) "na sorte". Ela é uma das pouco mais de 21 mil pessoas que irão prestar o exame sem ter passado por um cursinho ou "terceirão". O número corresponde a 48,37% dos inscritos na seleção da universidade este ano, de acordo com o estudo socioeconômico dos candidatos divulgado pela universidade. A primeira etapa do processo terá início hoje, às 14 horas, em Curitiba.

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Francielle decidiu realizar a prova da UFPR ao descobrir que as inscrições estavam abertas, em setembro. Foi quando tirou do armário as apostilas que sobraram de um cursinho pré-vestibular iniciado no ano passado e aproveitou o tempo livre para relembrar as disciplinas aprendidas na escola. "No ano passado estudei bastante, mas tive problemas de saúde e acabei perdendo as provas. É a primeira vez que estou tentando vestibular", afirma.

O número de inscritos que afirmaram não ter feito cursos preparatórios para o vestibular aumentou 17,42% se comparado com o ano passado. Não há, no entanto, uma explicação concreta para o crescimento. Entre as hipóteses discutidas pelo reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira Júnior, está a implantação das cotas raciais e sociais há alguns anos. "As cotas, de alguma forma, dão mais oportunidade aos que não fizeram cursinho para passar. Antes nem tentavam vestibular e agora estão vendo as cotas como uma possibilidade", afirma.

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As cotas sociais, por exemplo, exigem que o aluno tenha feito o Ensino Médio e o Ensino Fundamental inteiramente em escolas públicas. É o caso de André Zanella, 17 anos, que está terminando o terceiro ano regular no Colégio Estadual e entrou na lista de cotistas sociais. "Sou a favor de cotas para escola pública, mas acho que deveria ser mais equilibrado, tipo 50%", afirma Zanella, que vai tentar uma vaga para Ciências Sociais. Ele decidiu não fazer cursinho por acreditar no potencial do ensino oferecido. "Busco estudar nas horas vagas. Não acredito que o cursinho dê mais chances. Muitos alunos que fazem têm rendimento menor que os que não fazem. Depende do empenho do aluno", acredita.

Outra possibilidade apontada pelo reitor da UFPR para a diminuição de alunos de cursinho é o formato da prova do vestibular. Com a segunda fase inteiramente discursiva, Moreira acredita que o conteúdo "enlatado" dos cursinhos não ajuda muito nesse sentido. "É preciso conhecimento consolidado, porque a prova não dá margem para a superficialidade dos cursinhos", explica.

A opinião é compartilhada pelos alunos do terceiro ano do colégio Marista Paranaense. Dalton Maceno, Michelle Silva, Lediane Filus, Maurício Ceschini – todos com 17 anos –, Bruno Delgado e José Ricardo de Avellar (ambos com 18), afirmam estar preparados para o vestibular de hoje. Como arma, apenas o conhecimento adquirido durante os anos de estudo. Com exceção de José Ricardo, todos os alunos estudam no colégio desde a infância. Estão otimistas com resultado do que foi considerado uma prova de teste: todos foram aprovados no vestibular de uma instituição particular. "Estudamos em casa e temos um ótimo ensino de base", afirmou Delgado. Michelle também é contra o cursinho. "Tem muita concorrência, o aluno é apenas mais um número. Você só aprende macetes e não a entender as fórmulas matemáticas", disse. Já Maceno achou muito puxado conciliar colégio com cursinho. "Muitos colegas estão fazendo isso, mas faltam bastante às aulas. Precisamos das nossas horas de sono para podermos absorver a matéria. É melhor pouco conteúdo e bem-dado que muita matéria de uma vez só", diz.

A UFPR vai investigar como será o desempenho dos alunos que declararam não ter feito cursinho para prestar o vestibular. O Núclo de Concursos vai monitorar o resultado dos candidatos nestas condições, em uma próxima pesquisa.