A Ilha de Yap, uma ilhazinha do Pacífico Ocidental mais conhecida por usar discos de pedra enormes como moeda, enfrentava uma grave situação médica. Em 2007, os médicos viram um aumento alarmante no número de pacientes com manchas no corpo, olhos vermelhos e dores nas articulações. Testes iniciais não conseguiam mostrar o que estava deixando as pessoas doentes.
“Não tínhamos ideia do que poderia ser. As pessoas achavam que poderia se tratar de um surto de dengue”, afirmou o Tenente Coronel Mark Duffy, oficial de saúde pública da Força Aérea dos EUA enviado para trabalhar com a doença desconhecida junto ao serviço de inteligência epidêmica do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC na sigla em inglês).
A dengue é uma doença transmitida por mosquitos que pode ser fatal e afeta 100 milhões de pessoas todos os anos. Outra possibilidade era que fosse um surto de chikungunya, outro vírus transmitido por mosquitos.
Mas as amostras de sangue dos pacientes testadas pelo laboratório do CDC em Fort Collins, no Colorado, confirmaram que os médicos estavam vendo algo novo: aquele foi o primeiro surto significativo de zika.
Descoberta
Durante boa parte de sua existência, o vírus zika não passava de uma curiosidade científica. Depois que foi descoberto em 1947 na floresta de Uganda que deu nome à doença, o vírus se espalhou lentamente pela África e Ásia. Exames de sangue revelaram a presença de anticorpos do zika em pessoas na Índia, no Paquistão, na Malásia, no Vietnã, nas Filipinas, na Tailândia e na Indonésia – uma evidência de que essas pessoas haviam sido expostas ao vírus. Mesmo assim, poucos casos da doença haviam sido reportados.
Por mais de meio século não houve surtos de zika registrados, e apenas 14 casos confirmados. Então, em 2007, o vírus apareceu em Yap e nas ilhas da Micronésia, cerca de 1.200 quilômetros a leste das Filipinas, onde quase 50 pessoas foram infectadas. Seis anos depois, apareceu na Polinésia Francesa, cerca de 8.000 quilômetros a sudeste de Yap, onde milhares de pessoas contraíram a doença.
Agora, o zika já infectou cerca de 1,5 milhão de pessoas no Brasil e está se espalhando rapidamente por outras partes das Américas. O novo surto fez os pesquisadores examinarem a trilha deixada pelo vírus na Ásia e no Pacífico, tentando aprender mais sobre os primeiros surtos da doença e porque ela parece ter piorado tanto.
“Alguma coisa muito diferente está acontecendo aqui, mas no momento não sabemos o que é”, afirmou Duncan Smith, pesquisador de doenças infecciosas da Universidade Mahidol, na Tailândia.