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Nos Estados Unidos, a obesidade infantil é considerada uma epidemia, atinge seis milhões de crianças. O número é mais que o dobro do índice registrado há 15 anos. E a tendência de agravamento do problema é mundial. A afirmação é do médico norte-americano especialista em cirurgia pediátrica Thom Lobe, que esteve em Curitiba para participar do II Congresso Internacional de Especialidades Pediátricas, promovido pelo Hospital Pequeno Príncipe.

Formado há 30 anos pela Escola de Medicina da Universidade de Baltimore e atual diretor do setor de Residência em Cirurgia Pediátrica da Universidade do Tennessee, em Memphis, o médico apresentou duas técnicas de cirurgias de redução de estômago que estão sendo realizadas em adolescentes nos Estados Unidos.

Os métodos são iguais às práticas adotadas para cirurgias em adultos. Mas o risco de morte de uma das técnicas, calculado em 2%, é o argumento usado pelos médicos que criticam a intervenção cirúrgica em crianças.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Thom defende a cirurgia, segundo ele, ainda inédita no Brasil, justificando que os perigos das doenças causadas em decorrência da obesidade são muito maiores.

A obesidade é mais grave na infância do que na fase adulta?

A criança obesa vai crescer obesa. As doenças que ela desenvolver na infância, por causa da obesidade, terão conseqüências maiores quando ela for adulta. A diabete, por exemplo, é uma das piores seqüelas da obesidade infantil. A criança pode acabar tendo problemas no fígado, nos olhos, no coração. A obesidade também vai aumentar as chances de problemas respiratórios, como a apnéia do sono. Doenças pulmonares, como asma, também aparecerão mais facilmente, assim como cardiopatias e problemas de pressão alta, sem falar nas articulações. Quais são os tratamentos possíveis para a obesidade infantil?

O primeiro passo é explicar à criança e aos pais que o problema não é só estético. O médico precisa propor mudanças no estilo de vida para que ela passe a se alimentar com comidas saudáveis e comece a fazer exercícios. E ao invés de pedir que ela volte daqui seis meses, o médico pode diminuir esse prazo para um mês. Ele precisa estar próximo do paciente para descobrir hábitos familiares. É importante também ter a ajuda de profissionais como nutricionistas e psicólogos para ajudar na construção do novo estilo de vida. É preciso estimular a auto-estima, para que a criança se sinta bem fazendo exercícios.

Em que casos a cirurgia de redução do estômago é indicada?

Na maioria das vezes, a reeducação alimentar e os exercícios são suficientes. A criança consegue perder até 10% de sua massa corpórea. Mas é preciso trabalhar muito. Em alguns casos, é preciso utilizar medicamentos e programas de controle do peso. A cirurgia sempre deve ser a última opção, ou seja, se em seis meses ou um ano de tratamento a criança não tiver apresentado nenhum resultado, a cirurgia deve ser considerada.

Quando a cirurgia começou a ser realizada em crianças?

A cirurgia começou a ser desenvolvida no final dos anos 70 e começo dos anos 80, nos Estados Unidos. Era uma cirurgia bem mais invasiva. Hoje seu aspecto mudou muito. A cirurgia do método " bypass", que costura o estômago, reduzindo definitivamente seu tamanho, tem uma taxa de mortalidade de 1 a 2%. O método "lap-band", que eu considero a melhor, não apresenta nenhum risco. Nessa técnica, uma banda de silicone, em forma de anel, é colocada na entrada do estômago, reduzindo a passagem de alimentos. O problema é que a criança precisa reeducar sua alimentação para garantir os resultados, porque é possível burlar o tratamento, consumindo produtos calóricos líquidos, que não vão dar a sensação de saciedade.

E quais os riscos da operação?

Existe um dilema nos Estados Unidos. A discussão é sobre a capacidade e autonomia da criança em tomar a decisão de se submeter ou não a uma cirurgia que apresenta 2% de risco de morte. Ela pode viver menos por causa das complicações da obesidade, mas não vai correr risco de morte ainda na infância. Mas as cirurgias só devem ser realizadas em adolescentes. O requisito básico é que ela esteja avançada na puberdade, ou seja, ela tem que ter atingido 90% do potencial de crescimento dos ossos, porque a cirurgia de redução do estômago diminui a absorção de nutrientes o que pode prejudicar o desenvolvimento da criança. Em meninas a cirurgia pode ser realizada entre 13 e 14 anos e nos meninos entre 15 e 17 anos. Em Cincinnati, onde existe um centro cirúrgico, nos últimos três foram realizadas cerca de 50 cirurgias.

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