Sim, Clodovis Boff acredita que seu livro vá criar ruído nos meios católicos, ainda que não tenha tocado um avo nas tradições da Igreja em relação à Virgem Maria. Os explosivos estão no fato de que o teólogo foca um caminho até então pouco explorado, o de Maria como mulher real e o que isso implica.
"Prefiro dizer que é uma questão heterodoxa", explica Boff, sem dar asas ao disse-me-disse. "A tradição da Igreja não diz nada sobre os sentimentos de Maria. Defendo que da mesma maneira que ela sofreu, sentiu a gratidão humana, que não entendia Jesus sempre, também tinha pulsões. Ela sentiu tentação. Porém, também digo que ela se manteve sempre à luz, que é imaculada, santíssima. Não tenho dúvidas a respeito."
A pesquisa foi longa. Teve início em Roma, no ano de 1993, quando Clodovis estudava por lá e sentiu falta de escritos sobre a dimensão social da figura feminina mais importante do cristianismo. Seu primeiro impulso foi o de fazer um inventário das manifestações marianas mais comuns e, claro, as mais controvertidas, como a Maria do canto bíblico Magnificat, mulher profética e libertadora; e a Virgem de Guadalupe, que inspirou camponeses na libertação do México.