No próximo domingo (8) completará dois anos e um mês do início da construção das escolas nos bairros de Ribeirão Grande e Jardim Paulista, em Campina Grande do Sul, na Região de Curitiba. Elas começaram em 8 de abril de 2014 e deveriam estar prontas desde o dia 4 de março e 2 de fevereiro do ano passado, respectivamente. As duas fazem parte de um pacote de dez obras em escolas que tiveram suas execuções fraudadas pela empresa Valor Construtora. A empreiteira foi investigada pela operação Quadro Negro, desencadeada pelo Núcleo de Repressão aos Crimes Econômicos (Nurce) e pelo Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) no ano passado. A empresa é acusada de participar de um esquema de desvio de cerca de R$ 20 milhões de recursos destinados às obras de escolas estaduais.
Em junho também completará um ano desde que a Secretaria de Estado da Educação anunciou uma auditoria interna para apurar irregularidades em obras de sete escolas, que deram início a toda investigação policial.
Apesar de ter passado tanto tempo, ainda não há data para que as obras fraudadas recomecem. O quadro de abandono nas duas escolas de Campina Grande do Sul registrado em janeiro pela reportagem da Gazeta do Povo não mudou, mas aumentou a revolta dos moradores locais.
Veja as fotos das obras abandonadas
Relembre os fatos da Operação Quadro Negro
Investigações começaram com uma auditoria interna da Seed em maio de 2015.
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A técnica de enfermagem Débora Torres, 43 anos, relatou a desesperança das famílias que aguardam uma nova escola na região e os problemas do colégio atual, enfrentados por seu filho, de 15 anos, e outros colegas.
“O sentimento é de total abandono e falta de fé. Perdemos a esperança. Vemos todo dia propaganda na televisão que o Paraná e o Brasil são paraísos da educação e olha o que vivemos aqui. Essa obra no Jardim Paulista é uma vergonha”, desabafou ela. Segundo Débora, a estrutura no Colégio Estadual Bandeirantes, onde seu filho estuda, no bairro vizinho Jardim Graciosa, obriga a direção da escola a uma estratégia, no mínimo, inusitada.
“Lá tem uma sala que quando o clima está com baixa temperatura é muito frio, quase impossível ficar. Quando a temperatura aumenta é muito calor. Por isso, a direção optou em fazer um rodízio. A cada semestre escolar, ela coloca uma turma diferente na sala”, contou.
No local da obra do Jardim Paulista, o mato cresceu e já deu tempo de um joão-de-barro construir um ninho no alto da construção inacabada. O local virou ponto de uso de drogas e local de pernoite de andarilhos e moradores de rua.
Em Ribeirão Grande, o problema é o mesmo. O terreno onde a fundação foi iniciada virou ponto para empinar pipa da molecada. Uma professora da região, que preferiu não ter o nome revelado, revelou que as obras oferecem perigo aos meninos que brincam ali. “A gente fica de olho, mas não tem muito como controlar. Tem muito buraco, onde podem cair e se machucar”, disse.
Grande parte dos recursos – cerca de R$ 9 milhões – das obras das duas escolas que, praticamente não “saíram do papel”, já foi repassado à construtora Valor, responsável pelas construções.
Futuro incerto
Na semana passada engenheiros e técnicos da Paraná Edificações estiveram nos dois terrenos para revisar os projetos. Segundo a assessoria de imprensa da autarquia do governo estadual, cerca de 30 obras da Secretaria de Estado da Educação (Seed), incluindo as dez apuradas pela Quadro Negro, foram herdadas pela Paraná Edificações e terão todos os projetos revistos até o fim do primeiro semestre deste ano. Ainda de acordo com a autarquia, o recomeço das obras dependerá da liberação de novos recursos para Seed, responsável por escolher quais construções terão prioridades.
Sobre as obras colégios estaduais Jardim Paulista e Ribeirão Grande, Seed voltou a informar que elas foram paralisadas por determinação do Tribunal de Contas do Estado. A pasta reforçou que as construções serão concluídas após serem licitadas novamente.
Além disso, a pasta informou que como algumas obras de escolas realizadas pelo governo estadual contavam com o apoio de recursos federais, a pasta devolveu R$ 19 milhões, referente às obras dos colégios Willian Madi, Arcângelo Nandi, Jardim Paulista, Ribeirão Grande, Lysimaco F. da Costa e da quadra da unidade Doracy Cezarino, sob responsabilidade da construtora Valor.
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