Os 2.794 diferentes títulos de obras raras que existem na Biblioteca Pública do Paraná chegaram ao acaso, por meio de doadores. Um deles, que não se interessava mais em guardar o livro, deixou para a biblioteca uma das raridades escritas pelo italiano Ludovico Ariosto. Durante a separação dos livros doados onde se decide para qual setor cada um vai o de Ariosto ganhou o lugar mais digno de sua importância, o cofre. É lá que está atualmente a obra intitulada Orlando Furioso, escrita em 1584. Trata-se de uma epopeia de 46 cantos em oitava-rima classificada como tragicômica. É escrita em italiano e tudo o que se sabe dela é por meio de outras pesquisas porque o livro assim como todo o resto da coleção de obras raras tem recebido poucas visitas de pesquisadores. Esta é a dura realidade das raridades que existem em Curitiba. Apesar de estarem catalogadas, é difícil encontrar alguém com interesse e força de vontade para traduzi-las e estudá-las a ponto de explicar o contexto em que foram escritas e o que há de fato no conteúdo. Ariosto acaba sendo uma exceção, porque há estudos mais avançados no mundo afora sobre ele. Essa sua obra Orlando Furioso foi editada diversas vezes, é considerada uma das mais importantes da Renascença Clássica e teria começado a ser escrita em 1503. É dividida em três partes: fala da paixão e ciúmes do personagem Orlando por Angélica, da guerra entre cristãos e mouros e dos amores de Rogério e Brandant. A obra foi traduzida por Cervantes e o que mais impressiona nela é ver 43 folhas ilustradas com ricos traços de desenho. A obra rara está à disposição para consulta na biblioteca, assim como o restante do acervo.
Menos conhecida é a obra italiana Il Cristiano Instruito, escrita em 1687 por Paolo Segneri. Ele pertencia à Companhia de Jesus e fez um estudo sistemático das sagradas escrituras. A obra traz discursos morais sobre a mentira, a avareza, os mexericos. Trata ainda da injúria, do adultério e do matrimônio. Se parece com um guia de catequese aos cristãos.
Legislação
Do Direito, o setor de obra raras guarda um grande livro das ordenações e leis do reino de Portugal, de 1695, que foram estabelecidas por dom João VI e impressas pelo mandato de dom Pedro II esta legislação foi adotada por um período no Brasil. Há também uma coleção de Manuais do Cidadão Brasileiro de cerca de 1840 a 1848. São quase como um tratado de direito. Falam quem são os moradores do Brasil, da pensão alimentícia, dos órfãos. Um dos manuais diz que é proibido seduzir mulher honesta menor de 17 anos se o delito for cometido existe pena de um a três anos de reclusão e o cri- minoso deve sair da cidade onde reside a seduzida.
Em 1759, por exemplo, foi proibido dar o nome de libertos aos filhos e netos de escravas. Em 1848, um manual estabelecia a profissão de soldadas de caixeiros, que, além de receber um certo valor em dinheiro, tinham o direito à casa, cama e mesa.
Dois livros sobre o café revelam aos leitores da época os poderes da bebida. Um deles é um discurso acadêmico de 1731. O autor diz que o café foi levado à Europa pelo senhor Nicollo Confole dAmsfterdam e Prefetto da Companhia das Índias. E diz que "o café, apresso dos árabes e turcos, é uma bebida antiquíssima."
Outras obras
Livros mais recentes também ficam no setor simplesmente por terem na folha de rosto a assinatura de preciosos escritores, como Rachel de Queiroz. Além disso, está guardada na seção uma das primeiras edições de Casa Grande e Senzala, de 1933.
Universidades
No prédio da Universidade Federal do Paraná (UFPR), na Santos Andrade, existe um setor de obras raras principalmente da área jurídica. O espaço é uma relíquia e infelizmente não é aberto ao público em geral serve de apoio aos alunos da instituição para consulta no local. O acervo ainda não está completamente catalogado, mas uma das raridades é um livro de 1585, escrito em latim, sobre Direito Canônico. Há obras ainda do Direito Romano (1648) e do Direito Natural (1706). Ao todo, são cerca de 10 mil volumes entre obras raras e especiais.
Na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o setor de raridades, que tem cerca de 4 mil obras, é aberto ao público para consulta no local. Esse acervo tem obras como a de João Crisóstomo, teólogo e escritor cristão que escreveu sermões e um número significativo de cartas. Ele foi patriarca de Constantinopla no fim do século IV.
Há também cartas da espanhola Santa Teresa de Ávila: elas foram dirigidas, na época, a religiosos, monjas, leigos e autoridades civis. Santa Teresa foi canonizada em 1622.
Raridade
A obra mais antiga é de 1515. É um livro de poesia portuguesa lírica, escrito por um advogado romano do século II, de nome Aulo Gelio. Intitula-se Noites Áticas: nela, ele anotou desordenadamente todas as curiosidades que ouvia ou lia. A PUCPR tem ainda dois livros de Aristóteles e uma Bíblia antiga em língua holandesa conhecida como Statenbjbel (Bíblia do Estado). Ela impressiona pelo tamanho: tem 14 cm de espessura, 32 cm de altura e 25 cm de largura. Pesa 5 quilos.
Serviço: a PUCPR expõe seus livros raros no saguão da Biblioteca Central, no bairro Prado Velho, a partir de hoje até 29 de outubro. A exposição fica aberta de segunda a sexta, das 8 às 18 horas; sábado, das 8 às 18 horas; e domingo, das 8h30 às 12h30.