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A alemã Camila Zeschick, de 17 anos, é intercambista do Rotary
O zelador interrompeu a entrevista para avisar ao patrão que a gengiva doía da anestesia, abrindo a boca e exibindo três "janelas" na arcada dentária. Salvatore di Chiara, proprietário do hotel em que o homem e outros 50 funcionários trabalham, levantou-se de sua mesa e abriu o armário. "Por que você foi arrancar dente hoje?", perguntou, entregando ao funcionário alguns comprimidos e uma nota de R$ 20. "A gente tem que ser meio pai, meio patrão", justificou o empresário, retomando a conversa. Falava justamente sobre a importância da filantropia e o prazer em ajudar duas das premissas do Rotary International, entidade da qual Chiara é governador-assistente para o distrito 4730 (Curitiba, Litoral e Campos Gerais do Paraná).
Estava sendo uma semana corrida para Chiara. O cargo no Rotary normalmente lhe exige seis horas semanais, mas teve de aumentar o tempo de dedicação por causa do aniversário do Rotary Club de Curitiba, que completa 80 anos de existência em março. A comemoração será no próximo dia 8, em um jantar no Clube Curitibano. Também serão celebrados os 108 anos do distrito e os 55 do clube de Curitiba Oeste. Nessas últimas oito décadas, outros 30 clubes foram criados na cidade. A quantidade de associações tende a crescer conforme o crescimento das cidades. Os rotarianos se subdividem em grupos de algumas dezenas membros, cada qual atuando em um bairro ou região.
Atuação
O objetivo é realizar alguma ação transformadora na sociedade. Cada agremiação tem autonomia administrativa e financeira para iniciativas menores, como doação de cadeira de rodas ou reparos em uma escola, por exemplo. Também existem ações coordenadas. O tipo de trabalho e a meta a ser alcançada são definidos em reuniões distritais, nacionais ou internacionais, e então divididas entre os clubes. Atualmente, o Rotary se dedica a auxiliar a criação de conselhos comunitários de segurança nos bairros. O distrito 4730 lançou um mutirão de cirurgias de catarata. Há 30 anos, a entidade encampou a erradicação da poliomielite no mundo.
O Rotary foi fundado no início do século 20, na cidade de Chicago, nos Estados Unidos. Paul Harris, um jovem advogado recém-chegado à cidade grande, necessitava de um canal para criar contatos profissionais, e também transformar esses contatos em amizades. Em uma das primeiras reuniões, um fornecedor de carvão conheceu um engenheiro de minas. Fecharam negócio. Pouco depois, os sócios resolveram construir um banheiro público em frente da sede. Estavam sedimentadas as bases do que viria a ser uma das maiores organizações não governamentais do mundo, com 1,2 milhão de membros e assento permanente na Organização das Nações Unidas (ONU).
Encontro
Reuniões têm clima bem-humorado e propostas diversas
A reunião seguinte à entrevista seria importante para o governador-assistente Salvatore di Chiara. Além da venda dos convites, planejara fazer uma sugestão aos companheiros de clube. O encontro ocorre num salão privativo de um restaurante do Água Verde. Por causa da chuva que caiu na manhã da última terça-feira, Di Chiara temia um baixo comparecimento, o que não aconteceu: dezenove dos 33 membros estavam lá. Homens engravatados, em sua maioria, se cumprimentavam trocando piadas sobre os diferentes níveis de obesidade nas mesas.
A reunião começa após o toque do sino pelo presidente. Os associados ficam em pé e aplaudem a bandeira da instituição, antes de serem repassadas algumas informações sobre a gestão do clube. Então Di Chiara toma a palavra e sugere aos rotarianos iniciar um abaixo-assinado contra a Proposta de Emenda Constitucional que restringe o poder de investigação do Ministério Público. A ideia teve acolhida imediata entre os sócios, que passaram os 15 minutos seguintes discutindo a melhor forma de elaborar o documento se em papel ou on-line.
Após o anúncio de dois novos sócios, uma jovem negra com cabelo alto e blazer coberto por bottons foi chamada à frente. Camila Zeschick, de 17 anos, é alemã de Stuttgart. Tendo mãe brasileira e pais rotarianos, ela se inscreveu no programa de intercâmbio da entidade. Anualmente, 8 mil jovens passam até 12 meses em outro país, hospedados na casa de membros do clube. Eles são orientados a trocar de residência a cada quatro meses, para ampliar a experiência.
Camila iniciou sua apresentação tocando o hino nacional da Alemanha no violino. Depois, usando o português básico aprendido em seis meses de estada, falou sobre a história e a cultura de seu país natal, apontando as fotos no projetor com o arco do instrumento.
