Alunos de química no Colégio Albino Feijó, em Londrina: curso é um dos que mais tem baixas de alunos após a matrícula| Foto: Fotos: Gilberto Abelha / Jornal de Londrina

Desinteresse por área de Exatas aumenta índices de evasão

O índice de evasão no ensino técnico profissional é mais acentuado nos cursos ligados à área de Exatas. É o que relatam os professores que convivem com essa realidade. Em Londrina, um dos locais onde este tipo de situação ocorre é no Colégio Estadual Albino Feijó. Segundo o diretor auxiliar da escola, Alexandre de Morais, são ofertados cursos técnicos na modalidade subsequente de Química, Meio Ambiente e Enfermagem. O de Química é o que tem tido mais baixas de alunos após a matrícula. "A desistência é de 30 a 40%", calcula Morais.

Ele atribui este índice à falta de vocação e de conhecimento dos estudantes em relação ao conteúdo exigido. Este, no entanto, não é o caso do aluno de técnico em Química, Wesley Roberto dos Santos, 24 anos. Decidido a permanecer no curso até o fim, ele diz ter facilidade com as disciplinas e boas perspectivas de trabalho. "Já estou numa empresa que tem uma área de Química", afirma.

Interesse

Para o professor Antônio Carlos de Camargo, diretor de outro colégio que oferece ensino técnico em Londrina, o Polivalente, cabe aos alunos fazerem sua parte. "Estrutura tem, mas eles precisam se interessar". Na escola dirigida por ele, há os cursos de técnico em Edificações, Segurança do Trabalho e Alimentos. A capacitação que mais demanda cálculos, a de técnico em Edificações, é também a que mais registra evasão.

Já em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, a diretora do Colégio Estadual Presidente Castelo Branco, Gioavana Marchori, diz que prevê abrir vagas a mais para o curso de técnico em Farmácia para compensar a evasão até o fim da capacitação. "O primeiro semestre do curso é Química pura, por isso temos uma evasão maior", assinala.

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Descentralização

Interior concentra maioria dos investimentos

A maioria dos investimentos do governo estadual em ensino técnico profissionalizante está concentrada no interior do Paraná. Segundo a diretora do Departamento de Educação e Trabalho da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Fabiana Cristina Campos, em 2014 devem ser entregues ampliações em escolas de Maringá e Palotina, além de inaugurados dez Colégios Estaduais de Educação Profissional (CEEP).

Cada unidade terá capacidade para 1,2 mil alunos. Cerca de R$ 11 milhões foram investidos em cada colégio, considerando a construção, mobiliário, equipamentos de laboratório e acervos bibliográficos. Os colégios estão sendo construídos em Cianorte, Assaí, Francisco Beltrão, Ibaiti, Manoel Ribas, Laranjeiras do Sul, Pitanga e Terra Roxa. Na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), os municípios de Almirante Tamandaré e Fazenda Rio Grande receberão os investimentos.

As vagas a serem abertas nestas escolas devem seguir um estudo de demanda feito pelo órgão, de acordo com o perfil dos municípios com ensino técnico disponível. As capacitações vão atender eixos do conhecimento como Controle e Processos Industriais, Ambiente e Saúde, Segurança, Recursos Naturais e Produção Alimentícia. Entre os novos cursos previstos para julho de 2014, estão Açúcar e Álcool, Eletroeletrônica, Mecatrônica e Viticultura e Enologia.

Wesley Roberto dos Santos, estudante de Química

A educação profissional praticamente dobrou de tamanho nos últimos quatro anos no Paraná. Em 2009, a Secretaria de Estado da Educação (Seed) registrou 42,9 mil matrículas em cursos técnicos subsequentes e integrados ao ensino médio. Neste ano, já são mais de 83 mil estudantes. Ao longo deste período, a presença do sistema também avançou pelo estado. Hoje, os cursos estão disponíveis em 184 cidades, contra 170 em 2009 – uma cobertura equivalente a 46% dos 399 municípios paranaenses. O governo tem como meta gerar mais 20 mil vagas no ano que vem.

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INFOGRÁFICO: Oferta de ensino técnico já cobre 46% dos municípios do Paraná

Em meio ao desafio de expandir a rede de ensino profissional, a Seed precisa lidar com a evasão de alunos, considerada alta nessa fase da educação. O problema é maior junto aos cursos subsequentes, em que a capacitação ocorre após a conclusão do ensino médio. No ano passado, as desistências atingiram 4% das matrículas em cursos integrados e 18% nos subsequentes. Em alguns cursos desta última modalidade, o abandono tem alcançado até 50% dos estudantes matriculados. "Nosso grande desafio é que as turmas comecem efetivamente com quem tem interesse em fazer o curso", define a diretora do Departamento de Educação e Trabalho da Seed, Fabiana Cristina Campos.

Segundo a gestora, a secretaria está apostando na conscientização dos estudantes para evitar a ociosidade nas vagas após a matrícula. O órgão pretende apresentar a proposta de cada curso aos jovens antes do ingresso deles na modalidade. "O custo é muito alto, não podemos começar com 30 alunos e terminar a turma com seis", justifica Fabiana.

Ela cita como exemplo a evasão em cursos técnicos inseridos na área de Exatas. Num curso de Informática, comenta a diretora, é comum que os jovens se assustem com a grade de Física e Hardware e logo desistam de frequentar as aulas. Além disso, outra questão, desta vez técnica, ameaça o aproveitamento dos cursos – a falta de professores. "Bons professores acabam fazendo a diferença e o profissional, quando mal preparado, também contribui para que o aluno não fique no curso", pondera a diretora.

Por seguir a demanda socioeconômica dos municípios na oferta de educação profissional, a Seed vem contratando mais professores através de processos seletivos simplificados do que por concursos públicos. "É uma demanda cíclica", diz Fabiana, ao assinalar que a grande maioria dos contratados é bacharel, mas também tem formação na área pedagógica. Com o efeito de "pleno emprego" na economia brasileira, ela admite que não são muitos os que se dispõem a entrar em sala de aula. "Os cursos não ficam sem professor, mas eles não estão sobrando", salienta. Para não ficar sem cobertura, o órgão tem aberto processos seletivos mais de uma vez ao ano.

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Ainda falta unir teoria e prática, diz especialista

A evasão no ensino técnico é um problema semelhante ao abandono escolar ainda nos anos do ensino médio. É o que avalia a gerente técnica do movimento Todos pela Educação, Alejandra Meraz Velasco. Para ela, despertar o interesse do aluno para esse tipo de curso se mostra ainda mais necessário, já que a educação profissional implica no aumento de disciplinas cursadas durante o ensino médio.

Mesmo com investimentos no setor, Alejandra analisa que também falta conexão de alguns cursos com a prática no mercado de trabalho. "Apesar do nome ser educação profissional, isso [falta de conexão com a prática] ainda acontece. O próprio mercado acaba sentindo que os alunos não têm esse diferencial", diz ela, ao ponderar que o título do ensino profissional precisa de mais valor agregado para que se reduza a evasão, sobretudo, em cursos subsequentes.

A Seed argumenta que o perfil do aluno do subsequente no Paraná, em sua maioria, é composto por trabalhadores inseridos ou a serem inseridos no mercado de trabalho. Esse público estaria se deparando com dificuldades em conciliar a vida profissional e a rotina de estudos ou ainda tendo de optar entre estudar e apenas trabalhar.

No estado, o ensino técnico está presente em 17% dos 2.147 estabelecimentos estaduais de ensino. Somando ao ensino médio integrado e subsequentes às vagas do Proeja, Formação de Docentes, Qualificação Profissional, Profuncionário, E-Tec Brasil e Pronatec a educação profissional no Paraná já registrou neste ano 116.991 matrículas.

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R$ 11 milhões é o investimento na implantação de cada colégio para o ensino técnico, considerando a construção, mobiliário, equipamentos de laboratório e acervos bibliográficos. No interior do estado, as cidades de Cianorte, Assaí, Francisco Beltrão, Ibaiti, Manoel Ribas, Laranjeiras do Sul, Pitanga e Terra Roxa receberão unidades. Na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), os municípios de Almirante Tamandaré e Fazenda Rio Grande também foram contemplados.