Detalhes
Na denúncia encaminhada à Justiça, o Ministério Público descreve como ocorreram as sete mortes investigadas:
Modus operandi
Por iniciativa da chefe da UTI, Virgínia Helena Soares de Souza, ou por orientação dela, determinados pacientes recebiam medicamentos seguidos do rebaixamento dos parâmetros ventilatórios.
Remédios
Os medicamentos usados eram geralmente o bloqueador neuromuscular pancurônio (Pavulon), ou às vezes dibesilato de atracurium (Tracrium), conjugados com fármacos anestésicos como propofol (Diprivan), cloridrato de cetamina (Ketalar) e tiopental sódico (Thionembutal), sedativos como midazolam (Dormonid) e analgésicos como citrato de fentanila (Fentanil). Em regra, eram ministrados pelos enfermeiros denunciados e, às vezes, pelos próprios médicos. Em todos os casos analisados, os medicamentos Pavulon (pancurônio) ou Tracrium (dibesilato de atracurium) eram ministrados mesmo quando não havia justificativa terapêutica registrada no prontuário médico.
Mortes
Segundo a denúncia, esses remédios causavam paralisia neuromuscular nas vítimas. Depois, era reduzida a ventilação mecânica, levando os pacientes à morte por asfixia.
O caso
A investigação policial teve início há aproximadamente um ano, após denúncia anônima feito à Ouvidoria Geral. O caso veio à tona em 19 de fevereiro, com a prisão de Virgínia Souza. Depois foram detidos os médico Anderson de Freitas, Edison Anselmo da Silva Júnior e Maria Israela Cortez Boccato, e as enfermeiras Laís da Rosa Groff e Patrícia Cristina de Goveia Ribeiro.
O Ministério Público (MP) do Paraná denunciou à Justiça ontem oito pessoas por formação de quadrilha e seis delas por homicídio qualificado de sete pacientes da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) geral do Hospital Evangélico de Curitiba. Além da médica Virgínia Helena Soares de Souza, ex-chefe da UTI, foram acusados outros três médicos, três enfermeiros e uma fisioterapeuta. No futuro, outras pessoas podem ser denunciadas. O MP solicitou à Polícia Civil que faça novos inquéritos para averiguar a morte de mais 21 pacientes na UTI, além de outros casos registrados em boletins de ocorrência.
Para os promotores, os sete homicídios, ocorridos entre maio de 2011 e janeiro de 2013, foram duplamente qualificados: pela torpeza do ato (a decisão de decretar a morte de um paciente para fazer "girar" a UTI) e pelo uso de meios que dificultavam que as vítimas se defendessem. As investigações mostram que havia um padrão para ocasionar a morte dos pacientes: prescrição de medicamentos bloqueadores neuromusculares, associados a sedativos e analgésicos, seguidos de redução dos parâmetros de oxigênio nos respiradores dos pacientes. Após esse procedimento, diz o MP, as pessoas morriam de asfixia.
"É algo repugnante ao senso comum o fato de se escolher determinado paciente para morrer. É um exercício de onipotência, é brincar de Deus naquele momento", afirmou o promotor de Justiça Paulo Sérgio Markowicz de Lima. Segundo ele, pelo menos até este momento, a investigação não apontou nenhuma motivação econômica para o cometimento dos crimes.
O MP ressaltou que as provas reunidas comprovam a materialidade do crime. Foram usados os prontuários médicos, provas testemunhais e o conteúdo das interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça. "O artigo 167 do Código de Processo Penal permite a comprovação da materialidade indireta dos crimes, principalmente naqueles que não deixam vestígios", explicou a promotora de Justiça Fernanda Garcez. Segundo ela, as mortes ocorridas na UTI se enquadram nesse ponto. "É um crime que não deixa vestígios, Por isso foi descartada a exumação desses cadáveres, pois seria uma prova inconclusiva."
Dentre os prontuários analisados, a promotora disse que dois continham indicação terapêutica para uso dos medicamentos, mas nos outros não havia nenhuma explicação para o uso deles. "E temos testemunhas de que os padrões de ventilação foram reduzidos justamente no momento em que a pessoa precisava de suportes respiratórios."
A denúncia do MP foi protocolada na Vara de Inquéritos Penais. Após a distribuição da peça, o juiz terá prazo até o início da semana que vem para decidir se acolhe a denúncia. Nesse caso, os acusados se tornam réus no processo penal e começa a fase de produção de provas e oitiva de testemunhas.
Outro lado
O advogado de Virgínia, Elias Mattar Assad, criticou a denúncia e voltou a apontar a falta de provas contra sua cliente. Ele diz que os prontuários mostram apenas atos médicos e nada mais.
Acusação formal exclui médica indiciada
A médica Krissia Wallbach, que havia sido indiciada anteriormente pela polícia, não foi denunciada pelo Ministério Público. Segundo a promotora de Justiça Fernanda Garcez, não foi detectada relação entre a atuação dela e as sete mortes denunciadas. "Isso não significa que a participação dela ou de qualquer outro médico seja descartada", disse.
A médica Virgínia Souza foi acusada pelo MP por sete homicídios duplamente qualificados; o médico Anderson de Freitas, por dois homicídios; os médicos Edison Anselmo da Silva Júnior e Maria Israela Cortez Boccato e as enfermeiras Laís da Rosa Groff e Patrícia Cristina de Goveia Ribeiro, por um homicídio cada um.
A fisioterapeuta Carmencita Emília Minozzo e o enfermeiro Claudinei Machado Nunes não foram acusados por nenhuma morte, mas por formação de quadrilha, assim como todo o grupo. Esses três últimos não haviam sido citados no inquérito da Polícia Civil.
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