
Redes sociais
Uma tevê que será toda ouvidos
A decisão de restringir a grade nesta primeira etapa a sete horas de programação, entre 17 horas e meia-noite, foi tomada com base em pesquisas de audiência e penetração. "É tudo muito novo para Curitiba, ainda não sabemos se a programação vai ter aderência ou não. As pesquisas mostram que o nosso público-alvo assiste televisão nesse horário", explica Belmonte.
Ele aproveita para dar mais detalhes do target: "Classe AB, preocupados com a qualidade de vida, verdes, conectados, que consomem muita informação, mas a buscam on-demand, pinçando-a na mídia, no formato e no horário em que julgam mais conveniente", descreve. "Por isso vamos buscar essa aderência com a ajuda das redes sociais, pois os públicos são bem parecidos. Todos os programas terão páginas no Face[book], conta no Twitter, e vão trabalhar com o conceito de fãs. Vamos usar essas ferramentas para pedir o retorno do assinante, e se tivermos uma resposta positiva, podemos pensar em ampliar a grade mas com consistência, para ser economicamente viável. Não estamos fazendo uma aventura."
Cara a tapa
Mas talvez o grande trunfo da ÓTV, além da garra e do desejo genuíno de fazer algo novo, seja a disposição de dar a cara a tapa. Porque todos ali estão preparados para enfrentar a desconfiança e até a implicância histórica do público curitibano com a tevê feita aqui. "A gente está muito aberto. Tomar porrada faz parte. Em nenhum momento estamos afirmando o que funciona ou não, estamos propondo uma ideia", reforça Belmonte. "Se determinado formado não funcionar, se não houver aderência, vamos dar um passo atrás. Por isso queremos estar muito próximos dos telespectadores, ouvi-los, para que eles nos ajudem a fazer um produto melhor. Não estou dizendo que vai dar certo, mas estamos trabalhando muito para isso."
A partir da próxima terça-feira, 19 de abril, você vai se ver na tevê. Você e todas as pessoas que nasceram na região de Curitiba ou escolheram a cidade para viver. Às 17 horas, começa a funcionar no canal 23 da Net Curitiba a ÓTV, o mais novo projeto do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCom). "É o bebê do GRPCom, um sonho de muito tempo do grupo, que representa uma movimentação extremamente enriquecedora para a comunidade de Curitiba", resume o gerente-geral do canal, o gaúcho João Belmonte, oriundo da RBS. "Tecnicamente falando, é um canal de televisão como qualquer outro, mas com particularidades que o fazem bem diferente."
A principal é o fato de ser uma emissora "de Curitiba para Curitiba", nas palavras de Belmonte: "Vamos trabalhar o localismo, produzindo conteúdo para a pessoa que nasceu aqui ou escolheu a cidade para morar. É uma televisão para Curitiba, para os que curtem a cidade, sua qualidade de vida, estrutura, o clima...", enumera. "Será quase uma antropofagia cultural: vamos valorizar as manifestações artísticas locais, e oferecer mais espaço para a discussão dos problemas e soluções de Curitiba."
Ou seja, a ÓTV vai oferecer a possibilidade de o curitibano (natural ou adotivo) ter contato com a realidade e a fantasia da sua região, em programas que dizem respeito à cidade e seus habitantes, mas atraentes, com uma qualidade técnica e de conteúdo comparável à dos grandes canais da tevê por assinatura. "A nossa independência editorial é absoluta, não somos pautados por ninguém", garante o gerente geral. "Esta é a maneira como vamos construir a nossa relação com a comunidade."
Além de conquistar a simpatia e a audiência de quem vive na Região Metropolitana de Curitiba, a ÓTV pretende ser uma usina de talentos: "Queremos dar aos nossos profissionais a oportunidade de criar, inovar, galgar outros passos na carreira. Sejam eles da parte técnica, do jornalismo ou do casting", revela o gerente. "Vamos criar essas pessoas, aproveitar a visão delas em conjunto com a visão da própria comunidade, para construir a televisão."
É o caso da atriz e cantora Michelle Pucci, de 33 anos, contratada como editora do programa Noites Curitibanas. Formada em Jornalismo, com experiência na música, no teatro e na tevê, ela ficou sabendo do canal por intermédio de um amigo (Antônio Spina, da Spin Filmes, parceira da RPC TV nos "Casos e Causos") e resolveu arriscar: "Mandei o meu material, fiz a entrevista e o RH me ligou direto. Só soube o que ia fazer quando me contrataram para ser a editora do programa", conta.
Para ela, que já integrou a banda Nega Fulô e pertence à companhia cênica Vigor Mortis, do diretor Paulo Biscaia Filho, é uma experiência totalmente nova. "Tudo é novo. Eu faço a edição, apresento, gravo as cabeças e de vez em quando saio para alguma pauta. Mas dessa vez atuo bastante atrás das câmeras", explica. "É totalmente diferente de tudo o que eu já fiz, um desafio enorme. Mas o astral é demais, a equipe é ótima, e está rolando uma troca muito legal: o time é como um quebra-cabeças, um completa o outro. Eu entrei sem saber editar, mas com uma agenda boa, muitos contatos e experiência na área artística, e pude compartilhar isso."
Apesar de todo esse entrosamento, a tensão pré-estreia é grande: "Estou com frio na barriga desde o dia em que eu entrei. Quando eu vou fazer uma peça, dá um frio na barriga durante os primeiros 15 minutos, depois a gente relaxa. Agora, é o frio mais longo de todos os tempos", compara.
É esse espírito irrequieto que move a equipe da ÓTV. "O povo é jovem, antenado, conectado, com muita vontade de fazer algo diferente. É um bando de malucos, tanto que de vez em quando o tio aqui precisa trazê-los de volta para a Terra", resume João Belmonte.
Serviço: A programação da ÓTV vai ao diariamente no canal 23 da Net Curitiba, das 17 horas à meia-noite.
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