A quase um mês da abertura dos Jogos Olímpicos Rio-2016, uma preocupação fica cada vez mais latente entre as agências de segurança nacional: o Brasil é potencial alvo de terrorismo. Não apenas por sediar um dos maiores eventos esportivos mundiais, mas em razão da abertura do país (a maior nação católica do mundo) aos refugiados, da fragilidade na tríplice fronteira e do avanço do terrorismo com o ataque recente em Orlando, nos Estados Unidos, e ao aeroporto de Istambul, na Turquia.
Se os americanos e europeus, com know-how histórico contra ameaças externas, foram vítimas, seja de lobos solitários ou células terroristas coordenadas pelo Estado Islâmico (Isis, ou Daesh, em árabe), a falta de experiência brasileira pode facilitar a atuação de radicais no país. Em abril, a própria Agência Brasileira de Inteligência (Abin) confirmou a autenticidade de um post no Twitter de um integrante do Isis, que afirmou que o Brasil será alvo de ataques.
Sensação equivocada
“Existe a sensação de que o Brasil não é um alvo. Isso está ligado a nossa visão de sermos um país pacífico, com todas as etnias e religiões convivendo em paz, mas isso não pode esconder a ameaça terrorista do século 21. Quando o terrorista vai planejar um ato destes, escolhe alvos mais fáceis”, afirma o cientista político e professor de Relações Internacionais na ESPM, Heni Ozi Coukier. Ele já trabalhou no Conselho de Segurança da ONU, e é mestre em Resolução de Conflitos Internacionais pela American University, em Washington, Estados Unidos.
Segundo Coukier, o país está, sim, na mira do terror. “O terrorismo precisa de palanque. É natural que o Brasil seja um alvo (em razão dos Jogos Olímpicos). Vai ter delegações de muitos países. Alemanha não era alvo óbvio do terrorismo palestino em Munique, mas a delegação israelense era”, lembrou o especialista. Durante a Olimpíada de 1972, o ataque do grupo Setembro Negro a atletas israelenses deixou 18 pessoas mortas.
Foz do Iguaçu
A preocupação com o tema cresceu tanto que o Ministério da Defesa lançou durante a semana uma campanha para ensinar a população brasileira a identificar possíveis suspeitos de terrorismo aos moldes do que tem sido aplicado na Europa.
Foz do Iguaçu, Brasília e Rio de Janeiro contarão com uma sede provisória da Polícia Internacional (Interpol) para reforçar a segurança do país durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio-2016. Serão mais de 200 delegações de policiais estrangeiros que trabalharão nos centros de controles destas três cidades.
Na cidade fronteiriça do Paraná, os policiais federais contarão com apoio específico de agentes do Paraguai e Argentina, países que formam a tríplice fronteira.
Ação de lobos solitários é desafio, segundo Abin
Ataques de simpatizantes da ideologia propagada pelo grupo terrorista islâmico wahabita Estado Islâmico (Isis), chamados de lobos solitários, como o autor do ataque a boate gay em Orlando, estão também no centro da preocupação das agências de segurança do país.
Além de não manterem vínculos ou comunicações com grupos terroristas, há dificuldades de rastrear os passos desses lobos solitários para prevenir ataques já que, normalmente, são pessoas que não são monitoradas.
“A ação dos chamados “lobos solitários” representa desafio à atuação dos órgãos de segurança na prevenção ao terrorismo”, afirmou, por nota, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A agência diz ter desenvolvido uma série de metodologias e ferramentas para monitorar e identificar essas ameaças.
O que diz a PF
A Polícia Federal, por meio de nota, informou que os órgãos de inteligência da instituição não encontraram indícios, até o momento, que apontem para possível ataque terrorista durante os Jogos. Além disso, a PF afirmou que trabalha há mais de 20 anos com ações de inteligência de enfrentamento ao terrorismo e que, recentemente, ganhou reforço com a sanção da lei Antiterror, n.º 13.260/2016.