A chegada do mês de novembro marca a realização de Finados ou Dia dos Mortos. Foi o Abade Odilon, do mosteiro de Cluny, na França, quem instituiu por volta do ano de 1030 o dia 2 de novembro como a Festa dos Mortos, um dia para celebrar a memória dos falecidos. A data, que leva milhares de cristãos aos cemitérios com o intuito de rememorar e homenagear seus mortos, inicialmente tinha como objetivo garantir que as almas não sofressem pela ausência de sufrágios e orações, o que garantiria a salvação eterna de quem se foi.
Quatro séculos depois, agregado ao calendário católico, o Dia de Finados passou a ser celebrado de diversas formas ao redor do mundo. No Brasil, o tom de homenagem é mais solene. Os cemitérios recebem um grande fluxo de visitantes, que além de levar flores aos túmulos de seus entes queridos, também prestam homenagens aos santos e milagreiros sepultados em cemitérios.
Essa proximidade de datas entre o Dia de Todos os Santos e Finados não é ao acaso. Foi durante a Idade Média que o chamado enterro ad sanctos (junto aos santos) se popularizou como um tipo de ferramenta de auxílio na salvação das almas. Acreditava-se que a proximidade física dos corpos dos mártires, assim como o usufruto das orações a eles dirigidas, fossem maneiras de se ter uma proteção ao corpo físico e espiritual.
O culto aos mortos remonta às mais antigas civilizações. No calendário romano existiam duas festas dedicadas aos mortos: as parentalia, realizadas entre 13 e 21 de fevereiro, cujo objetivo era apaziguar os mortos com a oferenda de refeições, e as lemuria, em 9, 11 e 13 de maio, quando as almas eram exortadas a deixarem os vivos em paz e partirem para seu repouso.
Entre diferentes concepções religiosas os vivos sempre buscaram apaziguar seus mortos, seja com a oferenda de comidas e bebidas, comuns aos povos pagãos e paulatinamente abandonadas com o advento do catolicismo, às orações instituídas pelo cristianismo.
Um exemplo do sincretismo entre práticas consideradas pagãs e as práticas católicas é a comemoração do Dia dos Mortos no México. Contrário ao tom solene dedicado à data no Brasil, os mexicanos veem o Dia dos Mortos como uma data a ser comemorada. Isso porque acreditam que, no período entre os dias 1.º e 2 de novembro, os espíritos dos falecidos visitam seus parentes. Para isso, preparam verdadeiros banquetes em altares dedicados aos entes queridos. Comida, bebida, doces e o pan de muerto são cuidadosamente arranjados nas casas para recepcionar as almas.
Há certa hierarquia na comemoração de cada dia, sendo o primeiro dedicado às almas das crianças e o segundo, às dos adultos. Os mortos devem servir-se primeiro das refeições, por isso seus lugares são guardados à mesa. Há também o culto nos cemitérios, ricamente adornados, onde os vivos partilham alimentos entre as lápides ao som de música e iluminados por muitas velas.
A personagem criada pelo desenhista José Guadalupe Posada, originalmente chamada La Calavera Garbancera, era uma caveira usando sombreiro. A intenção do autor era pontuar que mesmo com a origem indígena o povo mexicano buscava referenciais no estilo europeu. Mais tarde, já no século XX, Diego Rivera rebatizou a personagem como La Catrina, uma dama de porte e elegância, mas ainda assim, uma caveira, representando a morte. La Catrina mesclou-se às caveiras e a toda iconografia do Dia dos Mortos, tornando-se um grande referencial à cultura mexicana e um grande atrativo turístico.