Como manter uma vida saudável em cidades caóticas, onde as pessoas passam horas no trânsito, o acesso à alimentos in natura é restrito e a qualidade do ar é quase sempre ruim? Em casa, nem sempre a situação melhora. É preciso lidar com uma habitação pouco ensolarada, de isolamento térmico ruim, sistema de aquecimento nocivo à saúde e saneamento precário. Investir para mudar esses aspectos contribui para melhorar a saúde das pessoas e gera economia ao cofres públicos.
É isso que a Organização Mundial de Saúde (OMS) quer mostrar aos gestores públicos, num processo de convencimento e capacitação. A intenção é ampliar os investimentos em ações de promoção de saúde que vão além dos hospitais e dos consultórios médicos, mexem no cotidiano das cidades, mudam hábitos e condições de vida.
“A relação da pessoa com o ambiente em que vive tem influencia sua saúde”
Confira a entrevista com Simone Moisés, organizadora da 22ª Conferência Mundial de Promoção da Saúde
Leia a matéria completa“Planejamos lançar um programa para capacitar os gestores do sistema de saúde para que avaliem quais políticas públicas podem melhorar a saúde das pessoas e quanto essas políticas refletem em economia para os serviços de saúde”, explica o médico Carlos Dora, coordenador do Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS.
O projeto deve começar a ser desenvolvido já no ano que vem em países africanos, “os que mais sofrem com a poluição e têm menos recursos para enfrentar o problema”. Há previsão de que até o fim de 2016 chegue algo aos países mais pobres da América do Sul. A intenção é que esses estudos ajudem a nortear a tomada de decisões de organismos como o Banco Mundial.
Cidade saudável
Esse plano da OMS está dentro do conceito de cidades saudáveis.Popular nos anos 1990 e 2000, pensar em cidades saudáveis é ter ambientes urbanos que ofertem serviços e meios para que seus moradores tenham mais saúde.
As ações variam de políticas de saneamento até o incentivo à realização de feiras públicas. Tudo pensando nos impactos que cada intervenção na cidade terá para a saúde e a qualidade de vida dos habitantes locais.
Boas práticas
Confira experiências que trouxeram bons resultados em quatro áreas da vida nas cidades:
Habitação
Investimento em casas populares com um bom isolamento térmico e bem ventiladas resultaram numa redução os gastos com saúde pública na Nova Zelândia. A experiência no país demonstrou uma queda nos casos de problemas respiratórios e psicológicos entre as pessoas que moravam em casas termicamente mais confortáveis. A OMS planeja para o ano que vem o lançamento de um guia com orientações para a construção de casas mais saudáveis. O material será direcionado a gestores públicos e construtores.
Energia
Querosene para aquecer a casa, lenha ou carvão para cozinhar ainda são realidades para muitas pessoas no mundo. O uso desse material causa o que se chama de poluição interna, responsável por cerca de 4 milhões de mortes a cada ano. Na Índia, a mudança dessa base energética – com a troca dos fogões à lenha por sistemas de indução e do aquecimento por querosene por energia solar ou gás – tem ajudado a salvar vidas e resultou na redução de custos com tratamentos de saúde.
Transporte
Aplicar recursos e pistas cicláveis, calçadas de qualidade e transporte público são recomendações da OMS. Com essas ações, há redução do tráfego – o que melhora a qualidade do ar – e incentivo a atividade física – o que contribui para afastar diversas doenças crônicas. Amsterdã é um exemplo disso. Na cidade, as bicicletas são usadas como meio de transporte pela maioria dos moradores, o que insere a atividade física no cotidiano. O sistema BRT adotado por Curitiba nos anos 1970 é apresentado como exemplo de boa prática de transporte público pela OMS.
Qualidade do ar
Além de um problema para o planeta, a poluição do ar é um dos grandes inimigos da saúde também. Em documento apresentado na COP 21, a OMS destaca que os mesmos benefícios das medidas para melhorar o clima – como a redução das emissões de CO2 e da queima de combustíveis fósseis – poderão ajudar a reduzir casos de doenças pulmonares e cardíacas. Por ano, cerca de 3,3 milhões de pessoas morrem devido a doenças relacionadas aos poluentes do ar.
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