Ponta Grossa A morte de um rapaz de 17 anos desencadeou uma onda de vingança em Ponta Grossa. Há três meses, o jovem Thiago Fontoura morreu atropelado por um caminhão. No último sábado, o pai do adolescente, o farmacêutico Hamilton Fontoura, matou a tiros o motorista do caminhão, José Honório da Silva, 36 anos. O farmacêutico já deveria ter se apresentado à polícia, mas a suspeita de que familiares do caminhoneiro estariam à espreita nas imediações da delegacia provocou mais um adiamento da apresentação. Emissoras de rádio da cidade chegaram a veicular que Fontoura teria cometido suicídio. Contudo, esta seria mais uma tentativa de acalmar os ânimos acirrados.
Segundo testemunhas, Thiago empinou a moto que pilotava quando contornava uma rotatória e acabou caindo. O motorista estava logo atrás, dirigindo um caminhão, e não conseguiu segurar o veículo. Silva era cliente da farmácia dos pais de Thiago. Assim que o acidente aconteceu, ele acionou a polícia e o Siate, e foi buscar a mãe do rapaz, que estava a poucas quadras do local. O pai de Thiago, Toni, como é conhecido na cidade, estava por perto e se aproximou da aglomeração de pessoas antes mesmo de saber que era o filho quem estava embaixo do rodado do caminhão. Precisou ser contido por amigos e sedado.
Desde então, os vizinhos não reconheciam mais o homem simpático e prestativo que estava sempre debruçado no balcão. Militar reformado e ex-candidato a vereador, ele vendeu a farmácia e abandonou a distribuidora de gás que administrava. Era sempre visto perambulando pela rua. "Ele me disse várias vezes que era culpado pela morte do filho", conta a vizinha Rose Dal Gobo. O motivo da sensação de culpa era a moto dada de presente havia poucos meses, e que o rapaz usava para fazer trilhas nos finais de semana.
A alteração no comportamento culminou com o assassinato. Toni foi até o distrito de Itaiacoca, onde o motorista morava. Chamou por ele na casa de um parente e, quando Silva se aproximou, disparou três tiros, um no pescoço e dois no tórax. Silva estava desarmado e não teve possibilidade de defesa. O delegado do 2.º Distrito, Marcus Vinícius Sebastião, que estava investigando a responsabilidade pelo atropelamento, agora também cuida do caso de homicídio. Segundo o laudo da perícia, o motorista não teve culpa no acidente. O bafômetro apontou que Silva não estava embriagado e o tacógrafo do caminhão registrou que não estava além da velocidade permitida. No depoimento que prestou, um amigo de Thiago, que o acompanhava em outra moto, disse que o caminhoneiro não teria como evitar a colisão.
O advogado do farmacêutico, Valdemiro Lanzarin, informou que ele irá se apresentar e que está ciente do que fez e disposto a pagar pelo crime. "A situação dele é juridicamente complicada", admite o advogado. Para Sebastião, o caso poderá ser enquadrado como homicídio qualificado por ter sido premeditado, pela brutalidade e por se tratar de vingança. "Ele agiu por si, julgou e condenou o motorista à morte", resume. Contudo, o estado emocional e fato de estar tomando fortes medicamentos contra a depressão são fatores que podem atenuar o caso. O delegado informa ainda que a família do rapaz deverá ser responsabilizada por ter dado a moto para um menor de idade.
O delegado reconhece que já ouviu boatos de que a família do motorista prometeu vingança. Ele apela para que, daqui para a frente, o caso seja conduzido exclusivamente pela polícia e pelo Ministério Público, até chegar à Justiça.
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