Ao entrar pelos portões do Pequeno Cotolengo Paranaense, no bairro Campo Comprido, em Curitiba, o visitante se vê dentro de um ambiente onde tudo tem uma história para contar. Começa pela pequena gruta que abriga a figura do fundador da casa, o padre dom Luis Orione, cuja mensagem lembra a que veio a instituição: “Só a caridade salvará o mundo”.
Ao todo, a instituição possui hoje cerca de 200 moradores, entre homens e mulheres de todas as idades e com deficiências múltiplas – físicas e mentais –, 300 colaboradores e 700 voluntários. Um patrimônio construído com muita dedicação e esforço ao longo dos últimos 50 anos. Algo que vai além dos prédios e benfeitorias que somam 15 mil m2 de área construída.
Comunidade
Erguer tal obra só foi possível graças ao carinho da comunidade, conforme lembra o diretor-presidente do Cotolengo, padre Renaldo Mauri Lopes. Ele conta que a sede do Campo Comprido começou a ganhar vida quando o casal Antonio e Maria Tokarki doou o terreno. Em seguida, vieram os inúmeros voluntários, que abriram a estrada e cortaram o mato. A construção do segundo Pequeno Cotolengo do país começou em 25 de março de 1965.
A administração era realizada por padres e irmãs, que se cotizavam na realização de quermesses e festas organizadas pela comunidade a fim de arrecadar fundos para iniciar as construções. Daí surgiu a ideia do churrasco beneficente. O primeiro foi em 1973, montado em uma barraca improvisada no meio do terreno. Segundo as atas guardadas, o público foi de cerca de 80 pessoas. A corrente do bem, que mobiliza no primeiro domingo de cada mês em torno de 450 voluntários, não parou mais. Hoje, o evento reúne mais de cinco mil pessoas.
Quem atesta o empenho em colocar a instituição em funcionamento e proporcionar qualidade de vida para os moradores com deficiências múltiplas é uma das funcionárias mais antigas que ainda permanece no Cotolengo. Rita Ferreira Barreto, 73 anos, atualmente trabalha na lavanderia da instituição. Foi voluntária na década de 1970. Vinha todas as tardes cortar mato para fazer vassoura e varrer o forno do pão, que era lá fora. Na época, levava os dois filhos pequenos pela mão para servir de companhia e ajudar no trabalho.
Não demorou muito e ela foi convidada para trabalhar na cozinha. Eram pouco mais de 20 moradores, mas havia muito trabalho a ser feito. No último dia 9 de abril, Rita completou 34 anos de atuação no Cotolengo. O seu presente diário, lembra ela, são os abraços por onde passa. Foi cozinheira, dedicou-se como cuidadora nos lares Maria Nazaré, Anjo da Guarda, Santa Terezinha e São Francisco. “Uma das moradores chegou aqui com 4 anos; hoje tem 37. São como meus filhos.”