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Tranquilidade

Onde o tempo passa mais devagar

Jardim Olinda tem 1.409 habitantes, número que representa menos de 0,1% do total de moradores  de Curitiba | Fotos:Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Jardim Olinda tem 1.409 habitantes, número que representa menos de 0,1% do total de moradores de Curitiba (Foto: Fotos:Albari Rosa/ Gazeta do Povo)
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Jardim Olinda - Há uma sensação de que o tempo se move mais devagar em Jardim Olinda. Sob o forte calor típico de um local às margens do Rio Paranapanema, pessoas observam a vida passar sentadas na varanda de suas casas ou conversam pacientemente em frente dos estabelecimentos comerciais. Ao passear pelas poucas ruas que cortam a área urbana, é impossível ao visitante passar despercebido ao olhar curioso dos moradores. Afinal, estamos no menor município do Paraná em número de habitantes, onde é comum todos se cumprimentarem, saudarem seus interlocutores pelo nome e comentarem o que acontece no pacato cotidiano local.

Jardim Olinda está na Região Noroeste, a 540 quilômetros de Curitiba, no ponto mais extremo ao norte do estado. Segundo o Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a cidade tem 1.409 habitantes, a menor população entre os 399 municípios paranaenses. Em termos de comparação, o número representa menos de 0,1% do total de moradores da capital ou o suficiente para lotar o Centro de Convenções de Curitiba.

O comércio serve para dar uma dimensão das estatísticas reduzidas que envolvem Jardim Olinda. Nas lojas, que podem ser contadas nos dedos, os atendentes passam mais tempo conversando do que atendendo à reduzida clientela. O único posto de combustível que havia na cidade fechou há mais de dois anos, exigindo que os motoristas abasteçam nos municípios vizinhos. Em um antigo armazém de madeira, poucos produtos restam nas prateleiras, alguns visivelmente armazenados há bastante tempo. "Eu já nem vendo mais, fico cuidando da roça", diz, cheia de sotaque, Blacia de Las Nieves, uma paraguaia que há mais de 50 anos deixou o país natal rumo ao Paraná.

Ela não é a única que chegou jovem em Jardim Olinda para não sair mais. Áurea Corazza de Oliveira saiu de Bocaina, em São Paulo, com 11 anos de idade. Em território paranaense conheceu o baiano Odilon Lopes de Oliveira, com quem se casou, teve dois filhos, e pretende viver até o fim de seus dias. "Já recebi vários convites para sair, mas não aceitei", diz a professora aposentada, que recentemente ganhou o título de Miss Simpatia da terceira idade. O concurso foi organizado para promover o apelido que a cidade ganhou, de "Capital da Simpatia". Os moradores não sabem ao certo a origem do título, mas querem crer que é por causa da receptividade a quem vem de fora.

Para aqueles que já estão na terceira idade e buscam um pouco de sossego, Jardim Olinda pode ser o destino ideal. Já para quem ainda tem toda uma vida pela frente, quais as perspectivas que o município oferece? Com 14 anos de idade, Antônio Carlos Viela sabe que logo terá de deixar a cidade se quiser prosseguir com os estudos. "Quero fazer faculdade de Mecânica. Como aqui não tem, o jeito vai ser ir para outra cidade", diz. O município oferta apenas os ensinos fundamental e médio.

Existem aqueles, por outro lado, que não se mostram dispostos a encarar a cidade grande. Aos 20 anos, Felipe Reis Pacheco já esteve em centros maiores, como Curitiba e Guaratuba, mas garante que não troca a tranquilidade de Jardim Olinda por nada. "Não me acostumo com cidade grande. Aqui é melhor, tem meus amigos, minha namorada", reconhece o rapaz, que trabalha em uma oficina mecânica e, como grande parte da população jovem local, tem como principal diversão se refrescar no rio no fim da tarde.

Receitas baixas são problema

Administrar o menor município do Paraná tem suas vantagens e desvantagens. Se por um lado a população reduzida faz com que as demandas do poder público sejam menores, por outro há dificuldade em viabilizar recursos para obras e melhorias. Com um orçamento de R$ 8,5 milhões, a prefeitura de Jardim Olinda depende do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) para se manter. Em novembro, o município deve receber em torno de R$ 400 mil do FPM. Segundo o prefeito, Juraci Paes, receitas como as do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto Sobre Serviços (ISS) são reduzidas, pelo fato de o município ter sua economia baseada na agricultura e de não existirem indústrias. Além do comércio, a cidade conta apenas com uma olaria. Juraci aponta outro problema. "Como são poucos eleitores, os deputados não nos dão muita atenção. Isso dificulta a obtenção de recursos dos governos estadual e federal".

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