Construir casas emergenciais para famílias em situação precária é a missão que a ONG Teto executa em Curitiba e região metropolitana desde 2014. O modelo de atuação da organização sem fins lucrativos é totalmente participativo, contando hoje com 147 voluntários fixos na capital paranaense. “A importância do modelo de trabalho ser focado no voluntariado é a formação da consciência e da ação social. É um dos objetivos estratégicos do Teto”, afirma Aline Tavares, diretora da Teto no Paraná.
A história de um voluntário
Bernardo Ansai Coelho, técnico em eletrônica, afirma que o principal aprendizado que teve como voluntário do Teto foi o de não julgar as pessoas de baixa renda. “O mais importante é não julgar ninguém, não discriminar ninguém. É preciso entender a situação do outro e tentar ajudar.”
Coelho conheceu o Teto em dezembro do ano passado e já participou três vezes no programa “Construção em Família”. Ele está indo para a quarta participação, talvez agora como líder de construção. “São geralmente dois líderes por projeto. Eles fazem o contato com a família, pedem ajuda, fazem a articulação entre os voluntários e a família beneficiada.”
Coelho afirma que começa a ter bastante gente se interessando pelo Teto em Curitiba e que hoje a dificuldade maior é conseguir apoio financeiro para atingir todas as metas que o grupo gostaria. Segundo ele, o Teto tem grande importância por conseguir atuar em áreas que o governo não consegue chegar. “Damos esperança para pessoas que não recebem todo o auxílio necessário. Às vezes o que as pessoas precisam é de sentido na vida, e o Teto promove isso.”
Trabalhando dessa forma, explica Aline, fica mais fácil mobilizar pessoas para a causa porque elas acabam conhecendo a realidade das favelas de perto. “Depois dessa experiência, a maioria das pessoas torna-se mais consciente quanto ao seu papel de agente transformador da sociedade. Não fica apenas reclamando sem fazer nada para melhorar, quebra-se preconceitos e paradigmas”, afirma.
Cada unidade construída custa cerca de R$ 6,5 mil e, para financiá-las, a entidade capta doações de apoiadores. Segundo Aline, a maior parte da receita do Teto vem de empresas, mas, por conta da crise, os recursos se tornaram mais escassos, o que tem levado a entidade a apostar na captação com indivíduos. Para isso, a organização criou o programa “Construção em Família”. Por esse modelo, um grupo de cerca de dez pessoas faz a captação – de modo a dividir o esforço para conseguir levantar os recursos – para, em seguida, ajudar a erguer as moradias.
Trinta casas já foram construídas nesse programa e outras duas dezenas devem ser fabricadas até dezembro. “É um programa muito bom, funciona como se a área de captação ganhasse ‘captadores’ para ajudar a conseguir recursos, além de trazer pessoas novas comprometidas com a causa.”
Neste ano, a organização começou a apostar também no financiamento coletivo online. O Teto lançou neste mês uma campanha para financiar a construção de 21 casas em outubro. Para engajar pessoas de todo o Brasil, a entidade conta com dois “embaixadores” – Andressa Neves, voluntária da Teto, e Ronan Oliveira, apoiador da causa e ex-BBB – que estão empenhados em vencer o desafio de tornar o projeto possível. “A campanha é no formato tudo ou nada, caso não seja atingida a meta de captação estabelecido, os recursos voltam para seus doadores e o projeto não acontece.” A campanha vai até o dia 2 de outubro e as contribuições podem ser a partir de R$ 10, no site benfeitoria.com/canal/tetobrasil.
As famílias são selecionadas para a construção a partir de um levantamento sócio-econômico. Aquelas que aderem ao programa precisam pagar, como contrapartida, R$ 200 pela moradia construída, além de participarem de reuniões comunitárias, atividades pré-construção, mobilizarem amigos e vizinhos a ajudar no projeto e trabalhar na construção com os voluntários. “O índice de inadimplência gira em torno de 20% a 30%. O pagamento é importante, pois torna todo o trabalho mais participativo, - famílias e Teto trabalham em conjunto - e também porque quando você olha para o total arrecadado , este valor faz a diferença para execução de outros projetos ou construção de mais casas”, afirma Aline.
Mesmo com as dificuldades atuais por conta da crise, os números do Teto em Curitiba e região metropolitana são expressivos. Em 2014, quando iniciaram as atividades na capital, foram construídas cinco casas. Em 2015 foram 55 casas. E neste ano, até agora a entidade levantou 40 casas, com a previsão de erguer outras 49 até o final de dezembro. A organização está presente na América Latina e no Caribe. No Brasil, apenas quatro estados brasileiros – São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Paraná – têm sedes da entidade.
As origens do Teto em Curitiba
A paixão de Aline Tavares por ajudar as pessoas a terem sua moradia própria começou em 2012, quando pela primeira vez foi voluntária da Teto, em São Paulo. “O que me marcou foi conhecer uma moça de 16 anos, Daiana, que, ao olhar a casa que tinha sido construída para ela, me disse: ‘Antes eu morava num barraco. Agora eu tenho uma mansão”. A tal mansão que Daiana a se referia, conta Aline, era uma casa do Teto que a própria Daiana tinha ajudado a construir. “Ela dizia que ali tinha um pedaço dela. Eu olhava para aquela casa super simples, de madeira, perto de muito lixo, e refletia sobre como para ela era excelente, e, para mim, algo muito simples”.
Para Aline, são vivências como essa que fazem a diferença. “Nunca tinha pisado numa favela antes. Serviu para quebrar preconceitos”. Depois dessa experiência, ela se empenhou para trazer o Teto para Curitiba. “O pessoal do Teto achava que não havia problemas de moradia em Curitiba. Mas nós mostramos para eles que havia muitos locais em que a entidade poderia trabalhar.” Em 2014, os trabalhos, então, começaram de forma incipiente, ainda sem constituir formalmente a organização. No ano seguinte, o Teto foi formalizado em Curitiba.
Ao longo de quase três anos de trabalho em Curitiba e região, a entidade mapeou cerca de 100 comunidades carentes, levantando informações e desenvolvendo dois mapas temáticos com detalhadas informações sócio-econômicas, que servem de base para articular a estratégia da organização.
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