Uma rede composta por 33 entidades brasileiras do setor ambiental, encabeçada por uma organização não governamental paranaense, apresentou na terça-feira uma petição à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) requerendo a proibição da importação, fabricação e comércio de termômetros de mercúrio. O pedido para uma regulamentação mais rígida na utilização do produto teve como base um estudo realizado em oito países em desenvolvimento. A amostra revelou que 83% dos hospitais e consultórios ainda utilizam termômetros à base de mercúrio, metal pesado altamente tóxico, que pode afetar o desenvolvimento cerebral e o sistema nervoso. A rede de entidades, no entanto, não quer simplesmente a proibição, e sim um debate amplo sobre os perigos do mercúrio. Na petição encaminhada à Anvisa, o grupo requer ainda que todos os termômetros do gênero em uso no país sejam devolvidos para as autoridades sanitárias e que recebam destinação adequada. "Não queremos só o banimento e a retirada. O governo precisa investir em subsídios para que baixe o preço dos termômetros digitais", disse Zuleica Nycz, coordenadora da pesquisa e membro da Comissão Nacional de Segurança Química (Conasq). Com financiamento vindo do Ministério do Meio Ambiente da Alemanha, a Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Cianorte (Apromac), no Noroeste do Paraná, foi a única entidade brasileira a participar do estudo.
Preço
No Brasil, a pesquisa revelou ainda que todos os profissionais de saúde entrevistados sabiam dos riscos à saúde causados pelo mercúrio e que 88% não viam diferença de precisão entre os dois tipos de termômetro. A diferença de preço, no entanto, é o que dificulta a adoção de aparelhos não tóxicos, conclui o levantamento. Para o médico pediatra Cleber Eduardo Franchin, de Maringá, o custo-benefício é justamente a razão pela preferência dos profissionais pelo termômetro de mercúrio. "Ele tem um custo baixo, por isso é bastante utilizado. O digital é caro, precisa de bateria e descalibra com facilidade. Ainda não há uma tecnologia mais confiável e barata que possa ter um uso padronizado pelos profissionais. Eu sou a favor de diminuir os metais pesados, mas ainda não temos um equivalente tão confiável", disse o médico.Em relação à contaminação ambiental, o médico acredita que os instrumentos guardados nas residências têm mais chance de oferecer algum risco. "Dentro dos consultórios as quedas são menores e, caso venham a acontecer, o profissional sabe como dar um fim adequado ao instrumento. Já em casa, a chance de o termômetro ir para o lixo comum é de quase 100%", argumentou.
Descarte
Segundo a Anvisa, desde 2007 o setor de vigilância de pós-comercialização não recebeu nenhuma notificação de acidente ou contaminação envolvendo os termômetros de mercúrio. Ainda conforme a agência, o descarte desses termômetros no âmbito doméstico é de responsabilidade do poder público municipal. Nas unidades de saúde, como hospitais e clínicas, a destinação desse resíduo deve seguir as exigências normativas que a Anvisa impõe.
Em junho, o Brasil participará da primeira reunião internacional que discutirá um tratado sobre mercúrio. Ela será realizada pelo Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente (Pnuma), na Suécia. De acordo com Zuleica Nycz, da Conasq, países como Argentina, Índia e Filipinas já proibiram o uso do metal.
* * * * *
Interatividade
O termômetro digital já se tornou tão confiável quanto o de mercúrio?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.