Mercúrio usado nos termômetros é tóxico, mas Anvisa alega que metal nunca entra em contato com pacientes e médicos| Foto: Ivan Amorim

Acompanhamento

Anvisa não vê risco para a saúde

Em nota, a Anvisa respondeu à reportagem alegando que o metal presente nos termômetros clínicos com coluna de mercúrio fechada não entra em contato nem com o paciente nem com o operador, por isso não há risco de contaminação na utilização normal desses equipamentos. Também não há possibilidade de dispersão no ar, já que o mercúrio está confinado em circuitos fechados.

Segundo a agência, o Inmetro baixou uma norma em 2007 regulamentando o uso dos instrumentos. Desde então, antes de colocá-los no mercado e receber o registro, a empresa deve comprovar o atendimento a todos os requisitos de segurança e orientar os consumidores sobre o uso correto e a prevenção de acidentes.

A permanência desses produtos no mercado vem sendo discutida internamente pela Anvisa, que também tem acompanhado de perto as ações adotadas por outros países. No entanto, uma medida mais radical, como a proibição da fabricação e comercialização desses produtos apenas se justificaria se amparada em evidências epidemiológicas – caso o uso normal do mesmo acarretasse risco comprovado pela ocorrência de acidentes frequentes. "Até este momento, o termômetro clínico com mercúrio não se enquadra em nenhum desses critérios", diz a nota. A Anvisa ainda não tem uma resposta sobre a petição protocolada pela ONG paranaense.

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Cuidados

Quem tem termômetro de mercúrio em casa pode reduzir os riscos de acidente.

- Evite batidas ou solavancos na posição horizontal.

- Evite mudanças bruscas de temperatura.

- Não coloque o instrumento sobre superfícies metálicas ou qualquer outro material que possa causar choque térmico, sob risco de quebra.

- Nunca aqueça o termômetro em chama viva.

- Em caso de quebra, recolha o mercúrio em um recipiente de vidro com tampa plástica e envie-o ao fabricante do termômetro.

- Nunca jogue mercúrio no lixo doméstico, pois ele é altamente tóxico e poluente.

- Em caso de contaminação, os sinto­mas são: problemas digestivos, náu­­seas e diarreias, tremores nas mãos e pálpebras e infecção nas gengivas. Nesses casos, procure atendimento médico o quanto antes.

Uma rede composta por 33 entidades brasileiras do setor ambiental, encabeçada por uma organização não governamental paranaense, apresentou na terça-feira uma petição à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) requerendo a proibição da importação, fabricação e comércio de termômetros de mercúrio. O pedido para uma regulamentação mais rígida na utilização do produto teve como base um estudo realizado em oito países em desenvolvimento. A amostra revelou que 83% dos hospitais e consultórios ainda utilizam termômetros à base de mercúrio, metal pesado altamente tóxico, que pode afetar o desenvolvimento cerebral e o sistema nervoso. A rede de entidades, no entanto, não quer simplesmente a proibição, e sim um debate amplo sobre os perigos do mercúrio. Na petição encaminhada à Anvisa, o grupo requer ainda que todos os termômetros do gênero em uso no país sejam devolvidos para as autoridades sanitárias e que recebam destinação adequada. "Não queremos só o banimento e a retirada. O governo precisa investir em subsídios para que baixe o preço dos termômetros digitais", disse Zuleica Nycz, coordenadora da pesquisa e membro da Co­­missão Nacional de Segurança Química (Conasq). Com financiamento vindo do Ministério do Meio Am­­biente da Alemanha, a Associa­ção de Proteção ao Meio Ambien­te de Cianorte (Apromac), no No­­roeste do Paraná, foi a única entidade brasileira a participar do estudo.

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Preço

No Brasil, a pesquisa revelou ainda que todos os profissionais de saúde entrevistados sabiam dos riscos à saúde causados pelo mercúrio e que 88% não viam diferença de precisão entre os dois tipos de termômetro. A diferença de preço, no entanto, é o que dificulta a adoção de aparelhos não tóxicos, conclui o levantamento. Para o médico pediatra Cleber Eduardo Franchin, de Maringá, o custo-benefício é justamente a razão pela preferência dos profissionais pelo termômetro de mercúrio. "Ele tem um custo baixo, por isso é bastante utilizado. O digital é caro, precisa de bateria e descalibra com facilidade. Ainda não há uma tecnologia mais confiável e barata que possa ter um uso padronizado pelos profissionais. Eu sou a favor de diminuir os metais pesados, mas ainda não temos um equivalente tão confiável", disse o médico.Em relação à contaminação ambiental, o médico acredita que os instrumentos guardados nas residências têm mais chance de oferecer algum risco. "Dentro dos consultórios as quedas são menores e, caso venham a acontecer, o profissional sabe como dar um fim adequado ao instrumento. Já em casa, a chance de o termômetro ir para o lixo comum é de quase 100%", argumentou.

Descarte

Segundo a Anvisa, desde 2007 o setor de vigilância de pós-comercialização não recebeu nenhuma notificação de acidente ou contaminação envolvendo os termômetros de mercúrio. Ainda conforme a agência, o descarte desses termômetros no âmbito doméstico é de responsabilidade do poder público municipal. Nas unidades de saúde, como hospitais e clínicas, a destinação desse resíduo deve seguir as exigências normativas que a Anvisa impõe.

Em junho, o Brasil participará da primeira reunião internacional que discutirá um tratado sobre mercúrio. Ela será realizada pelo Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente (Pnuma), na Suécia. De acordo com Zuleica Nycz, da Conasq, países como Argentina, Índia e Filipinas já proibiram o uso do metal.

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