A prisão de 16 acusados de desviar R$ 30 milhões em doações feitas à Associação Brasileira de Assistência a Pessoas com Câncer (Abrapec) e ao Grupo de Apoio a Pessoas com Câncer (GAPC) deixou entidades filantrópicas preocupadas com os efeitos negativos do noticiário. Elas temem que os danos morais causados pelas duas organizações não-governamentais (ONGs) envolvidas no caso respinguem em quem não tem nada a ver com a história e doadores suspendam as contribuições.
"Credibilidade e transparência é o que sustenta uma organização do terceiro setor", diz a presidente da Associação dos Amigos de Hospital de Clínicas de Curitiba, a advogada Maria Elisa Ferraz Paciornik. Nesse meio não pode haver um pingo sequer de desconfiança, já que a maioria das ações depende das contribuições dos voluntários. A associação existe há 15 anos e trabalha em diferentes setores do hospital, ajudando nas prioridades definidas pela direção.
Segundo Maria Elisa, a repercussão negativa envolvendo as duas entidades que eram usadas para desviar dinheiro das contribuições pode refrear o espírito benevolente dos doadores, pelo menos temporariamente. A preocupação chegou também à Legião da Boa Vontade (LBV), uma das maiores instituições do gênero no Brasil.
"Sempre que há notícias de irregularidades em organizações sem fins lucrativos, os danos se refletem, em grau maior ou menor, nas demais instituições", diz a assessora de imprensa da LBV, Marta Trigueiro. "Isso é extremamente lamentável, visto que existem milhares de entidades sérias que atendem milhões de pessoas em situação de pobreza", completa. Fundada há 56 anos, a Legião atende crianças, adolescentes, adultos e idosos.
Maria Elisa observa que os doadores têm, sim, o direito de ficar desconfiados quando vêem notícias de mau uso de suas contribuições, mas nem por isso devem deixar de ajudar. Uma das formas de não ver seu dinheiro em mãos erradas é acompanhar o trabalho da instituição que receberá a doação. Uma visita ao local ajuda a ver se a ONG realmente existe e presta os serviços anunciados. Para quem é mais desconfiado, vale consultar a Secretaria de Assistência Social do município para buscar referências sobre a instituição. No caso de Curitiba, a Fundação de Ação Social (FAS) tem um cadastro de entidades sem fins lucrativos.
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