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Filantropia

ONGs mostram o caminho da dor à ação

Curitiba – Ao parar na Avenida Kennedy, em Curitiba, para socorrer um acidente em 1985, a decoradora Amélia Chedid ficou desesperada. A vítima era a própria filha, de 13 anos, que acabava de ser atropelada e não resistiu aos ferimentos. O mundo parecia ter terminado para ela, mas do sofrimento nasceu vida. E muita. Ao invés de alimentar a angústia pela perda, Amélia decidiu criar a Associação Curitibana de Órfãos da Aids (Acoa) e auxiliar inúmeras crianças nos últimos 12 anos.

Histórias de organizações não-governamentais (ONGs) como a de Amélia mostram qual é o verdadeiro potencial dos brasileiros, de empreendedorismo e solidariedade. Muitas das cerca de 275 mil ongs identificadas no país, de acordo com o último levantamento do IBGE, surgiram pelo idealismo de seus fundadores e sobrevivem a duras penas, informa Luiz Carlos Merege, coordenador do centro de estudos do Terceiro Setor da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.

Enquanto senadores no Congresso batalham para conseguir investigar organizações suspeitas de fraudes ao receber recursos federais – o Tribunal de Contas da União encontrou irregularidades em pelo menos R$ 82 milhões repassados, tendo analisado apenas uma pequena amostra dos contratos (leia ao lado) – essas entidades sofrem para conseguir o pouco que precisam para continuar funcionando. No caso da Acoa, que mantém 30 crianças portadoras do HIV, além de dar suporte a outras 420 pessoas, entre outros doentes e seus familiares, a carga mensal de gastos de R$ 18 mil reais é coberta em parte com dinheiro público, R$ 7 mil. O restante, R$ 11 mil, com doações e iniciativas, como bingos, bazares e a venda de artesanato.

Outras instituições no país seguem apenas com recursos próprios. Esse é o caso da Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual. A Laramara, como é mais conhecida, também é fruto de uma tragédia pessoal transformada em empreendimento social. Há 29 anos, a professora de geografia Mara Olímpia de Campos Siaulys teve uma filha, Lara, em uma gestação com menos de sete meses. Por causa da incubadora, a pequena teve um problema na retina e ficou cega.

"Abandonei a minha profissão, apesar de ser professora efetivada, e fui me dedicar a estudar sobre deficiência para aprender a me comunicar com a Lara", lembra Mara.

Quando Lara completou 7 anos, Mara fez pedagogia, se especializou em atendimento a crianças com deficiência visual e começou a trabalhar na Santa Casa, em São Paulo, como voluntária. Percebendo a dificuldade de outros pais com filhos na mesma situação se uniu a outras profissionais para criar a Associação, hoje com 16 anos. O pai de Lara, Victor Siaulys, empresário, decidiu assumiu o "prejuízo". Nesse período, mais de 8 mil famílias passaram pela organização e 600 crianças e jovens participam dos serviços e são beneficiados pelas atividades.

Os exemplos de solidariedade continuam em outros estados. No Rio de Janeiro, o casal de engenheiros Jacob e Clara Steinberg, da construtora Servenco, mantém com o capital da família o Instituto Steinberg, uma ong para crianças e adolescentes carentes. São mais de 3 mil pessoas atendidas, em atividades complementares na área artística, cultural e esportiva. "O instituto está mudando a vida de muitos jovens. Descobrimos talentos e os potencializamos. E isso é gratificante", afirma Clara.

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