A despeito da desatenção de pedestres e de uso indevido de canaletas, a pressa de motoristas dos ônibus de Curitiba e região também é apontada como ingrediente da mistura que vitimou duas pessoas em menos de 15 dias na capital. Na última semana, a Gazeta do Povo mediu a velocidade de quatro linhas diferentes e constatou que, quando não há congestionamento, na maioria delas os ônibus trafegam no limite e, em alguns, casos até o ultrapassam.
A medição foi realizada com um aplicativo que simula o velocímetro, testado previamente em um veículo da Gazeta do Povo. Os 60 km/h toleráveis de vias como a Victor Ferreira do Amaral e João Leopoldo Jacomel, por exemplo, é a velocidade constante de motoristas que trafegam nessas vias quando o trânsito está livre. Já na canaleta da Rua Sete de Setembro, um motorista ultrapassou em três pontos distintos os 50 km/h permitidos.
Moradora de Pinhais, Neuza Aparecida de Souza, 51 anos, vê imprudência. "Os motoristas estão sempre apressados, não sei se por causa de metas ou porque enrolam no terminal", palpita a auxiliar de cozinha, que diz já ter presenciado um acidente na linha Pinhais/Guadalupe. "No ano passado, uma freada jogou os passageiros no chão. Minha filha até machucou braço."
As infrações dos motoristas de ônibus (não apenas os do transporte coletivo) geraram neste ano, até 30 de junho, 233 multas aplicadas por equipamentos eletrônicos 64% do total de 2013. A Urbs, por sua vez, em 2014 emitiu 70 autos de infração por mês às empresas de ônibus por desrespeito às leis de trânsito, nove a mais do que a média mensal de 2013. Esses números ajudam a explicar os recentes atropelamentos.
No último dia 11, uma adolescente morreu atropelada por um biarticulado na Avenida Sete de Setembro. Menos de 15 dias antes, um homem de 61 anos também morreu atingido por um ônibus na Rua XV de Novembro. Ontem, no Capão da Imbuia, um ciclista de 18 anos sobreviveu após ser acertado por um biarticulado. Nos últimos dois anos, foram 194 atropelamentos fatais em Curitiba, 27 deles envolvendo ônibus.
Segundo testemunhas, esses acidentes têm em comum a desatenção. Há relatos de que os jovens estivessem com fones de ouvido. Na última sexta, porém, a reportagem andou em um biarticulado a 54 km/h na Sete de Setembro quatro acima do limite. Nessa velocidade, diz o matemático Ricardo Zanardini, seriam necessários 34 metros para frenar um ônibus quatro a mais do que o necessário se ele estivesse dentro do limite. "Isso em condições ideais e sem levar em conta a massa [do veículo]", diz o professor do Grupo Uninter.
Mas, mesmo ciente dos riscos, ainda há quem aprove os excessos. "Eu sempre espero por um motorista que calcula os semáforos e consegue ir a 60 [km/h]. Chego mais cedo, mas é claro que peço a Deus para dar certo", diz o pedreiro Davi dos Santos Silva, 38 anos.
Sem pressa
A pressa de alguns motoristas, segundo especialistas ouvidos pela reportagem, não pode ser associada à necessidade de ganho na velocidade média dos ônibus do transporte coletivo de Curitiba e região metropolitana. Atualmente, essa velocidade é de 17 km/h para toda a rede três abaixo do mínimo ideal para o sistema.
Sua opinião
Você já presenciou ônibus acima da velocidade permitida? A que isso pode ser atribuído e o que pode ser feito para melhorar a segurança?Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.