Kelly Kauany da Silva, 5 anos, costumava acordar às 5h30 para se aprontar para a escola. Pegava o ônibus às 6h15 na companhia do irmão mais velho e andava 15 quilômetros numa estrada vicinal cheia de curvas até chegar à escola onde faz o 1.º ano do ensino fundamental em Ivaí, nos Campos Gerais. Mas essa rotina foi rompida na semana passada. O eixo da roda do ônibus em que ela estava quebrou e o veículo bateu num barranco. Kelly caiu e fraturou o braço. Ela vai ficar dois meses sem ir à escola. O acidente revela a falta de segurança no transporte escolar rural feito no Paraná.
Como não conseguem atender a demanda com veículos próprios, as prefeituras terceirizam o serviço. No início do ano são abertas as licitações. Conforme o presidente da Associação dos Municípios do Paraná (AMP), Luiz Lázaro Sorvos, o ano de fabricação dos veículos não é um item exigido na maioria dos editais. As prefeituras também não são cobradas por isso. O Departamento de Trânsito do Paraná (Detran) informa que não há uma normativa estadual nem mesmo federal para regular a questão. As prefeituras, portanto, ficam responsáveis por regulamentar a vida útil dos veículos utilizados no transporte escolar rural.
Em Prudentópolis, no Centro-Sul, no final de março deste ano, uma estudante de 7 anos estava em pé dentro da Kombi escolar em movimento numa estrada rural quando o veículo passou por um buraco e a porta se abriu. A estudante foi lançada para fora da Kombi e ficou hospitalizada, mas se recuperou e voltou a frequentar as aulas. A prefeitura informou que o caso ainda está sendo investigado e não pode afirmar se a porta se abriu por falta de manutenção no veículo.
Segundo o Detran, o cinto de segurança é exigido para os veículos de transporte coletivo independente do ano de fabricação. Em Ivaí, alguns ônibus circulam sem o acessório que garante a segurança dos passageiros.
O responsável pelo transporte escolar na Secretaria Municipal de Educação de Ivaí, Francisco Grohovski, diz que o ônibus acidentado já foi substituído e que não há mudança prevista no contrato, que vence no final do ano. O gerente da empresa, Adilson Pereira, afirma que a manutenção da frota de 20 ônibus que operam em Ivaí é constante. Além de Kelly, outras cinco crianças se machucaram levemente no acidente da semana passada. Os pais, que são fumicultores, vão tentar ajudar a filha nos estudos para ela não ficar atrasada no conteúdo. "Mas, ela é canhota e quebrou justo o braço esquerdo", acrescenta a mãe Carmem.