Começam a chegar hoje a Curitiba os corpos das vítimas do acidente envolvendo um ônibus da Viação Nossa Senhora da Penha, ocorrido na madrugada de ontem, em São Paulo. Até o fechamento desta edição, oito moradores da capital e região metropolitana foram confirmados entre os 15 mortos. O veículo despencou de uma ribanceira de 10 metros, na BR-116, quando se aproximava de São Paulo. A maioria dos 32 feridos é de moradores de Curitiba que estavam seguindo para o Rio de Janeiro para passar o Natal com familiares.
Em uma curva, o ônibus saiu da pista da rodovia Régis Bittencourt e capotou várias vezes. Eram 2h05. Muitos passageiros dormiam. O veículo, de dois andares, ficou "amassado" e os passageiros que estavam na parte superior sofreram maior impacto. A lista de passageiros com os nomes dos feridos e dos mortos só foi liberada no final da tarde de domingo. Duas pessoas estavam internadas em estado grave e um rapaz de 18 anos teve o pé amputado.
O vendedor Danilo dos Anjos soube na tarde de domingo que a mãe, Justa Lindamir dos Anjos, de 54 anos, morreu no acidente. Morador de Jacarepaguá, zona oeste do Rio, Danilo estava há um ano sem ver a mãe, que vivia em Curitiba. Ela iria ao Rio de Janeiro para passar o Natal com o filho e com outros parentes.
Na rodoviária, familiares dos passageiros estavam revoltados com a falta de informações. O mecânico de moto Cleiton José da Silva era um deles. "Não consigo saber de nada. É um desrespeito. A empresa não consegue me dizer o que houve com ela." Mais tarde, a mãe de Cleiton, Iva Pereira da Silva, de 64 anos, moradora de Curitiba, teve a morte confirmada.
Três mulheres sobreviventes, ente elas Rosileine Paulino, 36, chegaram às 14h ao Rio. Ela exibia um ferimento na região lombar. "Foi muito de repente. O ônibus saiu da pista. Nasci de novo", disse a passageira, que acrescentou que não houve freada antes da queda na ribanceira.
Perigo na pista
Em nota, a Viação Penha informou que "se solidariza com os familiares e amigos das vítimas". A rodovia Régis Bittencourt é uma das mais perigosas do Brasil, segundo um levantamento feito pela Polícia Rodoviária Federal. Em 2013, aconteceram 866 acidentes com 423 feridos e 36 mortos. O trecho mais violento fica entre o km 270 e o km 280, na região de Taboão da Serra, Grande São Paulo. Ali, segundo o estudo, aconteceram este ano 268 acidentes, com 167 feridos e sete mortos.
"Não senti o ônibus frear", diz sobrevivente
A psicóloga Elizabete Souza Lima diz que não sentiu o ônibus frear antes de cair em um barranco. "Eu dormia, e acordei com o ônibus já caindo na ribanceira; não senti nenhuma freada. Tenho sorte de estar aqui, inteira", disse. Quatorze passageiros que estavam no ônibus seguem internados. O Pronto Socorro de Embu das Artes recebeu quatro passageiros e todos já tiveram alta hospitalar. Luciana Quitanilha (que perdeu um filho no acidente), Marta Siqueira e Janaina Maura Moura Fraga tiveram ferimentos leves e receberam a alta durante a tarde de domingo.
Mesma situação se verifica no Pronto Socorro de São Lourenço da Serra, que recebeu seis vítimas e concedeu alta a cinco delas uma continuava internada, apenas para observação. Já no Hospital Geral de Pirajussara, um homem e cinco mulheres continuavam internados na noite de domingo.
Vítimas
Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Jimena Aranda
Feliz com a aprovação recente para cursar o doutorado no Rio de Janeiro, a professora de Direito Jimena Aranda, de 43 anos, viajava com a mãe para passar o Natal com familiares na capital fluminense. Ele coordenava a área de Direito Cível no Núcleo de Práticas Jurídicas da PUCPR.
De acordo com a coordenadora do curso de Direito da instituição, Simara Carvalho Duarte, Jimena iria pesquisar, na relação entre Psicologia e Direito, a situação dos menores carentes do Rio de Janeiro. "Perdemos uma grande profissional", disse.
Ela era conhecida em Curitiba pela atuação na área social e de direitos humanos, especialmente no cumprimento ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Há dois anos, concedeu entrevista à Gazeta do Povo contando como foi abandonar o balé para seguir a carreira jurídica. Sua última postagem no Facebook foi: "Não há necessidade alguma de ter medo. Você pode perder apenas aquilo que tem que ser perdido. E é bom que perca logo porque quanto mais tempo ficar, mais forte aquilo se torna."
Reprodução/Facebook
Érico Roberto Bittencourt
Entre as vítimas está o fisioterapeuta Érico Roberto Bittencourt, de 30 anos, que viajava com o filho. O menino, de sete anos, ficou ferido, sem gravidade. Morador de São José dos Pinhais, Érico era formado no Rio de Janeiro e estava indo visitar a família. Joice Bittencourt falou sobre a perda do irmão. Abalada com a perda, a jornalista disse que a "ficha ainda não havia caído". "Ele morava há seis anos no Paraná e estava vindo passar as festas conosco", disse. O menino morava com o pai em São José dos Pinhais e deverá voltar ao Paraná para ficar com a mãe, que reside em Antonina.
Reprodução/Facebook
Ademilde G. Salles
A cabeleireira Ademilde Guimarães Salles, de 60 anos, também morreu no local. Casada há mais de 40 anos com Julio Cezar de Oliveira Salles, 65 anos, que morreu no acidente. Numa rede social, ela se definia como "cabeleireira empresária, maquiadora, vascaína e Mocidade no carnaval do Rio de Janeiro" e dividia a vida entre Curitiba e a capital fluminense.