Juliano passou por exames no IML, antes de ser encaminhado ao Complexo Médico-Penal, em Piraquara| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

O ex-vereador de Curitiba, Juliano Borghetti, – irmão da vice-governadora Cida Borghetti e um dos personagens da briga entre as torcidas do Atlético e do Vasco em Joinville (SC), há dois anos – foi preso na manhã desta terça-feira (15) pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público do Paraná (MP-PR). A prisão faz parte de um “complemento” da operação Quadro Negro, articulada nos últimos meses pela Polícia Civil para investigar o desvio de recursos públicos que deveriam ter sido destinados a obras em escolas do estado. Neste momento, o Gaeco descarta o envolvimento de outros políticos no caso.

CARREGANDO :)

Vida política

Juliano Borghetti tem vínculos com famílias importantes na política paranaense. É irmão da vice-governadora do estado Cida Borghetti (Pros-PR) – que, por sua vez, é casada com o deputado federal Ricardo Barros (PP). Barros foi relator do Orçamento de 2016 e suspeito de direcionar uma licitação de publicidade da prefeitura de Maringá.

Além disso, Borghetti foi casado com a também ex-vereadora de Curitiba Renata Bueno, eleita, em 2013, como deputada no Parlamento Italiano.

O ex-vereador exerceu seu mandato na Câmara de Curitiba pelo Partido Progressista (PP).

Além de Borghetti, que teve prisão temporária (de cinco dias) autorizada pela Justiça, também foram presos preventivamente (por até 30 dias) o responsável pela empresa Valor Construtora e Serviços Ambientais, Eduardo Lopes (que já havia sido preso na primeira etapa da investigação pela Polícia Civil), e o filho dele, Gustavo Baruque de Souza.

Publicidade

Segundo o coordenador do Gaeco, Leonir Batisti, depoimento de testemunhas ouvidas apontam que Borghetti teria recebido da empresa valores mensais de R$ 15 mil para que agilizasse os repasses do estado.

As investigações do Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) concluíram que a Valor Construtora realizava uma porcentagem muito pequena das obras dos colégios previstas em contratos, mas que, por causa de documentos fraudados, conseguia receber pelos serviços, mesmo que nunca os tivesse prestado.

“O dinheiro era para ele fazer os trabalhos de agilização dos processos de interesses da empresa, principalmente liberação de recursos, junto à Casa Civil”, disse Batisti. Embora essa seja a principal linha de investigação do Gaeco, a ligação entre o ex-vereador e os trâmites realizados diretamente na Casa Civil ainda não foram confirmados.

Em setembro, operação apreendeu R$9 milhões em bens

Leia matéria completa.

“O que eu queria reafirmar é, que, por ora, não existe nenhuma confirmação de que o Borghetti tenha ido a Casa Civil e feito alguma agilidade ou contatasse alguém de lá”, ressaltou o coordenador. Ele explicou que o suposto envolvimento de Borghetti com os desvios foi denunciado diretamente ao Ministério Público, depois de a investigação já ter sido finalizada no âmbito da Polícia Civil - o que ainda precisa ser confirmado. Isso, de acordo com ele, justifica o fato de o Gaeco ter apurado a situação, e não no Nurce, que desenrolou o caso.

Publicidade

Presos em Piraquara

Depois de passarem a manhã na sede do Gaeco, o trio foi levado para o Instituto Médico Legal (IML) e, de lá, encaminhado ao complexo penal de Piraquara. O ex-vereador está detido no Complexo Médico Penal, segundo o advogado dele, Claudio Dalledone Júnior.

Segundo o advogado, a prisão de Borghetti foi motivada por um “elemento pueril”, e, até o momento, não se sustenta porque não houve envolvimento confirmado.

O ex-vereador e outros dois presos ligados à empresa Valor, no IML 

“Sob hipótese nenhuma existe ligação de Juliano Borghetti com a [empresa] Valor, com desvio de dinheiro, com qualquer prática criminosa”, afirmou.

Embora em entrevista Dalledone Júnior tivesse dito que teve acesso aos documentos e adiantado que outras autoridades - secretários e/ou deputados estaduais - também estão sendo investigados, o coordenador do Gaeco nega envolvimento de outros nomes do cenário político estadual do esquema.

Publicidade

“Não existem políticos envolvidos. Nós nos limitamos, nesse complemento de investigação, a um fato específico que foi denunciado para obter informações e confirmações desse fato”, disse Batisti.

Além das prisões, o Gaeco efetuou também dois mandados de busca e apreensão nesta terça-feira. Foram retidos R$9 mil em espécie que estavam com Juliano Borghetti e uma Mercedes. O carro está em nome de uma terceira pessoa, mas conforme Batisti, era utilizado por um dos empresários presos. Por isso, o veículo ficará sob guarda da Justiça. Caso confirmada as ligações da empresa investigada, o carro será leiloado para arcar com parte dos prejuízos sofridos pela Seed.

A reportagem tentou inúmeras vezes, por telefone, ouvir representantes da empresa Valor, mas as ligações não foram atendidas.

Investigações

O Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), da Polícia Civil, deflagrou a primeira fase da operação Quadro Negro em julho. De começo, foram destrinchados dez contratos entre a Seed e a Valor Construtora, firmados entre 2011 e 2014.

Pelos dez contratos, a empresa já teria recebido cerca de R$ 25 milhões da Seed. Mas a grande maioria dos serviços mencionados nas faturas não havia de fato sido realizada. Nesta etapa, ainda foram presos o ex-diretor da Secretaria de Estado da Educação Maurício Fanini e os donos da Valor Construtora e Serviços Ambientais, com sede em Curitiba.

Publicidade

Numa segunda etapa, bens na ordem de R$ 9 milhões foram apreendidos pelo Nurce. Todos eram da empresa Valor Construtora. Entre os veículos apreendidos, está um Porsche Cupê 911 avaliado em R$ 1 milhão.