O novo departamento da Advocacia-Geral da União (AGU), criado no governo Lula para "combater desinformação sobre políticas públicas", vem recebendo uma série de críticas pela internet e será alvo de parlamentares de oposição.
O deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) informou que entrou com uma representação no Ministério Público e apresentou um Projeto de Decreto Legislativo para impedir a iniciativa do governo petista. Segundo Kataguiri, não cabe ao poder Executivo fazer uma análise do que é ou não é verdade.
"Isso é coisa de um estado autoritário. E é absolutamente inaceitável que o executivo haja como ‘grande irmão’ observando os passos de cada cidadão e os punindo em razão disso", acrescentou.
Para o parlamentar a iniciativa do governo petista, pode ser comparada ao "ministério da verdade" do livro 1984, de George Owell. No romance distópico, publicado pela 1ª vez em 1949, o órgão era responsável por reescrever documentos e obras literárias, de forma a editar fatos históricos de maneira inverídica.
"Acredito que seja um ministério da verdade, sim porque a gente nunca teve um monitoramento sobre a opinião das pessoas em relação às políticas publicas do governo, para depois processar essas pessoas, caso elas deem um informação que desagrade ao governo", disse.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também informou que deve entrar com um PDL para barrar o decreto do governo de Lula. "Quem criticar política pública será processado. Quem vai pagar por isso? Você mesmo com seus impostos. Mais um PDL para entrar”, escreveu o parlamentar carioca.
Qualquer projeto para impedir a criação da Procuradoria precisará ser pautado e aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Portanto, só deve seguir para análise a partir de fevereiro no início dos trabalhos do Legislativo.
Procuradoria na AGU
A Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia poderá, entre outras coisas, “representar a União, judicial e extrajudicialmente, em demandas e procedimentos para resposta e enfrentamento à desinformação sobre políticas públicas”. Isso significa que qualquer membro do poder público terá à sua disposição um órgão da União capaz de representá-lo judicialmente em todo caso que couber no amplo e genérico conceito de “desinformação”, o que facilita a censura por parte do poder público.
No decreto de criação da procuradoria, não consta quais serão os critérios que serão utilizados pela área para a definição do que seria uma informação legítima ou “fake news”. Também não detalha como será a estrutura da nova procuradoria e qual metodologia para monitoramento dos fatos será utilizada.
Um aviso do novo advogado-geral da União, Jorge Messias, durante a cerimônia de sua posse, na segunda-feira (2), dá pistas sobre a utilidade do novo dispositivo: “Ataques a autoridades que presenciamos nos últimos anos não serão mais tolerados”, afirmou.
Repercussão
A iniciativa do governo petista recebeu duras críticas e questionamentos nas redes sociais. O economista Alexandre Schwartsman perguntou aos seus seguidores no Twitter, com a imagem do decreto: “Qual a diferença entre crítica e desinformação quando tratamos de políticas públicas?”.
A deputada federal Adriana Ventura (Novo-SP) criticou o nome dado à procuradoria em “defesa da democracia”. “Nada abala mais a Democracia do que decretos “em nome” da Democracia. Para defender a República e a Democracia existe a Constituição! Basta cumpri-la sem canetadas”, escreveu a parlamentar.
Para a deputada eleita Sílvia Waiãpi (PL-AP), a iniciativa do governo petista fere o direito a informação e liberdade de expressão. “Ao meu ver, além de ser materialmente inconstitucional, isso vai extrapolar o poder regulamentar que a AGU, por lei não tem”, declarou.
O presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, apontou como “retrocesso” a criação de uma procuradoria especial para “monitorar e processar críticos ao governo”. “A primeira semana do governo Lula nem chegou à metade e já ganhamos um pacotão de retrocessos”, escreveu.
STF decide sobre atuação da polícia de São Paulo e interfere na gestão de Tarcísio
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Falas de ministros do STF revelam pouco caso com princípios democráticos
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora