Os mecanismos de intimidação a policiais mantidos nos quartéis e batalhões acabam provocando consequências à sociedade. Agentes e especialistas em segurança pública apontam que os policiais submetidos a esse tipo de perseguição tendem a desenvolver um comportamento violento para além dos muros da corporação. Dessa forma, a cultura da violência se mantém.
“Um policial que é perseguido dentro do quartel, que sofre só porque o superior [hierárquico] quer mostrar poder, faz o ‘pau cantar’ lá fora. Ele vai descontar no primeiro que aparecer na rua. O policial sai ‘vibrando’, com ‘sangue nos olhos’, mas por um lado negativo. É aí que vêm os abusos”, diz um oficial da PM, que pediu para não se identificar.
O coordenador do Grupo de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o sociólogo Pedro Bodê, aponta que a solução do problema passa por um novo código que leve em conta a desmilitarização da PM. “O reflexo do que acontece nas ruas é resultado do arbítrio que ocorre dentro das organizações. É preciso transformar os policiais em trabalhadores, com um perfil para lidar com a população civil”, avalia.
O ex-secretário Nacional de Segurança Pública, coronel José Vicente da Silva, diz que o alto volume de sindicâncias e procedimentos internos em uma corporação por motivos banais revelam um problema de comando, em que a cúpula tenta se impor pela força. “Quando isso ocorre é porque muito provavelmente o relacionamento entre os superiores e a tropa não vai bem. Então o comando tenta mostrar poder.”
Analistas apontam que forças de segurança de ponta, como o Exército dos EUA e a polícia inglesa, há décadas apostam em um sistema de valorização e respeito aos comandados. “O subordinado precisa se sentir respeitado e importante para a corporação”, diz Vicente da Silva.
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