A corrupção policial se confunde com a própria história da polícia. A informação é do doutor em História e professor Marcos Bretas, um estudioso do funcionamento da polícia no Brasil. Segundo ele, quando a polícia foi constituída a função não previa pagamento ou, quando previa, os salários eram baixíssimos. Hoje, de acordo com Bretas, há dois tipos de corrupção policial: os subornos por uma ação isolada que está no passado, e práticas que acobertam a continuidade do crime. Esses casos, para Bretas, são os mais graves. "É uma disfunção completa. É o policial abrindo mão de sua atividade como um todo para viver no mundo do crime. É esse que precisa ser mais controlado", opina. Leia a entrevista que o especialista concedeu à Gazeta do Povo.
Como começou a corrupção policial no país?
É algo muito antigo. A polícia foi constituída no Brasil sem pagamento ou com salários muitos baixos e apurando renda dos serviços que prestava. Originalmente, a corrupção era parte da função policial. Quando se começou a distinguir, com a instituição de regras para proibir o recebimento extra, a corrupção permaneceu com várias práticas de "dar um jeitinho", com pagamentos que vão desde uma cervejinha até valores altíssimos.
O jeitinho brasileiro tem ligação intrínseca com a corrupção policial no país?
Tem. As resoluções são sempre informais aqui. O Brasil tem um gosto pela informalidade. A lei no país é uma coisa tão complicada, tão demorada, tão confusa, que as pessoas sempre preferem resolver conversando.
Há diferentes tipos de corrupção policial?
Essencialmente há dois tipos de corrupção, que são diferentes e que devem ser tratados de forma diferente. Uma é aquela em que aconteceu alguma coisa e o policial recebe dinheiro ou benefício para fechar os olhos para o fato passado. Pode ser alguém que avançou um sinal ou até um atropelamento. A outra corrupção é aquela que permite que o crime continue atuando. O corrupto recebe dinheiro do jogo do bicho ou do tráfico, por exemplo, para que os bandidos continuem cometendo crimes.
Há diferença em relação à gravidade desses tipos?
O segundo é mais grave porque permite que o crime permaneça. É uma disfunção completa. É o policial abrindo mão de sua atividade para viver no mundo do crime. É esse tipo que precisa ser mais controlado. Preocupar-se muito com um policial que recebe uns trocados porque avançou o sinal não é tão significativo.
O caso envolvendo o rapaz que atropelou e matou o filho de Cissa Guimarães é um exemplo do primeiro tipo? Não é também um caso gravíssimo?
Sim, mas o fato de o rapaz pagar aquele policial não significa que ele podia continuar atropelando todo mundo que tivesse pela frente. Foi para acobertar um fato passado. Então, tem uma diferença. O que o rapaz fez é muito grave, mas não se trata de um criminoso, o rapaz não é um bandido. A corrupção era referente a um crime anterior. A polícia joga exatamente nessas dificuldades, com pessoas que se consideram pessoas de bem, digamos assim. Foi grave porque está ligado a uma morte.
Como deveria ser tratado o primeiro tipo de corrupção?
A preocupação maior deve ser com casos ligados ao crime sistemático. Para a pequena corrupção cotidiana precisamos pensar formas de regulação mais efetivas, evitá-la é muito mais importante do que puni-la. Chamou-me a atenção que no caso em pauta tudo mudou quando se soube que a vítima era filho de alguém. Fosse um skatista pobre da Rocinha talvez a corrupção seria mais viável e a expectativa seria que ninguém sairia atrás de câmeras... Foi um caso de vítima errada.
A corrupção tem aumentado ou diminuído?
Eu acho que tem diminuído. Eu sou otimista nesse sentido. Hoje, nesse tipo de acontecimento, os controles são mais altos, a polícia tem mais consciência, o número de bons policiais se tornou mais significativo. Quem faz isso está mais exposto hoje em dia do que esteve em outras épocas.
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Falas de ministros do STF revelam pouco caso com princípios democráticos
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Síria: o que esperar depois da queda da ditadura de Assad
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora