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Saúde pública

Ortopedia é o gargalo do SUS no Paraná

Paulo Strack desistiu de operar o calcanhar pelo SUS após quase um mês de espera e resolveu pagar pela operação | Henry Milléo/Gazeta do Povo
Paulo Strack desistiu de operar o calcanhar pelo SUS após quase um mês de espera e resolveu pagar pela operação (Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo)
Antônio Kuvasney está sem trabalhar desde abril por causa de uma lesão |

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Antônio Kuvasney está sem trabalhar desde abril por causa de uma lesão

A ortopedia é a quinta especialidade com maior número de profissionais no Paraná. São 723 médicos, conforme registros do Conselho Regional de Medicina (CRM). Mesmo assim, a assistência a vítimas de torções ou traumas ósseos é apontada como o maior gargalo do sistema público de saúde do estado. Por causa da demora para marcar consultas, pacientes são obrigados a esperar até um ano pelo tratamento, que geralmente exige exames, retornos e cirurgias.

São casos como o da aposentada Sebastiana Fidelix Cristelli, 83 anos, que ficou 23 dias no corredor do Hospital Universitário de Maringá (HU) – com a perna fraturada – à espera de uma cirurgia. E o do motorista Antônio Kuvasney, 62 anos, residente em Pinhais, região metropolitana de Curitiba, que está desde abril sem trabalhar por causa de um problema no quadril. Ele teve o primeiro atendimento relativamente rápido – 30 dias –, mas esperou mais quatro meses pela segunda consulta e ainda terá de fazer novos retornos até resolver seu problema. Para piorar, não conseguiu o auxílio-doença no INSS.

O presidente do CRM, Carlos Roberto Goytacaz Rocha, que é especialista em ortopedia e traumatologia, diz que o problema não é a falta de profissionais, mas a demanda excessiva, a gestão ineficiente e os investimentos insuficientes. Só no Hospital do Trabalhador, um dos três pronto-socorros que prestam atendimento de trauma na região de Curitiba, 290 pessoas por dia são atendidas –50% delas vítimas de traumas, em média.

Complicadores

A alta demanda faz com que a maioria dos profissionais fique nos pronto-atendimentos, faltando equipe para o atendimento ambulatorial, destinado a acompanhar os pacientes que não apresentam risco de morte. "Quando eu me formei, há 40 anos, os traumas ortopédicos graves eram os de guerra, o que a gente só via nos livros. Hoje, com os automóveis que andam a 180 quilômetros por hora, as lesões de guerra estão nas ruas", resume.

Além disso, Rocha fala que, em Curitiba, os especialistas que atuam no atendimento público têm que conviver com a falta de condições de trabalho – o que vai da carência de materiais básicos à ausência de centro cirúrgico – e também com a remuneração baixa. Situação que também se aplica ao interior. Como consequência, muitos migram para o serviço particular ou para convênios.

Vinícius Filipak, diretor de Políticas de Urgência e Emergência da Secretaria de Estado da Saúde, admite que no Paraná, como em todo o Brasil, os recursos disponíveis para a área não são suficientes. Para ele, a situação só será controlada com a conscientização da sociedade. "Para estabelecermos um equilíbrio entre oferta e procura [por atendimento ortopédico], precisamos de um trabalho interinstitucional, que envolva também a fiscalização da Lei Seca, fechamento de bares a partir de determinado horário e campanhas de trânsito, enfim, um conjunto de medidas."

Brasil

O Ministério da Saúde não dispõe de um sistema de informações sobre quais são os gargalos no atendimento público no país. Porém, informa que está em andamento um levantamento nacional que pretende mapear as principais necessidades regionais por profissionais de saúde. A pesquisa, que não tem data para ser concluída, deverá subsidiar a elaboração de um planejamento que permitirá uma distribuição mais igualitária dos profissionais nas diferentes regiões.

Paciente cansa de esperar e paga cirurgia

Juliana Gonçalves, Derek Kubaski e Denise Paro, das sucursais

O tempo de espera por procedimentos na área de ortopedia pode chegar a um ano no Paraná. Em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, quem precisa receber uma prótese total de ombro, por exemplo, tem que ficar na fila por até 12 meses. Na região, o Hospital Vicentino é o único credenciado pelo SUS a realizar esse tipo de procedimento. A lista de espera tem mais de 200 pacientes.

A demora se repete no atendimento de traumas que exigem cirurgias de média complexidade, nesse caso, encaminhados ao Hospital Municipal Amadeu Puppi. Porém, mesmo em situações emergenciais, a espera pode ser de quase um mês. Foi o que ocorreu com o mecânico Paulo Roberto Strack. Em fevereiro deste ano, ele escorregou do telhado de casa e fraturou o calcanhar. Strack ficou 21 dias internado no Hospital Municipal à espera de uma cirugia. Nesse período, recebeu apenas medicação para suportar a dor.

Cansado de aguardar, desistiu do SUS. Fez um empréstimo de R$ 4,8 mil e realizou a operação em uma clínica particular de Ponta Grossa, 26 dias depois do acidente. Strack conta que já gastou R$ 1 mil com fisioterapia e medicação.

Fila

Cento e setenta e três dias é, em média, o tempo de espera em Londrina. Há quatro tipos de cirurgias de alta complexidade que exigem mais paciência da população, entre elas ortopedia. No topo da lista estão as cirurgias gerais, que incluem as torácicas, proctológicas, vasculares e endócrinas. Em seguida, pela ordem, a espera maior é por cirurgias ginecológicas, ortopédicas e otorrinolaringológicas.

Um levantamento dos últimos três anos, feito pela Secretaria Municipal de Saúde, mostra que hoje 16 mil pacientes aguardam para fazer cirurgias eletivas em diferentes especialidades.

Medida

Em Foz do Iguaçu, o reduzido número de leitos, aliado ao alto índice de criminalidade e de acidentes no trânsito, estrangulam o sistema de atendimento e fazem com que a fila de espera passe de três meses. O secretário de Saúde, Alexandre Kraemer, diz que para resolver o problema o município contratou os serviços do Hospital Cataratas. Dessa forma, segundo ele, a fila que chegava a oito meses caiu para três. Até o final do ano, a prefeitura pretende normalizar o atendimento.

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