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Religião

Os condenados pela Igreja

Várias personalidades foram excomungadas pela Igreja Católica por atitudes de rebeldia ou por questões de doutrina. Foram reis, rainhas, revolucionários e até uma cantora

Henrique VIII, da Inglaterra - Por causa do segundo casamento, com Ana Bolena, ele entrou em conflito com o papa Clemente VII. Depois disso, criou a Igreja Anglicana |
Henrique VIII, da Inglaterra - Por causa do segundo casamento, com Ana Bolena, ele entrou em conflito com o papa Clemente VII. Depois disso, criou a Igreja Anglicana (Foto: )
Elizabeth I, da Inglaterra - Era filha de Henrique VIII e Ana Bolena. Após um período em que o país voltou à comunhão com a Igreja Católica, ela retomou o estabelecimento da Igreja Anglicana |

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Elizabeth I, da Inglaterra - Era filha de Henrique VIII e Ana Bolena. Após um período em que o país voltou à comunhão com a Igreja Católica, ela retomou o estabelecimento da Igreja Anglicana

Napoleão Bonaparte - O conflito do imperador francês com o Papa Pio VII tinha como pano de fundo as guerras entre potências na Europa. Napoleão queria que o Papa apoiasse a França, o que Pio VII não fez. Napoleão foi excomungado em 1809, depois de anexar os Estados Pontifícios. Após a excomunhão, o exército francês capturou o Papa e o manteve preso até 1814 |

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Napoleão Bonaparte - O conflito do imperador francês com o Papa Pio VII tinha como pano de fundo as guerras entre potências na Europa. Napoleão queria que o Papa apoiasse a França, o que Pio VII não fez. Napoleão foi excomungado em 1809, depois de anexar os Estados Pontifícios. Após a excomunhão, o exército francês capturou o Papa e o manteve preso até 1814

Juan Perón - O presidente da Argentina legalizou o divórcio e a prostituição e, com isso, também irritou a Igreja. Foi excomungado em 1955 depois de decretar a expulsão de dois clérigos argentinos: Manuel Tato, bispo auxiliar de Buenos Aires, e Ramón Novoa |

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Juan Perón - O presidente da Argentina legalizou o divórcio e a prostituição e, com isso, também irritou a Igreja. Foi excomungado em 1955 depois de decretar a expulsão de dois clérigos argentinos: Manuel Tato, bispo auxiliar de Buenos Aires, e Ramón Novoa

Martinho Lutero - Ele foi avisado antecipadamente, em 1520, para se arrepender de suas teses (a principal delas era o questionamento sobre o pagamento das indulgências). Mas queimou, em praça pública, o aviso do Papa. Foi excomungado em 1521 – a essa altura, a reforma protestante já estava em curso |

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Martinho Lutero - Ele foi avisado antecipadamente, em 1520, para se arrepender de suas teses (a principal delas era o questionamento sobre o pagamento das indulgências). Mas queimou, em praça pública, o aviso do Papa. Foi excomungado em 1521 – a essa altura, a reforma protestante já estava em curso

Marcel Lefèbvre - Arcebispo francês tradicionalista que, ao lado do bispo brasileiro Antônio de Castro Mayer, ordenou quatro bispos sem a autorização do Vaticano, em 1988. A excomunhão atingiu os dois bispos consagrantes e os quatro ordenados. Em 2009, Bento XVI perdoou os bispos ordenados, mas não anistiou Lefebvre e Castro Mayer, já mortos |

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Marcel Lefèbvre - Arcebispo francês tradicionalista que, ao lado do bispo brasileiro Antônio de Castro Mayer, ordenou quatro bispos sem a autorização do Vaticano, em 1988. A excomunhão atingiu os dois bispos consagrantes e os quatro ordenados. Em 2009, Bento XVI perdoou os bispos ordenados, mas não anistiou Lefebvre e Castro Mayer, já mortos

Sinéad O’Connor - Em 1992 ela rasgou uma foto do Papa João Paulo II no programa americano Saturday Night Live. Além disso, a cantora irlandesa se ordenou sacerdotisa em uma seita dissidente do catolicismo. A Igreja pune com excomunhão automática qualquer simulação de sacramento – como foi o caso, já que mulheres não podem ser ordenadas |

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Sinéad O’Connor - Em 1992 ela rasgou uma foto do Papa João Paulo II no programa americano Saturday Night Live. Além disso, a cantora irlandesa se ordenou sacerdotisa em uma seita dissidente do catolicismo. A Igreja pune com excomunhão automática qualquer simulação de sacramento – como foi o caso, já que mulheres não podem ser ordenadas

Fidel Castro - João XXIII excomungou Fidel em 1962, quando o governo cubano já havia dado uma guinada em direção ao comunismo. O Papa se baseou no decreto de 1949 que excomungava todos os adeptos da doutrina socialista |

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Fidel Castro - João XXIII excomungou Fidel em 1962, quando o governo cubano já havia dado uma guinada em direção ao comunismo. O Papa se baseou no decreto de 1949 que excomungava todos os adeptos da doutrina socialista

Henrique IV, da Alemanha - Disputou com o Papa o direito de nomear bispos e outras autoridades eclesiásticas e foi acusado de ser mandante do sequestro de Gregório VII, em 1075. No ano seguinte, o Papa excomungou Henrique. Em 1077, o imperador prestou uma série de penitências e passou três dias do lado de fora do palácio papal, na neve e em jejum, até ser perdoado pelo Papa |

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Henrique IV, da Alemanha - Disputou com o Papa o direito de nomear bispos e outras autoridades eclesiásticas e foi acusado de ser mandante do sequestro de Gregório VII, em 1075. No ano seguinte, o Papa excomungou Henrique. Em 1077, o imperador prestou uma série de penitências e passou três dias do lado de fora do palácio papal, na neve e em jejum, até ser perdoado pelo Papa

Eduardo Aguirre - O padre foi excomungado em 2006 porque pregou doutrinas contrárias às da Igreja Católica. Hoje ele faz parte da Igreja Católica Apostólica Brasileira, um grupo que, apesar do nome, não tem vínculo nenhum com o Vaticano |

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Eduardo Aguirre - O padre foi excomungado em 2006 porque pregou doutrinas contrárias às da Igreja Católica. Hoje ele faz parte da Igreja Católica Apostólica Brasileira, um grupo que, apesar do nome, não tem vínculo nenhum com o Vaticano

O que significava para uma população inteira ver seu imperador excomungado pela Igreja Católica? Certamente simbolizava o caos. Primeiro, porque a palavra excomungar – que vem do latim "ex communio" e quer dizer "fora da comunidade" – está sempre associada a algo ruim, a alguém que contraiu algum mal. Se um monarca, então, estava excomungado, a sua própria autoridade poderia ser questionada, o que colocaria em risco o seu reinado. O imperador Henrique IV, da Alemanha, sabia tão bem disso que correu atrás do Papa Gregório VII para conseguir o perdão, depois que desafiou a autoridade papal na Questão das Investiduras, em que a Igreja e o império se enfrentaram a respeito das nomeações para cargos eclesiásticos. Consta que o imperador cumpriu penitências como enterrar os pés na neve durante três dias até que a excomunhão fosse revogada. Henrique acabou perdoado.

Em Cuba, Fidel Castro foi excomungado depois que instalou um governo comunista em seu país, em 1962. A notícia correu rapidamente entre os cubanos. "Houve uma grande parcela da população católica que todos os dias rezava para ver Fidel reconciliado com a Igreja", explica o professor do departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) André Chevitarese. "A excomunhão instaura dentro de um governo uma dúvida, um problema. Se Fidel não se importava, havia uma boa parte dos cubanos que estava indignada com a excomunhão", diz Chevitarese. Entre outras personalidades importantes excluídas da Igreja estão os monarcas da Inglaterra Henrique VIII e Elizabeth I, o imperador Napoleão Bonaparte e o ex-presidente argentino Juan Perón (veja os motivos nesta página).

Disciplina

Desafiar a doutrina da Igreja, questionar a autoridade papal e transgredir ou tentar alterar as normas do catolicismo são motivos que levam as pessoas à excomunhão. Para os pesquisadores, esta foi uma ferramenta há muito tempo usada pela Igreja Católica como símbolo de um poder que chegava a ser maior que o do Estado. "A Igreja precisa vigiar os desvios de seus fiéis e manter a disciplina estabelecida em Roma. Retirar do seu convívio as pessoas consideradas hereges era um ato bem pensado. Não era aplicado a qualquer anônimo, ficava reservado principalmente às pessoas que ocupavam postos de poder", afirma o professor de História Medieval da Universidade de Brasília (UnB) Celso Silva Fonseca. Martinho Lutero, por exemplo, foi excomungado porque defendia várias teses que eram contrárias à opinião da Igre­ja, principalmente com relação às indulgências. Ele era padre na cidade de Wittenberg, na Alemanha, e se tornou um pregador popular. "Lutero queria reformar a Igreja, questionava o porquê da necessidade de se pagar pelas indulgências. Suas ideias não foram aceitas e ele acabou excomungado", diz o professor da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) Paulo Wille Buss. Como ser excluído da Igreja significa não ter acesso a mais nada daquela sociedade, Lutero não conseguiu abrigo e alimentação com as famílias católicas: ficou exilado em um castelo da Alemanha por cerca de um ano porque perdeu também as proteções imperiais.

Doutrina

Atualmente, as excomunhões se referem a motivos muito mais de ordem moral do que política. Um dos pontos de doutrina que mais tem levado a declarações de excomunhão recentemente é a ordenação de mulheres. Em 1994, João Paulo II reafirmou a impossibilidade de mulheres chegarem ao sacerdócio, mas elas continuam promovendo cerimônias de "ordenação" – como a cantora irlandesa Sinéad O’Connor, no fim da década de 90. Houve casos semelhantes nos Estados Unidos em 2008 e 2007.

Em março deste ano, o arcebispo do Recife, dom José Cardoso Sobrinho, declarou que os responsáveis pelo aborto em uma menina de 9 anos que foi estuprada pelo padastro tinham sido excomungados. Segundo o Código de Direito Canônico (a lei da Igreja), as pessoas envolvidas em um aborto são automaticamente excomungadas, ou seja, não é necessária uma declaração formal. Outros motivos de excomunhão automática são profanação da Eucaristia, violação do segredo de confissão (por parte dos padres), destruição dos bens da igreja, consagração de bispos sem autorização papal e violência física contra o Papa.

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